Cuba quebra paradigma e busca jogadores no exterior para sonhar com Copa

Seleção masculina de futebol do país adota nova política e mira edição de 2026 do Mundial

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Jon Arnold
The New York Times

Quando começar sua campanha por uma vaga na Copa do Mundo de 2022, nesta quarta (24), Cuba vai adotar uma abordagem que não tenta há anos: colocar em campo muitos de seus melhores jogadores.

Há anos, apenas atletas cubanos que tivessem contratos com o Inder, organização que comanda o esporte no país, eram escolhidos para integrar a seleção nacional. Agora a situação vai mudar. Cuba convocou diversos jogadores radicados no exterior —e que estão fora do sistema oficial do esporte cubano— para participar de uma sequência de partidas nas Eliminatórias para a Copa do Mundo.

Isso significa que Onel Hernández, lateral esquerdo do Norwich City; Carlos Vázquez Fernández, zagueiro radicado na Espanha; e Joel Apezteguía, atacante que joga em San Marino, farão parte da equipe. E também significa o retorno à seleção nacional do zagueiro Jorge Luis Corrales, depois de seis anos de afastamento.

Jogador com uniforme verde-amarelo corre com a bola
Onel Hernández durante partida pelo Norwich na Premier League - Tim Keeton - 24.jun.20/AFP

“Não sei se grito ou se rio, porque os sentimentos são conflitantes”, disse Corrales, que joga em uma liga secundária dos Estados Unidos. “As imagens dos muitos anos em que defendi a seleção e de todos aqueles momentos ótimos passaram pelo meu pensamento. Acredito que poder participar de novo de momentos como esse será uma das melhores experiências que terei, desde que cheguei aos Estados Unidos."

Para quem observa de fora, os jogadores radicados no exterior se enquadram em uma categoria que é difícil de distinguir daquela que inclui atletas cubanos que abandonaram seleções nacionais em excursões a outros países e pediram asilo, ou desertaram de outras maneiras. Mas existe uma distinção importante, e ela faz toda diferença para as autoridades cubanas: todos eles deixaram a ilha com seus pais, quando crianças, ou receberam permissão do governo para jogar no exterior.

Corrales, por exemplo, foi autorizado a visitar o pai em Miami depois da Copa Ouro de 2015, um importante torneio regional, e decidiu ficar depois de receber um visto de cinco anos. Desde então, ele jogou por diversos times da Major League Soccer e da USL Championship, a segunda divisão dos Estados Unidos, entre os quais seu atual empregador, o FC Tulsa.

Jogador de azul tenta dar corte em jogador de branco que conduz a bola
Jorge Luis Corrales (de azul) quando defendia o Montreal Impact - Vincent Carchietta - 17.out.20/USA Today Sports

Apezteguía espera fazer sua estreia pela seleção cubana, aos 37 anos. Ele jogou em Cuba até os 24 anos, antes de partir para ajudar seu pai a operar um bar e restaurante na Espanha. Depois de anos batalhando em ligas europeias menores (Moldova, Albânia e sua residência atual em San Marino são os destaques), à espera de que os dirigentes do futebol cubano reparassem em seu futebol, a convocação enfim chegou.

Hernández, 28, deixou Cuba na infância quando sua família se mudou para a Alemanha. Ele começou sua carreira profissional em um time da segunda divisão alemã, antes de se transferir ao Norwich City, que ele ajudou a conquistar acesso à Premier League em 2019.

No terceiro trimestre daquele ano, ele se tornou o primeiro atleta cubano a jogar na Premier League. Poucos meses mais tarde, em uma partida contra o Manchester United, virou o primeiro cubano a marcar um gol na principal liga do futebol inglês.

Hernández já havia expressado interesse em defender seu país de nascimento, no passado, e aceitou um convite para treinar com a seleção, mas vestir a camisa da equipe em uma partida oficial parecia impossível, até este mês.

Vázquez Fernández, 21, conhecido como CaVaFe, se mudou para a Espanha com os pais quando tinha três anos de idade. Ele desenvolveu seu futebol lá, na academia do Atlético de Madrid, ocasionalmente treinando com a equipe principal do clube. O atleta vinha há anos expressando seu desejo de vestir a camisa de Cuba, mas não tinha uma data específica em mente.

“Eu tinha certeza de que minha primeira convocação viria”, ele disse. “O que não sabia era se isso aconteceria logo ou demoraria mais, até 2028, 2025, 2021, mas eu tinha certeza de que aconteceria. Sempre fui muito positivo”.

O que nenhum dos jogadores sabe, porém, é por que as convocações aconteceram neste momento.

Hernández vem mantendo contato regularmente com o treinador da seleção cubana, Pablo Elier Sánchez, o que inclui conversas em vídeo nas quais ele é informado sobre o esquema tático da equipe. Ele e os demais jogadores disseram acreditar que Sánchez e alguns poucos dirigentes tivessem facilitado suas convocações, trabalhando por diversos anos a fim de convencer os dirigentes nacionais do futebol e o governo de Cuba de que eles mereciam uma oportunidade.

Sánchez falou sobre os novos convocados em uma breve entrevista no aeroporto, ao chegar à Guatemala no domingo, afirmando que “sem dúvida” eles fortaleceriam seu time.

“São jogadores que estão em atividade em ligas importantes, ligas de primeira classe no planeta”, ele afirmou. “Vão trazer muita coisa em termos dos resultados que o time poderá obter."

Cuba não ofereceu explicação oficial para sua repentina abertura a jogadores vindos de fora do sistema esportivo oficial do país, ou revelou se o sucesso desse primeiro passo pode trazer uma era de abertura para uma perspectiva até agora impensável: a de reforçar as seleções nacionais cubanas com atletas que desertaram e representam a elite da diáspora esportiva do país, não só no futebol, com nomes como Osvaldo Alonso e Maikel Chang, mas potencialmente no beisebol, com astros como José Abreu e Yuli Gurriel.

Mensagens deixadas para Sánchez, dirigentes de federações e dirigentes do Inder não foram respondidas.

Os jogadores esperam que possam fazer diferença. Apezteguía disse que era difícil assistir à seleção cubana, que ocupa a 180ª posição no ranking das 210 seleções da Fifa, e que agora ele podia ajudar o time a subir de nível.

Cuba vai jogar suas duas primeiras partidas das eliminatórias na Guatemala, enfrentando o país anfitrião na quarta-feira e Curaçao, favorito para avançar à próxima fase, quatro dias mais tarde. Os jogos devem preparar o terreno para uma meta cubana mais ambiciosa: a busca de classificação para a Copa do Mundo da América do Norte, que envolverá 48 times, em 2026.

Mesmo sem uma resposta concreta quanto ao momento da decisão, os reforços da seleção cubana estão otimistas quanto à convocação ser um primeiro passo para a realização do potencial do país, especialmente se mais jogadores cubanos forem autorizados a buscar experiência no exterior e tentar a sorte nas melhores ligas do planeta.

“Muitas crianças amam o futebol, em Cuba, e elas querem viver o sonho que vivi”, disse Hernández.

Tradução de Paulo Migliacci

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