Descrição de chapéu Copa Libertadores 2020

Formação precoce preparou Gustavo Gómez para ser o líder do Palmeiras

Zagueiro paraguaio se acostumou a assumir responsabilidades desde cedo na carreira

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São Paulo

Com 14 anos, ele já defendia a seleção paraguaia sub-17. Um ano depois, atuava pela equipe nacional sub-20. Não é de se estranhar, portanto, que Gustavo Gómez tenha assumido há algum tempo o posto de líder do Palmeiras que busca o bicampeonato da Copa Libertadores.

Com Felipe Melo ausente por lesão, o zagueiro de 27 anos deverá carregar a braçadeira de capitão na decisão continental do próximo dia 30, contra o Santos, no Maracanã.

Erguer a taça de campeão da América seria a culminação de um processo iniciado de forma precoce na carreira do defensor, que desde cedo mostrou fácil adaptação aos ambientes e correspondeu aos conselhos de quem o formou.

Natural de San Juan Bautista, Gustavo Gómez iniciou como volante no 31 de Julio, clube de sua cidade, que fica a 200 quilômetros da capital, Assunção. Foi no modesto time que ele passou a ganhar experiência com seleções de base.

Em 2009, disputou o Sul-Americano sub-17 no Chile. Em 2010, com 17 anos recém-completados, não só deu o salto ao elenco sub-20 como foi levado pela federação para servir de sparring da seleção principal na Copa do Mundo da África do Sul. Durante o Mundial, ouviu sugestão do técnico Tata Martino para atuar na zaga, pois tinha boa impulsão e tempo de bola nos cruzamentos.

Dirigentes do Libertad ficaram surpresos com o fato de que havia, entre os sparrings da Copa, um jogador pertencente a um clube do interior do Paraguai. Indicado por Carlos Guirland, campeão da Libertadores com o Olimpia em 1990 e formador de atletas, Gómez assinou com o time de Assunção.

Pedro Sarabia, zagueiro paraguaio que disputou as Copas do Mundo de 1998 e 2002, já estava no fim da carreira quando conheceu Gustavo Gómez. O experiente defensor era uma das referências no time do Libertad que se sagrou campeão em 2012. Gómez ainda dava os primeiros passos no profissional.

No ano seguinte, após pendurar as chuteiras, Sarabia assumiu como técnico da equipe e levou o clube às conquistas do Clausura e do Apertura em 2014. Sua aposentadoria abriu espaço para o protagonismo do substituto, que se firmou como pilar do time.

"[Gómez] Tinha uma personalidade muito boa, que o levava a ser líder em todas as categorias. Foi muito fácil para ele agarrar essa responsabilidade no Libertad", diz Sarabia à Folha. "Precisava administrar suas emoções, não fazer faltas desnecessárias, jogar com o corpo perfilado. E foi mostrando isso com o tempo. É a maior referência da defesa do Paraguai hoje, um orgulho que ele esteja usando a faixa de capitão na seleção."

Semifinalista da Copa Sul-Americana de 2013, Gustavo Gómez chamou a atenção do Lanús, da Argentina, que eliminou os paraguaios naquele torneio antes de se consagrar campeão.

Assistente técnico e irmão gêmeo de Guillermo Barros Schelotto, treinador do Lanús, Gustavo Schelotto havia trabalhado no Libertad anos antes e acompanhou a evolução do zagueiro desde as categorias de base. Para 2014, ele recomendou a sua contratação.

O reforço chegou ao Lanús no segundo semestre, depois de conquistar o Apertura com o Libertad.

Nicolás Russo, presidente do clube argentino, conta que recebeu uma proposta do Sporting, de Portugal, mas foi convencido de que era preciso segurar o jogador.

"Era uma boa proposta para ele financeiramente. Havíamos contratado Jorge Almirón de técnico, falei com ele e com outros dirigentes e Almirón me disse que necessitávamos dele para sermos campeões argentinos. Gómez renunciou ao dinheiro e ficou no clube", conta Russo à Folha. "Esse era um time que jogava muito bem, me lembrava a Holanda de 1974. Às vezes, por atacar tanto, ficava muito exposto, e ele solucionava tudo."

Exageros à parte, o Lanús foi o melhor time do país e terminou como campeão nacional em 2016. A impressão do técnico Jorge Almirón de que Gustavo Gómez era imprescindível se confirmou com a conquista da taça, o segundo título local da história do Lanús.

"Gustavo Gómez não parece ter 23 anos", escreveu a tradicional revista El Gráfico, em um perfil do zagueiro paraguaio publicado naquele ano.

Os irmãos Schelotto, que haviam assumido o comando do Boca Juniors, tentaram levar o defensor para o clube, mas a negociação foi quebrada na última hora, com trocas de acusações entre as diretorias.

O Lanús, dono de 50% dos direitos econômicos de Gómez, vendeu o jogador ao Milan por cerca de 8,5 milhões de euros em 2017. Na Itália, o paraguaio passou a maior parte do tempo na reserva e atuou pouco, fazendo com que os italianos considerassem a possibilidade de emprestá-lo.

Em 2018, o Boca, ainda com Schelotto, tentou novamente a contratação do zagueiro, mas Gómez optou por fechar com o Palmeiras. Por isso, quando voltou à Bombonera naquele ano para a semifinal da Copa Libertadores, já como atleta palmeirense, foi vaiado durante os 90 minutos e chamado de "traidor" pelos argentinos.

Semanas antes de concretizar a chegada do defensor, o Palmeiras consultou um ídolo do clube que tinha voz autorizada para falar sobre Gustavo Gómez.

"Pode assinar", afirmou Francisco Arce, campeão da Libertadores de 1999 pelo Palmeiras e ex-técnico do zagueiro na seleção paraguaia.

Além do título com a equipe alviverde, Arce também havia sido campeão da América em 1995 com o Grêmio. Em ambas as ocasiões, o técnico era Luiz Felipe Scolari, de volta ao Palmeiras para sua segunda passagem no Palestra Itália.

Conhecedor da facilidade de adaptação dos paraguaios, Felipão encaixou Gómez rapidamente no time. Sob comando do treinador, o elenco conquistou o Campeonato Brasileiro de 2018 com a melhor defesa da competição: 26 gols sofridos em 38 jogos.

"O jogador paraguaio é muito nobre, muito responsável e muito dedicado. Esse contágio é transferido para os companheiros. E o Gustavo, em cada partida, em cada bola que divide, ele deixa a vida", completa Pedro Sarabia.

Em pouco mais de dois anos no Palmeiras, o zagueiro conquistou a admiração do torcedor, que reconhece a imagem de seu zagueiro nas palavras de Sarabia.

Gustavo Gómez é a solidez na qual se apoia a equipe alviverde para a conquista da Copa Libertadores, no próximo dia 30, no Maracanã. O paraguaio, durante toda a sua vida, foi preparado para isso.

Gustavo Gómez, 27
Nascido em San Juan Bautista em 6 de maio de 1993, iniciou a carreira profissional no Libertad. Campeão paraguaio pelo clube, foi também campeão argentino, com o Lanús, e brasileiro, pelo Palmeiras. Teve passagem apagada pelo Milan. Capitão da seleção paraguaia, disputou as Copas América de 2016 e 2019

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