Tom Brady mudou quase tudo para voltar ao Super Bowl aos 43

Quarterback leva Tampa Bay Buccaneers a inédita decisão da NFL em seu estádio

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Ben Shpigel
The New York Times

Tom Brady mudou de treinador. Mudou de conferência. Mudou de cidade. Mudou de clima. Em uma pré-temporada que varreu a liga como um tornado, ele também comemorou mais um aniversário. Em agosto, completou 43 anos.

Nessa idade, jogadores da NFL em geral estão se dedicando ao golfe, reconstruindo sua vida familiar ou iniciando empreitadas de negócios.

O que eles não costumam estar fazendo é jogar na NFL. Não optam por assinar contratos com times perpetuamente derrotados nem planejam vencer três partidas consecutivas de playoffs jogando fora de casa.

E não jogam Super Bowls como quarterbacks. Exceto quando o fazem.

Depois que seu Tampa Bay Buccaneers escapou do Lambeau Field com uma vitória por 31 a 26 no domingo (24) sobre o Green Bay Packers, só resta um jogo nessa curiosa e distorcida temporada de futebol americano, e Brady estará nele. É claro que estará. Não só isso, mas a partida será disputada na casa de seu time, em 7 de fevereiro, contra o Kansas City Chiefs.

Ele assinou com os Buccaneers em março, deixando para trás a mais bem sucedida organização da NFL na era moderna e trocando-a por um time no extremo oposto da escala, movido tanto pelo desejo de mudar quanto pelo desafio.

O desafio era o seguinte: será que, distante dos Patriots e do treinador Bill Bellichick, ele seria capaz de aprender a jogar com novos companheiros, se enquadrar a um novo sistema ofensivo, se aclimatar a uma nova região e produzir em nível de elite –o nível que ele sempre exigiu de si mesmo?

Ao desafiar o processo de envelhecimento, Brady chegou ao seu 10º Super Bowl. Ele deu novo ímpeto a um time que, até sua chegada, havia vencido um total de jogos de playoffs (seis) em 44 temporadas que era igual ao número de títulos de Brady no Super Bowl, e ao mesmo produziu a mais espantosa temporada de sua carreira em termos estatísticos.

Só Patrick Mahomes e Deshaun Watson acumularam mais jardas de passes que Brady, e só Aaron Rodgers, do Green Bay Packers, passou para mais touchdowns.

“Eu não penso no que isso significa para mim”, disse Brady depois do jogo de domingo. “Penso no que significa para todo mundo mais."

Mesmo assim, Brady em algum nível deve compreender a magnitude da sua realização.

Tom Brady acena e sorri
Tom Brady após vitória do Tampa Bay Buccaneers sobre o Green Bay Packers - Stacy Revere - 24.jan.21/AFP

Ele deve estar ciente de que, até os playoffs deste ano, jamais tinha percorrido o caminho mais longo para chegar ao Super Bowl, com seu time classificado como “wild card” e iniciando sua jornada na pós-temporada jogando fora de casa, onde, nos nove playoffs anteriores em que conduziu seu time ao Super Bowl, ele tinha jogado apenas três vezes.

Ele deve ter ideia de que, mesmo em uma pré-temporada que não permitiu que os times se concentrassem e na qual os jogos preparatórios foram cancelados devido à pandemia, ele ainda assim conseguiu transformar uma equipe que não tinha vencido um jogo de playoffs desde sua vitória no Super Bowl de 2002 –e que havia terminado em último na divisão NFC Sul em 7 das últimas 9 temporadas –e levá-la a três vitórias de playoff consecutivas, todas contra equipes que foram campeãs de suas divisões.

Ele deve se recordar da decepcionante temporada que teve em 2019 nos Patriots, solapado por um elenco de apoio cada vez mais fraco, e agora de registrar em média 333,3 jardas em passes por jogo nos quatro últimos jogos da temporada regular de 2020, com 12 touchdowns e apenas uma interceptação.

E deve ter consciência da volta por cima que conseguiu, de lançar uma interceptação em sua última jogada pelos Patriots, no ano passado, a ajudar os Buccaneers a se tornarem o primeiro time que vai jogar uma partida de Super Bowl em casa.

“É difícil imaginar isso como objetivo, mas ao mesmo tempo estamos em uma liga que muda de semana a semana”, disse Brady, que vai se tornar o quarto quarterback na história a disputar Super Bowls como titular por times diferentes, se unindo a Peyton Manning, Kurt Warner e Craig Morton.

“Sete jogos atrás, tínhamos sete vitórias e cinco derrotas e não estávamos nos sentindo bem. A impressão de todos era a de que tínhamos de encontrar nosso ritmo. Jogamos quatro ótimas partidas no trecho final da temporada regular. E depois disso, tudo era lucro. Só tínhamos de entrar em campo e jogar bem”.

Como time, os Buccaneers jogarem bem no domingo, e o esforço abrangente da equipe validou a decisão de Brady de assinar com o Tampa Bay. Ele viu uma equipe com recebedores talentosos, uma defesa jovem em ascensão e um grupo de treinadores de ataque determinado a extrair o máximo de suas temporadas finais no esporte.

Em lugar de passar para N’Keal Harry e Phillip Dorsett, Brady nesta temporada disparou bolas para Chris Godwin e Mike Evans, e também para Antonio Brown, que o Tampa Bay contratou em outubro.

O jogo do domingo no começo parecia estar seguindo o roteiro do encontro entre as duas equipes na semana seis da temporada regular, quando os defensores do Tampa Bay conseguiram cinco sacks contra Rodgers e forçaram duas entregas de bola do time adversário, conduzindo os Buccaneers a uma vitória tranquila por 38 a 10.

Mas depois disso Brady, tendo acertado o passe para o terceiro de seus três touchdowns, terminou interceptado em três campanhas consecutivas, todas no segundo tempo, enquanto o Green Bay batalhava para recuperar uma desvantagem de 18 pontos.

Com a força de uma defesa que conseguiu cinco sacks contra Rodgers e que por duas vezes impediu o ataque dos Packers, o melhor da liga na red zone, de marcar touchdowns em campanhas iniciadas a menos de 10 jardas da end zone, o Tampa Bay permitiu ao adversário apenas seis pontos nas bolas perdidas por Brady.

Quando Brady assinou com os Buccaneers, Rodgers já presumia que eles se encontrariam nos playoffs, como se isso estivesse escrito.

Brady deixou a Conferência Americana em um momento crucial da evolução dos quarterbacks da NFL, com Patrick Mahomes, Josh Allen e Lamar Jackson parecendo destinados a dominar a conferência. Ele se transferiu para a Conferência Nacional, dominada por dois astros já bem experientes, Drew Brees e Rodgers, e Brady, mais velho do que ambos, derrotou os dois nos playoffs. Depois de apenas uma temporada na conferência, Brady já tem um número de títulos da NFC igual ao de Rodgers e Brees.

Com exceção de sua primeira partida, todas as demais ocasiões em que Brady chegou ao Super Bowl com o New England Patriots –ou seja, nas oito vezes seguintes—, ele o fez como integrante de uma dinastia. Em 18 temporadas como titular do Patriots, disputou 13 finais de conferência. Os Buccaneers não têm esse lustro. Ou pelo menos não tinha.

“Ele é provavelmente o principal motivo para que estejamos onde estamos”, disse o recebedor Scotty Miller.

Agora os Buccaneers chegaram ao Super Bowl, um destino exótico para o time, mas completamente conhecido para o homem que provavelmente já estaria aposentado, a esta altura, se ele não fosse Tom Brady.

Tradução de Paulo Migliacci

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