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Novo ano trará mudanças profundas na estrutura de negócios do futebol

Pulverização dos direitos de transmissão, novos conteúdos e TVs de clubes se destacam

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A estrutura de negócios em torno do futebol não será a mesma em 2021.

O ano que chega trará reflexos imediatos das graves rupturas de negócios que foram feitas durante 2020.

No Brasil, podemos apontar a pulverização dos direitos de transmissão de eventos esportivos como a principal delas, mas seguida por outras, das quais destacaria o aumento de conteúdos chamados “beyond the game” —ou seja, aqueles que transcendem a cobertura jornalísticas dos jogos, transformando-os em sagas, filmes e séries; uma nova fase na TV dos clubes; e o crescimento das sportstechs, as startups com foco em tecnologias aplicadas ao esporte.

Na disputa pelos direitos de transmissão, precisaremos acompanhar como vão evoluir as discussões após o grande impacto causado pela MP 984/2020, que criou a chamada “Lei do Mandante” e desorganizou o ordenamento jurídico do tema.

Se por um lado a MP caducou e sua vigência expirou em outubro, por outro, os efeitos dessa efêmera vigência serão sentidos por muitos anos.

A maioria dos clubes da Série A demonstra um alinhamento por mudanças no tema, porém a experiência de 2020 mostrou que a reforma necessária é muito mais ampla. Além disso, ao se mexer em um elo dessa cadeia, como o aspecto de quem é o detentor dos direitos, mexe-se em uma série de responsabilidades subsequentes até chegar ao consumidor.

Elas não foram contempladas na MP 984, mas várias foram discutidas em função dos problemas que os consumidores tiveram que enfrentar. O efeito objetivo no mercado é que a maior investidora, a Rede Globo, diminuiu sua participação em direitos, que foram renegociados com outros agentes. Estes não pagaram a mesma coisa que a antiga parceira, e os clubes terão um buraco para cobrir.

Câmera no estádio do Nacional (URU) antes de jogo pela Libertadores
Câmera no estádio do Nacional (URU) antes de jogo pela Libertadores - Ernesto Ryan - 17.dez.20/AFP

Aparentemente, a saída da Libertadores e da maioria dos estaduais não afetou os planos comerciais da emissora para 2021. Porém, a saída da Ambev da lista de anunciantes promete repercutir no mercado e demonstrar novos caminhos para as marcas, investindo cada vez mais em redes sociais e de comunicação instantânea.

Um grande investidor que passe a priorizar esses novos meios pode levar ainda mais nomes do mercado publicitário a relativizar a importância da TV, sobretudo em um momento em que ela cada vez mais cumpre apenas um papel informativo e não de envolvimento com a emoção do telespectador.

Vejamos como as novas gerações consagram o hábito de ver o jogo alternando olhar a tela da partida e as conversas com os grupos de amigos nas telas dos celulares. É lá que a emoção foi morar. E como é a emoção que move os impulsos de compra do esporte, é natural que o dinheiro dos investidores também comece a se mover.

Se por um lado 2020 foi um ano ruim para o mercado dos profissionais de comunicação, com várias empresas redesenhando suas estruturas, por outro houve uma sinalização do crescimento da demanda por conteúdos esportivos e envolvendo grandes ídolos, na esteira do sucesso mundial da série “The Last Dance”, parceria da ESPN com a Netflix.

Grandes nomes do esporte, inclusive brasileiro, começaram a se mover para levar suas histórias para as telas, bem como clubes começaram a reforçar suas produções audiovisuais como instrumento de negócio.

O Barcelona, que se não teve grandes resultados esportivos avançou muito nos últimos anos no negócio do entretenimento, redimensionou sua estrutura de conteúdos originais e com o “Barça Studio” já passa a gerar mais de 30 milhões de euros de faturamento anual, com conteúdos produzidos para diversas plataformas, entre elas a Netflix.

Os conteúdos além do jogo, ligados ao entretenimento, também estão bem cotados. No Brasil, a recente venda por R$ 60 milhões da empresa NWB para o grupo SBF, dono da Centauro, aponta a expansão desse mercado. Lá fora, o grupo alemão One Football adquiriu outro gigante desse setor, a Dugout, numa operação estimada em R$ 300 milhões.

Esse tipo de conteúdo também é uma tendência inevitável e, no Brasil, pode acabar se aproveitando da maior oferta de profissionais especializados no mercado devido às últimas demissões.

Neste contexto, as TVs dos clubes também podem ser um destino dessa produção crescente de conteúdos esportivos que veremos, atraindo patrocinadores e migrando para um modelo mais complexo de negócios.

Se hoje vemos a maior parte delas ofertando materiais no YouTube, de maneira gratuita, anuncia-se cada vez mais iniciativas como a Furacão Play, lançada pelo Athletico neste ano, para oferecer conteúdos originais ao seu torcedor. Sim, teremos que pagar por algo que era gratuito. É o preço do amadurecimento dos negócios.

Por fim, nessa esteira de novidades, as sportstechs vem se organizando mais e dando visibilidade a um novo setor de investimento. Em 2020 foi lançado o primeiro relatório sobre o setor no Brasil, tendo mapeado mais de 130 empresas em 2019, já presentes em mais de 35 cidades do país.

Nessa seara, vimos o Ceará desenvolver o programa Vozão Conecta, um projeto de inovação aberta e aceleradora com foco em esporte e entretenimento, na esteira do que já vinha acontecendo em outros clubes mundo afora e que deve ser cada vez mais rotineiro no Brasil.

As discussões sobre 5G, apostas esportivas e a revisão da Lei do Seac, que, entre outros temas, regula a possibilidade de empresas de telecomunicação atuarem na compra de direitos esportivos, também são importantes e podem interferir no único destino certo do esporte: ser cada dia mais digital e voltado para gerar dados dos torcedores para ações de venda dos diversos anunciantes que sustentam o jogo.

Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte, é sócio da 14, agência de conteúdo estratégico, e lançou em 2020 o livro e o curso "Inovação é o Novo Marketing"

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