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Alex Apolinário derrubou gigantes na Copinha e buscava sonhos em Portugal

Jogador brasileiro morreu aos 24 anos, após sofrer parada cardíaca em campo no domingo

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Marcus Alves
Lisboa

Quando o jogo apertava, Juninho Fonseca, ex-zagueiro da seleção brasileira, não pestanejava. Largava tudo na arquibancada, corria até o alambrado e soltava sempre o mesmo recado.

“Passa para o 10, passa para o 10”, repetia, aos berros.

Então diretor das categorias de base do Botafogo-SP em 2013, ele sabia que tinha “uma pedra preciosa”, como define, em mãos.

O meia Alex Apolinário com o prêmio de melhor em campo na final da Copa São Paulo de 2015 entre Botafogo-SP e  Corinthians
O meia Alex Apolinário com o prêmio de melhor em campo na final da Copa São Paulo de 2015 entre Botafogo-SP e Corinthians - Rogério Moroti/Ag. Botafogo/Divulgação

Recém-chegado da cidade de Luís Antônio, vizinha de Ribeirão Preto, Alex Apolinário carregava a camisa muitas vezes gritada por Juninho, mas não mostrava sentir qualquer pressão. Alto e dono de uma passada larga, o meia fazia de tudo um pouco no time: armava, assistia os colegas e ainda finalizava na frente.

O talento que levava funcionários do clube a compará-lo a antigos meias canhotos como Pita e Rivellino ficou escancarado para todo Brasil ver no início de 2015, durante a disputa da Copa São Paulo de Futebol Júnior.

Com Alex regendo a equipe, o Botafogo-SP fez uma campanha histórica e derrubou vários gigantes para fazer a final do torneio. Nas oitavas, bateu o Fluminense que tinha o centroavante Pedro, hoje no Flamengo.

Em seguida, nas quartas, foi a vez do Grêmio do volante Arthur, agora na Juventus, ficar pelo caminho. E por fim, nas semis, sobrou para o Palmeiras e o atacante Gabriel Jesus, atualmente no Manchester City. Somente o Corinthians conseguiu parar a sensação do interior na decisão.

A perna esquerda de Alex não era mais um segredo guardado. A despeito do vice-campeonato, o seu destino parecia selado: seguiria os passos do trio que despachou na Copinha e, em pouco tempo, estaria na Europa.

“Eu imaginava ele um clube top de Portugal, por exemplo”, conta Juninho. “Era um meia raro, forte, elegante, chegava na frente para decidir o jogo. É aquele tipo de jogador que a gente na base fica muito feliz porque foi trazido direto do futebol amador, sem qualquer formação anterior, e deu aquele clique que você, como atleta, sente: esse vai virar."

Alex virou, correu por gramados europeus nem tão badalados, mas, nesta quinta-feira (7), os sonhos que foram imaginados para ele se esvaíram.

O meia Alex Apolinário em ação pelo Botafogo-SP na final da Copa São Paulo de 2015 contra o Corinthians
O meia Alex Apolinário em ação pelo Botafogo-SP na final da Copa São Paulo de 2015 contra o Corinthians - Rogério Moroti/Ag. Botafogo/Divulgação

Com apenas 24 anos, o meio-campista morreu após sofrer uma parada cardiorrespiratória no domingo passado (3), em jogo entre o Alverca, seu clube, e o União de Almeirim, pela terceira divisão de Portugal.

Por volta dos 27 minutos do primeiro tempo, perto do círculo central do meio-campo, Alex caiu desacordado, sendo socorrido prontamente pela equipa médica dos dois times. Logo depois, foi conduzido de ambulância para o Hospital de Vila Franca de Xira, na grande Lisboa, onde ficou internado desde então. Ele teve a sua morte cerebral confirmada nesta quinta (7), pela manhã.

Pai precoce, ainda aos 17, o jogador deixa esposa e dois filhos. Em sua homenagem, o Alverca decidiu aposentar a camisa 99 que utilizava e sinalizou que irá honrar integralmente com as obrigações contratuais que tinha com ele para apoiar a sua família. O corpo será levado ao Brasil para o funeral.

Na última noite, na porta do estádio, havia um pequeno memorial com uma faixa que dizia “eterno Alex”, flores e velas.

Alex Apolinário em imagem de divulgação do FC Alverca
Alex Apolinário em imagem de divulgação do FC Alverca - Divulgação

O percurso do meia cumpriu o roteiro de muitas promessas que despontam ainda novas. Depois de se destacar pelo Botafogo-SP, ele foi contratado pelo Cruzeiro. Em Belo Horizonte, chegou a fazer 17 partidas como profissional e integrar o grupo que venceu a Copa do Brasil em 2017, mas sem conseguir se firmar.

Repassado por empréstimo, foi parar no Athletico após ter tudo fechado com o Londrina, vestir o uniforme da equipe e participar até de jogo-treino.

A dificuldade em confirmar o potencial que apresentou durante a Copinha de 2015, ainda assim, era notória.

“Eu achava que, pela qualidade do Alex, o físico impecável, a sua carreira poderia ter sido muito maior”, afirma Macalé, responsável por descobri-lo num torneio amador em Luís Antônio. “O seu grande problema é que ele era muito introvertido. Acredito que isso impediu que tivesse um processo mais natural até o topo. Faltou alguém ao seu lado para fazer esse aspecto desabrochar, porque o talento era evidente”, acrescenta.

Sem conseguir jogar com regularidade, Alex se transferiu para o Alverca, tradicional time português que tenta se reerguer após a entrada recente de investidores brasileiros.

Com o antigo diretor da base do Cruzeiro, Bruno Vicintin, na linha de frente, o clube ainda tem o ex-goleiro Artur Moraes como vice-presidente. A meta é voltar a projetar jogadores como no passado: Deco, Maniche e Ricardo Carvalho passaram por suas fileiras.

Alex poderia ter sido o próximo. Na temporada passada, ele viveu seu momento de maior protagonismo, quando marcou um dos gols e liderou a equipe na vitória 2 a 0, dentro de casa, que eliminou o Sporting da Taça de Portugal.

O meia que era impulsionado pelos gritos que vinham da arquibancada se despediu dos campos em silêncio e num triste vazio ao seu redor.

Atletas e membros das comissões técnicas de Alverca e Almeirim fizeram um círculo de oração pelo brasileiro Alex Apolinário
Atletas e membros das comissões técnicas de Alverca e Almeirim fizeram um círculo de oração pelo brasileiro Alex Apolinário - FC Alverca Futebol SAD no Facebook
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