Descrição de chapéu The New York Times

Morto aos 67, boxeador Leon Spinks foi campeão olímpico e venceu Muhammad Ali

Ele tinha poucas lutas profissionais quando surpreendeu o mundo do esporte em 1978

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Richard Goldstein
The New York Times

Leon Spinks, que marcou uma das maiores vitórias no boxe ao derrotar Muhammad Ali, capturando o título de pesos-pesados em fevereiro de 1978, mas perdeu a coroa em uma revanche sete meses depois e nunca mais encontrou a glória no ringue, morreu na sexta-feira (5) em Henderson, Nevada. Tinha 67 anos.

Sua morte, em um hospital, foi anunciada por sua mulher, Brenda Glur Spinks, em um comunicado divulgado por assessores de imprensa. Sua família anunciou em dezembro de 2019 que ele tinha sido internado para tratamento de câncer na próstata, que se espalhou para a bexiga.

Spinks chamou a atenção quando ganhou a medalha de ouro olímpica de meio-pesados, e seu irmão Michael levou o ouro na divisão de pesos-médios nos Jogos de Montreal (Canadá) em 1976.

Leon tinha lutado profissionalmente apenas sete vezes, com seis vitórias e um empate, antes de enfrentar Ali no Hilton de Las Vegas em 15 de fevereiro de 1978, em um encontro arranjado por Bob Arum, um dos principais promotores do boxe.

Boxeadores se enfrentam no ringue
Muhammad Ali e Leon Spinks (à dir.) na luta de 1978 - 15.fev.78/AFP

Ali detinha os títulos da Associação Mundial de Boxe e do Conselho Mundial de Boxe. Mas aos 36 anos, embora fosse o um favorito disparado nas apostas, ele tinha passado de seu melhor momento. Pesava 101 quilos, contra os 89 de Spinks.

Spinks era um provocador que atacava firme, mas quando pressionou Ali no ringue o campeão recorreu à sua estratégia de se encostar nas cordas, deixando o oponente se cansar com golpes que raramente causavam dano, enquanto Ali descansava.

O canto de Spinks tinha uma estratégia própria, que pretendia enfraquecer Ali.

"Jab, jab, jab, esse era o plano", disse o treinador de Spinks, George Benton, no vestiário mais tarde. "Acerte-o no ombro esquerdo a noite toda com esse soco."

Ali se recuperou no 15º round, mas Spinks o evitou e ganhou uma decisão dividida.

No final da luta, Ali tinha hematomas roxos acima e abaixo do olho direito. Sua testa estava inchada perto do olho esquerdo e sangue pingava de seu lábio inferior.

"Ele teve a vontade e a energia para vencer", disse Ali. "Ele bateu forte."

Alguns dias depois dessa luta, Spinks apareceu na capa da revista Sports Illustrated mostrando o que se tornou seu famoso sorriso desdentado.

O Conselho Mundial de Boxe tirou de Spinks o título de peso-pesado por se recusar a fazer uma defesa contra Ken Norton, seu desafiante designado, e deu a coroa a Norton.

Ali pretendia ter um reencontro com Spinks e prometeu "continuar se movendo, não ir para as cordas, estar em melhor forma". A estratégia funcionou.

Em setembro de 1978, Ali recuperou o título da AMB, derrotando Spinks em uma decisão unânime no Louisiana Superdome, diante de um público de 63 mil pessoas. Dessa vez ele amarrou Spinks quando este o atacou, e dançou e esmurrou como o Ali de antigamente.

Leon Spinks na premiação ESPY, em Hollywood
Leon Spinks na premiação ESPY, em Hollywood - Robert Galbraith - 12.jul.06/Reuters

Em 1981, Larry Holmes detinha a coroa dos pesos-pesados do Conselho Mundial de Boxe. Spinks o desafiou em junho, perdendo por nocaute técnico no terceiro assalto. Ele enfrentou Dwight Muhammad Qawi, campeão de peso cruiserweight da AMB, em 1986, perdendo em um nocaute técnico no nono round.

Sua carreira estava em declínio geral, e ele tinha a reputação de fazer festas no meio do treinamento.

Antes da luta com Holmes, Sam Solomon, que era treinador de Spinks no início de sua carreira profissional, lembrou as semanas nas montanhas Catskills, quando Spinks se preparava para sua primeira luta com Ali.

"Ele ia para a cama à noite, ligava o som bem alto e trancava a porta", disse Solomon ao The New York Times. "A única maneira de encontrá-lo era encontrar suas pegadas na neve." Naquela época, como Ali logo veria, a escapada não diminuiu suas chances.

A última luta de Spinks foi em dezembro de 1995, quando ele perdeu numa decisão unânime para Fred Houpe em um combate de oito assaltos. Spinks tinha 42 anos; Houpe, 45, e não lutava desde novembro de 1978.

Spinks se aposentou com 26 vitórias (14 por nocaute), 17 derrotas e três empates.

Leon Spinks Jr. nasceu em 11 de junho de 1953 em St. Louis (Missouri), o primeiro de sete filhos de Leon e Kay Spinks, que se separaram quando ele era criança. A família era pobre, e o bairro, muito duro. Ele contou que levou várias surras do pai. Um jovem frágil, que tinha pressão baixa e asma, Leon se tornou alvo de valentões.

Aos 13, ele começou a lutar em uma academia de St. Louis, num programa criado para tirar os jovens das ruas. Abandonou o colégio no primeiro ano, entrou para os Fuzileiros Navais, participou do programa de boxe da força e se destacou como amador em lutas antes dos Jogos Olímpicos de Montreal.

Spinks teve uma vida muito instável depois que se aposentou dos ringues. Ele disse que perdeu todo o dinheiro que ganhou, e viajou pelos Estados Unidos procurando qualquer emprego. Aos 52, fez uma escala em Columbus, Indiana, onde trabalhou como zelador da Associação Cristã de Moços e descarregou caminhões para o McDonald's.

Spinks teve três filhos com uma namorada, Zadie Mae Calvin, que tinha crescido no mesmo bairro que ele.

Um dos filhos, Cory, se tornou um campeão peso meio-médio, e outro, Darrell, teve 19 lutas profissionais. Seu filho Leon Calvin, que usava o sobrenome da mãe, ganhou duas lutas pro antes de ser morto a tiros aos 19 anos, quando fugiu num carro de uma festa em St. Louis que tinha se tornado violenta. O filho de Leon Calvin, Leon Spinks 3º, lutou em 16 embates profissionais.

Além de sua mulher, dos filhos Corey e Darrell, um neto e o irmão Michael, Spinks deixa outros sete irmãos.

Na noite em que detonou Ali, disse Spinks, ele aproveitou a adversidade de sua infância e juntou forças para vencer.

"Meu pai dizia às pessoas que eu nunca seria ninguém", ele foi citado na Sports Illustrated. "Aquilo me machucou. Nunca esqueci. Eu pus na cabeça que seria alguém neste mundo. Que não importa o preço que eu tivesse de pagar, teria sucesso em alguma coisa."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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