Inspirado em Nadal, Carlos Alcaraz empilha feitos no tênis aos 17 anos

Jovem espanhol será o primeiro nascido em 2003 a disputar o Australian Open

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Curitiba

Mesmo num dos países com mais tradição na formação de tenistas, caso da Espanha, a sucessão de um grande ídolo do esporte gera curiosidade e vira território para especulações.

Aos 34 anos, Rafael Nadal está disposto a ultrapassar a marca dos 20 títulos de Grand Slam e não dá sinais de que encerrará sua vitoriosa carreira tão cedo. Ainda assim, as atenções se voltam cada vez mais para os candidatos a sucedê-lo.

Carlos Alcaraz, 17, desponta como o principal deles. O jovem natural de Murcia fará na próxima semana sua estreia na chave principal de um Slam —o primeiro atleta nascido em 2003 a chegar lá. Número 146 do ranking, ele garantiu sua vaga ao vencer três jogos na fase qualificatória do Australian Open, disputada no Qatar em janeiro.

Nesta semana, ele joga um torneio de preparação para o Slam, em Melbourne, e já está nas oitavas de final, após a vitória mais imponente de sua curta trajetória, sobre o belga David Goffin (14º do ranking). Seu adversário na sexta-feira (5) será o brasileiro Thiago Monteiro (83º).

Tenista de camisa rosa vibra com a raquete na mão
Carlos Alcaraz comemora vitória sobre David Goffin em Melbourne - David Gray/AFP

As referências ao dono de 13 troféus de Roland Garros podem soar exageradas, mas vêm de quem tem propriedade para opinar: Toni Nadal, tio e técnico de Rafael durante grande parte de sua carreira.

Em artigo publicado no jornal El País em dezembro, Toni escreveu que “Carlos Alcaraz tornou-se, com o aval dos seus resultados e do seu jogo, não só a grande esperança do tênis espanhol, mas também o substituto natural de Rafael".

O treinador acredita que as comparações com o sobrinho serão inevitáveis, mas que o jovem está preparado para encará-las. “Eu o vejo como uma cabeça bem equipada para aguentar essa pressão, bem como os elogios e expectativas que seu tênis provoca.”

Alcaraz deixa claro em entrevista à Folha que vai na mesma direção: “As [comparações] não me incomodam porque, como ele [Toni] diz, são inevitáveis. Mas também não acho que me tragam coisas boas. Procuro não prestar muita atenção nelas e seguir em frente”.

“Fora da quadra não sinto pressão, tenho a certeza de que jogo para mim e para a minha equipe. Na quadra existem muitos fatores que deixam você tenso, mas é aí que entra o trabalho mental”, completa.

Nadal está no topo da prateleira de ídolos de Alcaraz. “Sua atitude, ambição, seu gene vencedor, isso é o que me inspira nele. Acho que ele é uma referência em todos os aspectos, tanto no esporte quanto na sua vida normal”, afirma.

Eles se encontraram apenas duas vezes até hoje e não tiveram tempo para uma conversa mais longa, além de breves cumprimentos. Apesar disso, outra mostra de que Nadal é figura indissociável da carreira de Alcaraz foi dada quando o jovem publicou nas redes sociais uma foto lendo a biografia do ídolo durante a quarentena pré-Australian Open em Melbourne.

A revelação espanhola se define como um jogador agressivo, que busca ganhar os pontos com bolas vencedoras e subidas à rede. Diferentemente do “Rei do Saibro”, ele é destro e tem nas quadras rápidas sua superfície favorita.

Apesar de 2020 ter sido um ano complicado também para o tênis, com a paralisação do circuito mundial por cerca de cinco meses e várias restrições causadas pela pandemia da Covid-19, Alcaraz ganhou 350 posições no ranking, foi eleito pela ATP (Associação dos Profissionais do Tênis) a revelação da temporada e virou um nome a se prestar atenção entre os profissionais mesmo com idade de juvenil.

Entre seus resultados até aqui, se destacam três títulos em torneios de nível challenger no segundo semestre de 2020. Antes da pandemia, em fevereiro, quanto tinha 16 anos, ele venceu sua primeira partida num torneio nível ATP. Foi diante do compatriota Albert Ramos-Vinolas, no Rio Open, após 3 horas e 37 minutos em quadra.

Tenista com camiseta laranja vibra e sorri em quadra de tênis
Carlos Alcaraz durante sua participação no Rio Open 2020 - Fotojump

“Gostei muito de jogar lá [Rio de Janeiro]. A verdade é que no meu primeiro jogo já era muito tarde [da noite] e ainda tinha gente olhando e torcendo por mim. Só posso dizer que espero voltar.”

A chegada do espanhol à Austrália para seu primeiro Slam não foi das mais tranquilas. Ele fez parte de um grupo de 72 tenistas que precisaram ser submetidos a uma quarentena total de 14 dias, sem poder sair do quarto de hotel em nenhum momento. Isso porque no voo que o levou ao país havia pessoas infectadas pelo coronavírus. Ainda assim, já emplacou duas vitórias.

A situação inusitada e que o impossibilitou de treinar foi contornada com uma preparação improvisada definida junto do seu treinador, Juan Carlos Ferrero, campeão de Roland Garros no ano em que o pupilo nasceu. Além disso, ele aproveitou o tempo para pôr em dia os estudos do colégio e da habilitação de motorista.

Ferrero, ex-número 1 do mundo, tem sido um dos alicerces de Alcaraz, como o jovem contou ao site da Federação Internacional de Tênis: “Ele entende as situações que estou vivendo agora, porque as experimentou no passado. Sabe como administrar a pressão. Não é fácil para mim falar abertamente, mas confio nele e sempre tento dizer-lhe como me sinto física e mentalmente. Se eu tiver algum problema, posso falar com ele e ele me dá seus conselhos”.

Independentemente do desfecho desta semana e do que ocorrer na temporada, ele diz estar preparado para uma longa curva de aprendizado entre os profissionais.

“Eu diria que sou um jogador que aprende com as derrotas. No final das contas é sobre saber que você vai perder muitas vezes e levar isso da melhor maneira possível, e a partir desse ponto continuar a melhorar.”

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