Descrição de chapéu Copa Libertadores 2020

Cobrança de Riquelme reacendeu protagonismo de Tevez no Boca Juniors

Hoje vice-presidente, Román teve papel decisivo para recuperar futebol do atacante

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São Paulo

Juan Román Riquelme havia acabado de chegar ao Villarreal em outubro de 2003, após uma temporada frustrada com a camisa do Barcelona. Em visita à redação do Diário As, da Espanha, o então meio-campista participou de uma entrevista virtual com leitores.

"Román, depois de você, quem é o maior hoje na Argentina?", questionou um internauta. "Há muitos bons jogadores na Argentina, mas Tevez está acima dos demais", respondeu Riquelme sobre Carlitos, que meses antes havia sido o protagonista do título do Boca Juniors na Libertadores.

As palavras elogiosas eram um afago ao jovem atacante, seu sucessor como emblema boquense.

Bicampeão da Libertadores no início do século, Riquelme deixou o Boca em 2002. Sua saída abriu espaço para um maior protagonismo do jovem Carlos Tevez, que levou o clube ao título continental em 2003, sobre o Santos, adversário pela semifinal na atual edição.

Foi de Carlitos, o "Apache" (referência ao bairro onde nasceu, Forte Apache, em Buenos Aires), um dos gols da vitória por 3 a 1 contra os santistas, na decisão disputada no Morumbi, que garantiu aos argentinos a conquista da taça naquele ano. A equipe do bairro de La Boca ainda seria campeã em 2007, seu último título no torneio, dessa vez com Riquelme de volta ao time enquanto Tevez iniciava sua carreira na Europa.

A história do Boca nos últimos 20 anos passa em boa parte pelas figuras desses dois ídolos. E continua a ser escrita pela dupla atualmente, com o clube sonhando mais uma vez em alcançar o topo da América.

Em 2018, Tevez retornou ao Boca Juniors para sua terceira passagem com a camisa da equipe. O retorno à Bombonera ocorreu depois de uma temporada apagada no futebol chinês. Mais veterano e fisicamente atrasado com relação aos colegas, dava demonstrações claras de declínio.

Na histórica final da Libertadores diante do River Plate, em Madri, o atacante só entrou em campo aos 6 minutos do segundo tempo da prorrogação. E somente depois de o técnico Guillermo Barros Schelotto gastar as três primeiras alterações –a Fifa permite uma substituição extra em jogos com prorrogações.

O River venceu o rival por 3 a 1 e conquistou o título continental no Santiago Bernabéu. Tevez, que tinha relação conflituosa com Schelotto, melhorou o nível de suas atuações sob o comando de Gustavo Alfaro no ano seguinte, mas distantes da expectativa que se tinha sobre o ídolo.

Com a frustração da derrota em Madri ainda latente, o clube sofreu uma transformação política na virada de 2019 para 2020. Daniel Angelici, de baixíssima popularidade entre os torcedores, foi sucedido na presidência pelo opositor Jorge Ameal, que nomeou Juan Román Riquelme como vice-presidente.

O estalo surgiu de uma ligação que Riquelme fez para Tevez. O ex-jogador, agora na condição de dirigente, queria espremer do atacante as últimas gotas de futebol que o Apache teria para oferecer. Funcionou.

Com Miguel Ángel Russo –técnico campeão da Libertadores de 2007– no comando do time, Carlitos mostrou sua melhor versão desde a volta ao Boca, coroada com o gol no jogo que decidiu o título da Superliga em março do ano passado, contra o Gimnasia y Esgrima treinado por Diego Maradona.

"Voltei a ter fome de glória. Román me ajudou muito a recuperar esse Carlitos", disse Tevez após a vitória por 1 a 0, que teve selinho em Maradona antes de a bola rolar e Riquelme assistindo à partida em um camarote. "A noite dos 10", escreveu o cronista Ezequiel Fernández Moores, em referência a santíssima trindade que se encontrou naquela noite na Bombonera.

"Minha interpretação é que faltava a ele recuperar a faísca. Tevez estava bem, mas apagado. E creio que a chamada telefônica que ele teve com Riquelme há um ano o reativou. Román colocou para ele objetivos importantes e o puseram em um papel de protagonismo", analisa Pablo Lisotto, que cobre o Boca para o diário argentino La Nación, à Folha.

Aos 36 anos, Tevez já não é mais o mesmo de 2003. Ou o mesmo de 2005, que atuando pelo Corinthians enlouqueceu a defesa santista na histórica goleada por 7 a 1 no Pacaembu, pelo Campeonato Brasileiro.

Carlitos celebra um de seus três gols na goleada sobre o Santos, em 2005, pelo Campeonato Brasileiro
Carlitos celebra um de seus três gols na goleada sobre o Santos, em 2005, pelo Campeonato Brasileiro - Antônio Gaudério - 6.nov.2005/Folhapress

Falta ao Carlitos de hoje a explosão de outrora, o que ele compensa com inteligência, além de ser mais determinante para o jogo coletivo da equipe na criação das jogadas. Como mostrou no clássico com o River Plate, no último fim de semana, que terminou empatado em 2 a 2.

O Boca perdia por 2 a 1 com um jogador a menos quando Tevez recebeu na intermediária e arrancou em direção ao gol. Depois de superar Robert Rojas com um giro, ele atraiu a atenção de Montiel, que deu um passo em sua direção, abrindo o corredor para o colombiano Villa, que recebeu do camisa 10 para empatar.

"Tevez se sente uma peça importante dentro da equipe e do grupo. E está mentalizado em deixar tudo em busca de seu último grande sonho, que é voltar a ganhar a Libertadores", diz Lisotto, que acompanhou de perto o renascimento do Apache no Boca. Com 11 gols, ele é o artilheiro do time na temporada empatado com Eduardo Salvio.

"Ali, contra o River, há um erro do rival, já que dois homens vão marcar Carlitos e deixam Villa sozinho. Isso é mérito de Tevez e se ganha com o passar dos anos: se chama respeito."

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