Veja seis perguntas que serão respondidas pelos playoffs da NFL

Confrontos decisivos do futebol americano começam neste sábado (9)

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Ben Shpigel Benjamin Hoffman
The New York Times

Para jogar futebol americano em meio a uma pandemia, os atletas da NFL trabalharam muito em casa. Passaram por testes diários de coronavírus. E, ao se apresentarem nos centros de treinamento de seus times, tiveram de usar máscaras.

Foi uma temporada esquisita. E as probabilidades são de que se torne ainda mais esquisita.

Os playoffs começam no sábado e, em grau ainda maior que o do passado recente, pessoa alguma sabe como eles vão se desenrolar. Com um elenco expandido para 14 times, duas rodadas triplas no final de semana podem agravar ainda mais a loucura, e ainda estamos a quatro semanas e meia do Super Bowl (se tudo der certo).

Abaixo, tentamos desemaranhar o caos e fazer as perguntas que vão definir a pós-temporada que se inicia. E tentamos até respondê-las.

Existe uma parceria melhor entre quarterback e wide receiver do que a de Aaron Rodgers e Davante Adams?

Não. Será que devemos nos estender a respeito?

Depois que o Green Bay selecionou seu potencial sucessor no draft, Rodgers vem se dedicando a provar seu valor, com ajuda de celebrações regadas a tequila, e está à beira de seu terceiro prêmio como MVP [jogador mais valioso da temporada].

Sua principal arma vem sendo passes repetidos para Adams, que fechou a temporada regular com 115 recepções e 1.374 jardas, além de 18 touchdowns, e recebeu praticamente todas as bolas que passaram perto dele: 115 dos 116 passes considerados recebíveis pela Pro Footbal Focus, o que faz dele um dos dois melhores recebedores da NFL.

Em termos gerais, a colocação perfeita dos passes de Rodgers, e a aptidão de Adams como líder entre os recebedores o ajudaram ganhar 592 jardas depois da recepção, o maior total entre os jogadores de sua posição.

Mas a parceria entre os dois prospera mesmo na “red zone”, o caótico espaço entre a linha de 20 jardas e a end zone do adversário, onde as rotas para passes ficam bem cobertas e a confiança entre quarterback e recebedor é mais importante. Lá, Adams, a despeito de ter ficado fora do time por dois jogos em função de uma lesão, recebeu 23 passes e marcou 14 touchdowns, os maiores totais da NFL nessa categoria.

Assim, muito amor a Josh Allen e Steffon Diggs, cuja fusão mental transformou o ataque do Buffalo Bills, e para Patrick Mahomes e Tyreek Hill, que arruinaram as defesas adversárias perto da end zone, como vêm fazendo habitualmente no Kansas City Chiefs. Mas a telepatia entre Rodgers e Adams, cultivada em sete anos de companheirismo em campo, resultou em uma temporada que merecerá recordação –e, esperam os dois, em uma pós-temporada que nenhum dos dois vai querer esquecer.

Jogadores de uniforme verde e amarelo e capacete amarelo conversam com os rostos próximos em campo coberto por neve
Entrosamento de Aaron Rodgers (à dir.) e Davante Adams é a grande arma do Green Bay Packers - Dylan Buell - 27.dez.20/AFP

Que time da AFC tem a melhor chance de derrotar os Chiefs?

O Kansas City Chiefs (com 14 vitórias e duas derrotas) vem sendo o metrônomo da NFL nas temporadas recentes –marcando pontos, vencendo e deslumbrando sempre. Mas um recente distúrbio na força reduziu ligeiramente o brilho do time.

Lutando para sepultar os oponentes como fez na disparada que registrou em dezembro de 2019, o Kansas City –antes de o seu time reserva perder para o Los Angeles Rams na última rodada– tinha vencido sete jogos consecutivos por diferença de seis pontos ou menos.

Isso não significa que alguém deva subestimar o treinador Andy Reid e Mahomes. Mas a AFC continua repleta de times com a capacidade de assustar o Kansas City, e o grupo é puxado por um rival que não ganha um jogo de playoff desde a temporada de 1995, o que aconteceu cerca de quatro meses antes que seu atual quarterback nascesse: o Buffalo Bills.

Allen, 24, aprendeu a controlar seus instintos mais festivos e se tornou o primeiro quarterback a registrar pelo menos 4.500 mil jardas de passes, 35 passes para touchdown e cinco touchdowns de corrida em uma só temporada.

Allen com certeza é o jogador que mais avançou na NFL e liderou os Bills em 9 vitórias nos 10 últimos jogos da equipe —a única derrota veio por conta de um passe desesperado lançado para um recebedor cercado por três defensores, no Arizona.

Os Bills, cabeça de chave número dois na AFC, estão entre os líderes da NFL em roubos de bola. Nenhum outro time marcou mais pontos ou teve maior diferencial sobre o adversário, nas seis vitórias consecutivas com que os Bills encerraram a temporada regular, mantendo uma margem de vitória média de 19,8 pontos, de acordo com a Pro Football Reference.

Os Chiefs venceram Buffalo no começo da temporada. Mas será que conseguiria fazê-lo de novo? Os Bills adorariam uma oportunidade de responder a essa pergunta na decisão da conferência AFC.

Tom Brady e os Buccaneers conseguem derrotar times bons?

O Tampa Bay Buccaneers (11 vitórias e cinco derrotas) alternou momentos empolgantes e exasperantes, dominadores e banais, mas chega pela primeira vez à pós-temporada em 13 anos, com vitórias nos seus últimos quatro jogos, que coincidentemente foram o melhor período de Tom Brady desde que chegou a Tampa Bay.

Ele teve uma média de 333,3 jardas de passe por jogo, lançou 12 touchdowns e sofreu apenas uma interceptação; seu rating como passador foi de 126,9. Que isso tudo tenha acontecido contra algumas das defesas mais tristonhas da liga –Detroit Lions, Minnesota Vikings e dois jogos contra o Atlanta Falcons– é relevante para os Buccaneers, que ficaram felizes com os resultados. Mas agora o time precisa tentar reproduzir essa produção diante de concorrentes melhores.

E em jogos desse tipo, o Tampa Bay vem enfrentando problemas. Diante de times que vão aos playoffs, os Buccaneers venceram um e perderam cinco jogos. Em quatro dessas derrotas, Brady foi interceptado mais de uma vez. Em uma temporada de outra forma impressionante –ele teve 4.633 jardas em passes e 40 touchdowns, aos 43 anos de idade—, aqueles foram os únicos jogos em que foi interceptado mais de uma vez.

O elenco dos Buccaneers é forte, com o trio de linebackers Shaquil Barrett, Lavonte David e Devin White segurando bem a defesa, enquanto Brady tem Antonio Brown, Mike Evans, Chris Godwin e Rob Gronkowski como alvos de passe. Mas com um elenco como esse, o desempenho do time não deveria ter sido tão volátil.

Os Buccaneers enfrentarão o Washington Football Team, que venceu sete e perdeu nove partidas, o que não faz do time um concorrente de ponta. Mas, falando de Washington...

Tom Brady, de uniforme cinza, segura a bola com uma mão e vibra com a outra
Tom Brady tenta voltar ao Super Bowl, agora com o Tampa Bay Buccaneers - Kim Klement - 3.jan.21/USA Today Sports

Será que o vencedor da NFL East, uma divisão com desempenho historicamente pavoroso, conseguirá ganhar uma partida de playoff?

O Washington vai enfrentar os Buccaneers na primeira rodada dos playoffs, e parece ser o time mais apropriado a dar a volta por cima contra o Tampa Bay. O motivo é a pressão.

Nenhum quarterback gosta de pressão. Mas alguns a enfrentam melhor do que outros. Nesta temporada, embora a linha ofensiva de Brady tenha em geral feito um bom trabalho em sua proteção, ele teve a terceira mais baixa porcentagem ponderada de passes completados, quando estava sob pressão, de acordo com a Pro Football Focus, e teve um rating de passe de 54,5 nessas situações, inferior ao de colegas como Daniel Jones e Sam Darnold.

Washington perturbou os quarterbacks adversários com sua frente defensiva soberba, liderada por jogadores escolhidos na primeira rodada do draft —Jonathan Allen (2017), Daron Payne (2018), Montez Sweat (2019) e Chase Young (2020), que provavelmente será escolhido como melhor calouro defensivo da temporada.

Young chegou saltitando ao vestiário, depois da partida que garantiu a vitória do time na divisão, sobre o Philadelphia Eagles, gritando “Tom Brady, lá vou eu. Eu quero Tom". E ele vem repetindo isso desde que estava participando do processo seletivo da NFL, antes de ser contratado.

O Washington ocupa a sexta posição da liga em termos de pressionar o adversário e em sacks, e tem a segunda melhor defesa em termos de jardas permitidas por jogada. Se conseguir sobreviver a Brady, Washington, que é apenas o terceiro time da história a se classificar para playoffs com mais derrotas do que vitórias, poderia (quem sabe) se unir aos outros dois —o Seattle Seahwaks de 2010 e o Carolina Panthers de 2014— e vencer sua primeira partida de playoff, como eles fizeram.

Para que os Browns vençam, Baker Mayfield precisa acordar se sentindo perigoso?

Em seu primeiro ano na NFL, Mayfield ganhou fama por ter dito a repórteres, depois de uma vitória no final da temporada, que “acordei hoje cedo me sentindo perigoso”, o que resultou em um mural pintado no centro de Cleveland, inspirou a torcida do time e se tornou motivo de piada nas temporadas frustradas que se seguiram.

Agora, no primeiro jogo de playoff do time em 17 temporadas, diante do Pittsburgh Steelers (12 vitórias, quatro derrotas), Mayfield merece crédito por ajudar a conduzir os Browns (11 vitórias, cinco derrotas) ao seu melhor desempenho desde que a franquia foi recriada em 1999, e o sucesso pode ajudar sua fama em campo a se equiparar à notoriedade que ele adquiriu fora dos gramados.

Sim, Mayfield os ajudou a chegar lá ao lançar mais touchdowns do que em 2019, registrar o menor número de passes interceptados de sua carreira e ao fechar a temporada com um modesto (para os padrões de 2021) total de 3.563 jardas em passes, em um ataque que exigia que ele jogasse de forma segura –o que ele fez, ao menos comparado a temporadas anteriores. Mas a ascensão dos Browns não dependeu apenas do quarterback.

A defesa do Seattle foi consertada?

Nos nove primeiros jogos da temporada, o time de Seattle, cuja defesa um dia foi seu orgulho, a peça sobre a qual os Seahawks construíram sua identidade e conquistaram sua vitória de Super Bowl, estava orgulhoso por continuar vencendo mesmo que seus defensores estivessem permitindo 30,1 pontos e 441,1 jardas por jogo aos adversários.

A recuperação da defesa começou na 11ª partida, uma vitória contra o Arizona Cardinals, e os Seahawks venceram seis de seus últimos sete jogos na temporada regular cedendo o menor número de pontos aos adversários e a terceira menor média de jardas por jogada do período, entre os times da liga.

Era só uma questão de recuo à média estatística? Ou o Seattle conseguiu consertar o que parecia quebrado?

Podemos definir a solução como um remendo. Carlos Dunlap, defensive end que Seattle contratou no fim da janela de transferência, conseguiu sacks que garantiram vitórias contra Arizona e Washington. Jamal Adams, um safety versátil contratado ao New York Jets entre as temporadas, também ajudou, reforçando o desempenho forte dos linebackers Bobby Wagner e K.J. Wright. Sem dúvida, a melhora na defesa era uma realidade.

Mas talvez não seja permanente. Com Adams e o tackle defensivo Jarran Reed lesionados, a força geral da defesa voltará a ser testada na primeira rodada dos playoffs, contra os Rams.

Os Seahawks podem ficar em vantagem caso Jared Goff, o quarterback titular dos Rams, não tenha condições de jogo, mas o time terá dificuldade para manter a pressão sobre as peças chaves das equipes adversárias caso essas peças-chave não retornem rapidamente.

Tradução de Paulo Migliacci

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