Ameaça ao Palmeiras, Gignac recusou Flamengo e Boca por glória no Tigres

Ídolo no clube mexicano, francês levou equipe à semifinal do Mundial de Clubes

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São Paulo

André-Pierre Gignac anunciou antes mesmo do fim da temporada 2014/2015 que, encerrada a disputa do Campeonato Francês, ele estaria livre no mercado.

A decisão de não renovar contrato com o Olympique de Marseille, clube de seu coração e pelo qual anotou 21 gols naquela edição da Ligue 1, foi menos surpreendente do que o destino escolhido para seguir a carreira.

Procurado por clubes da Europa e da América do Sul, o atacante assinou em junho de 2015 com o Tigres, do México, uma transferência pouco usual para um jogador que havia acabado de ser vice-artilheiro de uma das principais ligas nacionais europeias –com mais gols do que Ibrahimovic, inclusive, campeão pelo PSG.

"O Boca Juniors me contatou. Nunca na vida eu imaginei que o clube de Maradona e Riquelme pudesse me chamar. O Boca, a Bombonera! Também tive um contato do Flamengo, um dos times com mais torcida no mundo, Maracanã... Estamos falando de clubes lendários. Mas eu não pensei muito", disse Gignac ao L'Equipe, em 2019, citando algumas das ofertas que deixou pelo caminho para escolher o time de Monterrey.

Para muitos, a ida ao futebol mexicano não era nada mais que um plano antecipado de aposentadoria, mas o jogador tinha outra ideia para o seu futuro. O México o fascinava, assim como a perspectiva de viver uma cultura diferente e se tornar fluente em outro idioma.

Uma aposta que se mostrou acertada, tanto para ele quanto para o Tigres, que viveram na última quinta-feira (4) um dos dias mais especiais da relação entre atacante e clube.

Com dois gols do francês, a equipe venceu de virada o Ulsan Hyundai e enfrentará o Palmeiras, no próximo domingo (7), na semifinal do Mundial de Clubes. O duelo com o campeão da Libertadores representa a possibilidade de colocar, pela primeira vez na história, um time do México na decisão do torneio.

"Vamos passo a passo, partida a partida. Já disse antes, viemos fazer história aqui. Passamos pelo primeiro jogo, que não foi nada fácil, diante de um rival muito forte e tivemos personalidade para virar o placar depois do 1 a 0. Vamos descansar e pensar na próxima partida", disse Gignac, em espanhol, após o triunfo por 2 a 1 sobre os sul-coreanos no Qatar.

A escolha que ele fez há pouco mais de cinco anos pode parecer exótica a quem olha para a sua trajetória esportiva, mas pode ter uma explicação nas suas origens.

Gignac comemora um de seus gols na vitória sobre o Ulsan Hyundai, no Mundial
Gignac comemora um de seus gols na vitória sobre o Ulsan Hyundai, no Mundial - Mohammed Dabbous - 4.fev.2021/Reuters

Nascido na cidade de Martigues, sul da França, Gignac é filho de ciganos espanhóis. Adotados por "manouches", os ciganos franceses, conheceu sua esposa no convívio com a comunidade cigana local. O francês já contou publicamente –e sempre com orgulho– que ajudava a sogra a vender roupas de segunda mão em feiras e caravanas pelo país.

Foi jogando por equipes da região de Martigues que o atacante começou no futebol. Aos 18 anos, chegou às categorias de base do Lorient, clube no qual fez sua estreia profissional.

Emprestado ao Pau, da terceira divisão da França, voltou ao Lorient para marcar nove gols na temporada 2006/2007 e chamar a atenção do Toulouse. No time da Occitânia, Gignac explodiu.

Com 24 gols, terminou a Ligue 1 de 2008/2009 como artilheiro da competição e classificou a equipe à Europa League, desempenho que lhe valeu oportunidades na seleção francesa e a convocação à Copa do Mundo de 2010.

Maior goleador da equipe nacional, Thierry Henry, companheiro de Gignac na África do Sul, disse que o atacante só sabia jogar de uma forma. "Não importa se ele está no Stade de France ou em qualquer outro lugar, ele simplesmente entrega tudo o que pode."

"Um cigano que joga futebol é sempre assim. Nós não pensamos muito, só nos esforçamos", definiu o próprio centroavante, que também credita a uma cultura alimentar afeita a fartas refeições o seu conflito permanente com a balança.

Contratado pelo Olympique de Marseille em 2010, Gignac realizou o sonho de jogar no clube de coração. O início, porém, foi complicado: apenas 22 gols em 82 partidas do Campeonato Francês nas três primeiras temporadas. Até que Marcelo Bielsa chegou ao sul da França para devolver a Gignac o seu melhor rendimento técnico.

Sob comando do argentino, o atacante balançou as redes 21 vezes e foi o destaque do time que liderou boa parte da Ligue 1 em 2014/2015, mas que sucumbiu na reta final da competição e terminou no quarto lugar, fora da zona de classificação à Champions.

Gignac em ação pelo Olympique de Marseille, contra o PSG de Thiago Silva
Gignac em ação pelo Olympique de Marseille, contra o PSG de Thiago Silva - Eric Gaillard - 5.abr.2015/Reuters

"Esse cara [Bielsa] mudou para sempre a minha carreira e a forma como eu vejo futebol. Ele investiu em mim como ninguém tinha feito até então", afirmou.

Com a decisão tomada de não renovar o vínculo com o clube, Gignac ainda tentou ser convencido por Bielsa a aceitar uma proposta do Manchester United. "Ele sabia da minha admiração pelo United e por Ruud van Nistelrooy (ex-atacante holandês)", disse o atleta, que já estava a caminho do México.

Na chegada ao Tigres em agosto de 2015, Gignac ajudou a equipe a despachar o Internacional na semifinal da Copa Libertadores. Na final, o River Plate de Marcelo Gallardo ficou com o título.

De lá para cá, o atacante conquistou três títulos nacionais e a taça inédita da Concacaf Champions, em 2020, terminando a competição como melhor jogador e artilheiro (seis gols).

Com os dois anotados na última quinta, já são 146 com a camisa do Tigres, registro que faz dele o maior goleador da história do clube. Números, feitos e uma identificação com time e país que atestam a escolha inusitada feita há pouco mais de cinco anos.

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