Descrição de chapéu Financial Times Tóquio 2020 machismo

Pressão por renúncia de cartola dos Jogos de Tóquio cresce após fala sexista

Patrocinadores e políticos reforçam coro de insatisfação contra Yoshiro Mori, 83

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Robin Harding Leo Lewis Kana Inagaki
Tóquio | Financial Times

Yuriko Koike, governadora de Tóquio, se recusou a participar de uma reunião com Yoshiro Mori, presidente do comitê organizador dos Jogos Olímpicos da cidade, em um momento de pressão crescente pela renúncia dele após declarações sexistas.

Koike anunciou que uma reunião marcada com Mori e o COI (Comitê Olímpico Internacional) “não enviaria uma mensagem positiva”, o que despertou dúvidas sobre se ele poderá continuar à frente dos Jogos de
Tóquio-2020.

A controvérsia está rapidamente se transformando em um momento de forte simbolismo na luta pela igualdade de gênero no Japão. Políticos mais velhos descartaram as declarações como uma simples gafe, enquanto uma geração mais nova de líderes está pressionando por ação, e as empresas patrocinadoras do evento veem sua retórica sobre diversidade submetida a teste.

Yoshiro Mori de máscara em frente a painel com logo dos Jogos de Tóquio
Yoshiro Mori, chefe do comitê organizador dos Jogos de Tóquio, está sob pressão - Kim Kyung-Hoon - 4.fev.21/AFP

Mori disse, em uma reunião de dirigentes esportivos na semana passada, que mulheres não deveriam ter lugar em comitês porque elas falam demais. “A reunião demora o dobro. Mulheres têm um sentimento forte de rivalidade. Se uma levanta a mão pedindo a palavra, todas as demais sentem que têm o dever de fazer o mesmo. E aí todas terminam falando”, ele declarou.

Mori, 83, antigo primeiro-ministro japonês que tem um longo histórico de declarações semelhantes, pediu desculpas no dia seguinte e tentou ignorar as críticas que continuavam a surgir. Mas em lugar de elas se se atenuarem, o incidente vem dominando o debate público e parlamentar no país, e isso a cerca de 160 dias da data de abertura da Olimpíada.

Uma recente pesquisa de opinião pública conduzida pela rede de televisão TBS demonstrou que 60% dos japoneses querem a saída de Mori. Os organizadores dos Jogos de Tóquio 2020 anunciaram que realizarão uma reunião na sexta-feira (12) para discutir suas declarações.

Os patrocinadores também começaram a se pronunciar. Em uma de suas raras declarações públicas, divulgada durante o anúncio dos resultados da Toyota na quarta-feira, Akio Toyoda, o presidente-executivo da montadora de automóveis, disse que “estamos decepcionados com os recentes comentários do presidente do Comitê Organizador da Olimpíada de Tóquio, que contrariam os valores que a Toyota respeita e apoia”.

Um dos patrocinadores convocou uma reunião de seu conselho sobre uma possível retirada do apoio aos Jogos, depois das declarações de Mori, mas optou por manter o contrato por conta do trabalho que já foi realizado, disse uma pessoa informada sobre as conversações.

O banco de investimento Nomura declarou que “embora ele tenha se desculpado, os comentários de Mori foram lastimáveis”.

Panasonic, Fujitsu, Japan Airlines, Mizuho Bank, Meiji Holdings, Sumitomo Mitsui Banking Corporation e Asics deram declarações ao Financial Times nas quais reiteraram seu compromisso para com a
diversidade ou criticaram o pronunciamento de Mori.

Enquanto cresce a pressão dos patrocinadores, o acontecido serve para ilustrar a dimensão da influência política que Mori ainda exerce, e a expectativa, entre seus contemporâneos, de que controvérsias como essas passem sem consequências.

Respondendo a informações de que trabalhadores voluntários da Olimpíada de Tóquio estavam se afastando de seus postos por conta das declarações de Mori, Toshihiro Nikai, 81, secretário geral do Partido Liberal Democrata, que governa o Japão, disse que as pessoas “mudariam de ideia quando as coisas se acalmarem”.

Se elas insistem em se afastar, ele acrescentou, “então teremos de recrutar novos voluntários”.

Yoshihide Suga, o primeiro-ministro do Japão, disse que as declarações de Mori eram “inaceitáveis” mas que o futuro dele deveria ser decidido pelo comitê organizador dos Jogos de Tóquio.

Mori, que foi primeiro-ministro do Japão de 2000 a 2001, no passado foi descrito como tendo “o coração de uma pulga e a mente de um tubarão”.

Embora pouco amado pelos companheiros, ele foi eleito 14 vezes para o Legislativo e ocupou todos os postos de liderança mais importantes em seu partido.

Mori, que foi jogador de rúgbi quando jovem, se tornou presidente da União Japonesa de Rúgbi e continua a ser uma figura temida e influente na administração esportiva e entre os políticos japoneses que se
interessam pelo esporte.

Esse histórico fez dele a escolha óbvia para a liderança política da candidatura de Tóquio a organizar os Jogos de 2020.

Takao Toshikawa, veterano comentarista político japonês, disse que ele “é poderoso no mundo do esporte”, mas que sempre demonstrou falhas como político. “Ele sempre se apressou a dizer qualquer coisa que estivesse sentindo. É incapaz de se controlar”, afirmou Toshikawa.

Tradução de Paulo Migliacci

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