Defesa de Robinho exibe dossiê contra vítima em julgamento na Itália

Condenado em 1º instância por estupro coletivo, ele tem recurso julgado nesta quinta

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Milão

Começou nesta quinta-feira (10) o julgamento na segunda instância da Justiça italiana do processo em que o atacante Robinho é acusado de ter participado de estupro coletivo em 2013, quando atuava pelo Milan.

O Tribunal de Apelação analisa o recurso apresentado pelos advogados de defesa do jogador, condenado em primeira instância a nove anos de prisão, em novembro de 2017. Como naquele julgamento, o brasileiro não esteve presente nesta quinta.

A audiência na Primeira Seção Penal começou pouco depois das 8h (de Brasília) e durou duas horas. Em seguida, a corte entrou em recesso e deve anunciar uma decisão ainda nesta quinta, após as 13h –se haverá sentença ou se será preciso aprofundar argumentos apresentados pela defesa e marcar nova sessão.

O colegiado é formado por três juízas: Chiara Nobili, Paola Di Lorenzo e Francesca Vitale, presidente da mesa.

No recurso, os advogados de Robinho, Alexander Guttieres e Franco Moretti, mantiveram a linha de que não há provas de que a relação não foi consensual. Em 65 páginas, foram apresentados resultados de quatro consultorias técnicas realizadas após a decisão de primeira instância.

Uma se concentrou em fazer um levantamento toxicológico, com a intenção de mostrar que não é possível provar que a vítima —uma mulher de origem albanesa que hoje tem 30 anos— estava em condições de "inferioridade física ou psíquica" na hora do crime, como sustentou o Ministério Público na investigação.

Outra questiona a exatidão das traduções das escutas telefônicas que foram incluídas no processo. Realizadas com autorização da Justiça italiana, elas mostram Robinho e amigos comentando sobre a noite em que o caso aconteceu. Em um dos trechos do parecer, está escrito que, pelas escutas, não é possível provar que houve relação sexual entre Robinho e a vítima, mas "somente" sexo oral com consentimento.

Na terceira consultoria, foi apresentado o conteúdo de um hard disk de Robinho, com imagens que supostamente o mostram com amigos no horário em que o crime teria ocorrido.

Por fim, segundo a Folha apurou, a defesa exibiu uma espécie de dossiê contra a vítima, com 42 imagens de suas próprias redes sociais, para tentar mostrar que ela tinha o costume de ingerir bebidas alcoólicas. Entre as fotos, cenas entre amigas, que não necessariamente mostram consumo de álcool.

Apesar de o julgamento ser público, a sessão aconteceu a portas fechadas, para cumprir os protocolos de prevenção à Covid-19. Os jornalistas foram impedidos de acompanhar a sessão dentro na sala, apesar de haver espaço suficiente para que fosse mantido o distanciamento físico entre todos.

Os primeiros a chegar ao Tribunal de Apelação foram os defensores de Robinho –além dos italianos, a brasileira Marisa Alija viajou do Brasil à Itália para acompanhar o caso. Em seguida, a vítima, com seu advogado, entrou na sala.

O procurador Cuno Tarfusser foi o primeiro a falar na audiência. Após fazer uma exposição do caso, pediu a manutenção da decisão de primeiro grau. Segundo ele, os fatos são "indiscutíveis", e a defesa, em vez de olhar o quadro geral da situação ocorrida naquela noite, está tentando desmerecer o processo.

Em seguida, o advogado da mulher fez uma breve participação e foi sucedido pelos defensores.

Depois de encerrado o julgamento na segunda instância, que pode manter a condenação do jogador, alterar a pena ou absolvê-lo, as partes podem ainda recorrer ao Supremo Tribunal de Cassação, terceira e última instância. Robinho só será considerado culpado ou absolvido após essa sentença definitiva.

Robinho com uniforme de treino do Santos
Robinho em treino no Santos; ele foi anunciado pelo clube em outubro, mas teve seu contrato suspenso - Ivan Storti - 14.out.20/Santos FC

O mesmo vale para o brasileiro Ricardo Falco, amigo do atacante, réu no mesmo processo. Ele também não esteve na audiência e foi representado pela defensora pública Federica Rocca.

Os advogados de defesa não quiseram dar declarações após o fim da audiência. O advogado da vítima, Jacopo Gnocchi, afirmou esperar que a sentença seja pronunciada ainda nesta quinta-feira. Presente na audiência, a vítima não precisou se manifestar e, ao fim, não quis dar declarações.

A condenação de Robinho na primeira instância da Justiça italiana, ocorrida em 2017, voltou à tona em outubro, depois que o Santos fechou contrato com o jogador até fevereiro de 2021. O acordo foi suspenso depois da divulgação do conteúdo de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça italiana, incluídas como provas no processo.

Nas conversas, reveladas pela Globo, Robinho e amigos fazem comentários jocosos sobre a vítima e deixam evidente que sabiam que ela estava inconsciente, em inferioridade "física ou psíquica", como diz o artigo 609 bis do código penal italiano, que determina prisão de 6 a 12 anos para quem comete violência sexual.

Em uma das falas mais explícitas, o atacante diz: "Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu".

Depois de críticas de torcedores e pressão de empresas patrocinadoras, o clube suspendeu o contrato seis dias depois do anúncio, para que o jogador pudesse se concentrar em sua defesa.

Robinho nega que tenha cometido o crime.

Segundo investigação do Ministério Público, o jogador, com Falco e outros quatro homens, participaram de violência sexual de grupo na noite de 22 de janeiro de 2013 em uma discoteca, em Milão. Por terem deixado a Itália durante a investigação, os quatro não puderam ser notificados, e o caso deles foi desmembrado do processo.

A acusação foi baseada no depoimento da vítima e nas conversas telefônicas interceptadas. O grupo teria embebedado a jovem, que ficou inconsciente e foi levada para o camarim do estabelecimento, onde teria sido violentada múltiplas vezes.

De acordo com uma das transcrições, Robinho foi avisado da investigação pelo músico Jairo Chagas, que tocou na boate naquela noite. “Olha, os caras estão na merda... Ainda bem que existe Deus, porque eu nem toquei aquela garota. Vi [nome de amigo] e os outros foderam ela, eles vão ter problemas, não eu... Lembro que os caras que pegaram ela foram [nome de amigo] e [nome de amigo] [...] Eram cinco em cima dela”, completou Robinho.

Numa outra conversa com o músico, este pergunta a Robinho se ele não transou com a mulher. O jogador nega, e Chagas diz: “Eu te vi quando colocava o pênis dentro da boca dela”. Robinho responde que “isso não significa transar”.

No seu depoimento à Justiça, a mulher afirma que não tinha condições de falar ou de ficar em pé naquela noite e aponta Robinho como um dos envolvidos na violência.

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