Descrição de chapéu Copa Libertadores 2020

Palmeiras marca no final, bate Santos e é bicampeão da Libertadores

No Maracanã, equipe alviverde vence duelo paulista com gol de Breno Lopes aos 53 minutos

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Rio de Janeiro

Do momento em que a bola saiu da cabeça de Breno Lopes e encontrou o fundo do gol, uma eternidade de duas décadas sem conquistar a Copa Libertadores passou na frente dos olhos do torcedor palmeirense. Assim que ela beijou a rede do Maracanã, já não era mais preciso esperar.

Com gol de seu improvável herói aos 53 minutos do segundo tempo, o Palmeiras venceu o Santos por 1 a 0 neste sábado (30), no Rio de Janeiro, e conquistou o bicampeonato continental.

Breno foi o protagonista inesperado de um torneio extraordinário. Para os livros de história, essa competição será eternizada como a mais singular de todas as Libertadores. Marcada pela pandemia e suas dificuldades, que infectou jogadores e tirou torcedores dos estádios.

Apesar da privação que o vírus causou aos milhões de alviverdes, que não puderam estar no Allianz Parque ao longo dessa trajetória, qual o torcedor do Palmeiras que esquecerá do dia em que o clube levantou a sua segunda taça de campeão da América?

No campo e na bola, um prêmio à melhor campanha da competição e a coroação perfeita de um trabalho que começou com Vanderlei Luxemburgo, responsável pelo melhor desempenho do torneio na fase de grupos, e que foi complementado pelo português Abel Ferreira, que repete Jorge Jesus e faz do futebol da América do Sul um pouco mais lusitano.

Havia muita expectativa para a primeira final paulista da história da Libertadores do ponto de vista técnico. Ela definitivamente não foi correspondida, também prejudicada pelo fato de que os atletas iniciaram a partida sob um calor de 33ºC no Rio de Janeiro.

O resultado foi bem diferente da intensidade apresentada pelas duas equipes ao longo de toda a Libertadores, quando seus jogos foram quase todos disputados à noite.

Minutos depois do apito inicial do árbitro argentino Patricio Loustau, via-se que o ritmo do confronto seria cadenciado. Isso, contudo, não diminui a tensão inerente a um clássico paulista, quase sempre mais friccionado do que tecnicamente vistoso. Duelo de Campeonato Paulista, mas transferido para o verão carioca, no Maracanã.

Nos primeiros 45 minutos, a estratégia de ambos foi a busca por recuperar a bola na intermediária defensiva ou no meio do campo e, com dois ou três toques, tentar chegar próximo do gol adversário. Um jogo mais direto, agilidade para decidir e marcar o que poderia ser o gol de um título continental em uma partida que não entregaria tantas oportunidades.

Santistas e palmeirenses preferiam guardar o combustível para uma eventual estocada. Se o lançamento era longo demais, os jogadores abriam mão de perseguir a bola até a linha de fundo.

A análise sobre o futebol apresentado, porém, diz pouco ao torcedor. Sua relação com o futebol é passional, e sua paixão é o clube. Pouco importa que o jogo tenha sido tecnicamente ruim.

É um exercício que exige boa memória tentar lembrar de uma final de campeonato que tenha enchido os olhos do espectador.

Importava, ao palmeirense, que seu time conquistasse o bicampeonato da América no jogo mais importante do Palmeiras neste século, após uma espera de 20 anos para voltar a uma final de Copa Libertadores.

Transformar em realidade e glória a obsessão, cantada (quando havia essa possibilidade) nas arquibancadas do Allianz Parque durante as últimas duas décadas.

Jogadores do Palmeiras comemoram gol de Breno Lopes
Jogadores do Palmeiras comemoram gol de Breno Lopes - Ricardo Moraes/Pool via Reuters

Aos santistas valia, além do tetracampeonato e a liderança como brasileiro com mais títulos no torneio, o reencontro sentimental com as gerações de alvinegros mais velhos que viram o clube da Vila Belmiro transformar o Maracanã em sua casa.

Enfim os mais jovens teriam a sensação do que viram e viveram seus avós e seus pais, testemunhas da época mais gloriosa do Santos, que celebrou no Maracanã um título mundial, além do milésimo gol de Pelé.

Alguns desses torcedores tiveram o privilégio de acompanhar a história desta final do lado de dentro do Maracanã. A convite dos clubes e autorizados pela Conmebol, se aglomeraram, às vezes sem máscara, e cantaram músicas de incentivo numa busca por tentar diminuir o vazio que virou o futebol na pandemia.

Ainda que esses cânticos tenham substituído o silêncio, em vários momentos proporcionaram apenas um espetáculo melancólico nas arquibancadas do Maracanã, em um país onde mais de 222 mil pessoas já morreram vítimas da Covid-19.

Construído em 1950, o estádio foi pensado para incluir todos, desde os mais pobres até os mais ricos. Todas as classes estavam representadas nas mais de 200 mil pessoas que viram o Uruguai vencer o Brasil e conquistar o bicampeonato mundial.

Nos últimos anos, repaginado para receber grandes eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada, se tornou um ponto de encontro para poucos, como neste sábado.

Para os protagonistas do que acontecia no campo, ser campeão poderia marcar a coroação das excelentes campanhas exibidas nesta Libertadores e também o triunfo de grandes histórias individuais, biografias muitas vezes sofridas e difíceis, que preparam esses profissionais para o acontecimento que os torna eternos.

Coube a Breno Lopes, herói improvável, o gol que o levará à eternidade. O responsável pela maior glória do Palmeiras desde que o clube palestrino foi campeão da América pela última vez.

O atacante mineiro entrou quieto e, logo após Cuca ser expulso por retardar o jogo na lateral em confusão com Marcos Rocha, cabeceou firme para as redes o cruzamento que veio da direita, de Rony, o líder palmeirense em assistências nesta Libertadores, com oito passes para gol.

Breno teve infância difícil em Minas Gerais e perdeu, no caminho da vida, alguns amigos para o tráfico. O futebol lhe deu a oportunidade, como a muitos brasileiros, de ascensão. Uma ascensão lenta, da caminhada ao estrelato que pouquíssimos têm a chance de viver.

Há pouco menos de dois meses, o atacante disputava a Série B do Campeonato Brasileiro com o Juventude. Neste sábado, entrou para a história do Palmeiras, da Libertadores, do futebol.

Com o gol de Breno Lopes, veio a explosão dos poucos palmeirenses que estiveram no Maracanã, e dos muitos espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Um gol que deve ter sido celebrado também em Portugal, acarinhado pelo Palmeiras de Abel Ferreira, campeão pela primeira vez na carreira, e logo de uma taça continental.

O treinador, que chegou em novembro e transformou o time em uma máquina de competir, falava na véspera sobre como o palco deste sábado tinha um significado especial na sua vida, pelo fato de decidir o jogo mais importante de sua trajetória onde tantas glórias foram escritas. Significado que se estende aos jogadores e ao torcedor palestrino.

A taça da Copa Libertadores ganha mais uma plaquinha na sua base de madeira, e ela é alviverde.

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