Governo Doria não acata recomendação do Ministério Público e mantém futebol

Havia expectativa de suspensão do esporte no estado após pressão de procurador

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São Paulo

O governador João Doria (PSDB) não acatou recomendação do Ministério Público de paralisar as atividades esportivas em São Paulo. Em pronunciamento no início da tarde desta quarta-feira (10), o político e sua equipe não fizeram o anúncio de novas restrições para combate à pandemia no estado, como era esperado.

Com isso, o Campeonato Paulista, que desde terça (9) vive sob ameaça de uma suspensão, segue em disputa.

Um dia antes da coletiva do governo, o procurador-geral de Justiça do estado de São Paulo, Mario Sarrubbo, recomendou a Doria a suspensão de todo o esporte profissional e de cultos religiosos.

Doria durante coletiva no Palácio dos Bandeirantes
Doria durante coletiva no Palácio dos Bandeirantes - Governo do Estado de São Paulo

"Essas recomendações do MP acompanham justamente a discussão de medidas que podem ser necessárias para além do que temos hoje na fase vermelha. Estamos trabalhando como viabilizar medidas que possam de fato aumentar o isolamento social. Em relacao às recomendacões, elas podem fazer parte de uma série de medidas que vão se somar ao que nós ja temos hoje. O governo vai anunciar assim que for conveniente", afirmou Paulo Menezes, do Centro de Contingência do governo paulista durante a entrevista.

Ainda na terça o governo havia adotado posição favorável à recomendação, mas sem incluir a FPF (Federação Paulista de Futebol) e os clubes no diálogo, o que provocou irritação de ambas as partes.

Em encontro virtual na manhã desta quarta (10), dirigentes da FPF reclamaram a representantes do Ministério Público da possível paralisação do torneio. A federação lembrou que o protocolo sanitário usado no futebol foi estabelecido em comum acordo com o governo do estado.

Doria não participou da videoconferência, que contou com a presença dos secretários Patricia Ellen (Desenvolvimento Econômico) e Marco Vinholli (Desenvolvimento Regional).

A cartolagem foi para a reunião com a expectativa de ouvir a confirmação de que o futebol seria paralisado, mas isso não aconteceu. O MP quer alinhavar posições com o governador João Doria antes de qualquer anúncio oficial, que pode acontecer numa nova coletiva do governo, marcada para esta quinta (11).

Presidentes de grandes clubes do estado ouviram do próprio governador que o futebol seria paralisado até o final deste mês.

Antes disso, na terça, a entidade que organiza o torneio estadual chegou a publicar uma nota defendendo a manutenção do jogo e enaltecendo seus protocolos sanitários de prevenção à Covid-19.

"Não há qualquer argumento científico que sustente a tese de que o futebol profissional gere aumento no número de casos. Pelo contrário, o futebol possui um protocolo extremamente rigoroso, com acompanhamento médico diário e testagem em massa de seus profissionais. Uma eventual paralisação seria ainda mais prejudicial ao combate à Covid-19, pois deixaria expostos milhares de atletas, que não mais passariam a ter o controle médico diário e de testagem que o futebol oferece", afirmou a FPF.

Já a CBF concorda com a visão de que o futebol deve continuar. Segundo Walter Feldman, secretário-geral da entidade, o esporte contribui no combate contra a pandemia.

"A manutenção do futebol brasileiro é a medida mais correta e exatamente por isso estamos conversando com governadores, prefeitos e autoridades sanitárias. Passamos nossas informações e vários deles, quase a totalidade, têm sido sensíveis à argumentações técnicas", afirma.

No início da noite desta quarta-feira, uma reunião virtual do presidente da CBF, Rogério Caboclo, com clubes das Séries A, B, C e D –cerca de 60 participantes entre presidentes e outros representantes– teve como resultado a escolha da maioria pela continuidade do futebol.

À Folha, o procurador Sarrubbo afirmou na terça (9) que esperava uma sinalização positiva do governo a sua recomendação de paralisar as atividades esportivas no estado e fez um alerta caso não houvesse um consenso.

“Hipoteticamente, nós teríamos aí a via judicial. O Ministério Público poderia tentar um provimento judicial junto ao Tribunal de Justiça. Mas ainda não está no nosso radar, nós temos a expectativa do acolhimento por parte do governo, que tem sido muito responsável no combate à pandemia”, disse.

Presidente do Sindicato dos Atletas de São Paulo, Rinaldo Martorelli também reclama que a entidade não foi convocada sequer para a reunião desta quarta, mas afirma que o decidido pelo governo será respeitado.

Ele entende que, antes que fosse tomada a decisão, deveria ter acontecido um diálogo para tentar adaptar o atual protocolo sanitário para o futebol.

"A gente quer o campeonato com toda segurança possível. Se não houver essa possibilidade, se os médicos nos disserem que não há nenhum protocolo possível, aí vamos defender a paralisação.
Conversamos com atletas, eles querem jogar, estão preocupados com a condição financeira. Temos muitos elementos para analisar", completou.

Quando o estado entrou na fase vermelha da quarentena no último dia 3 –na qual apenas serviços essenciais podem abrir–, o Centro de Contingência do Coronavírus em SP defendeu a manutenção do futebol a exemplo do que aconteceu na Europa, mesmo com lockdown.

“Vamos seguir o mesmo modelo que vem sendo seguido na Europa, onde vários países instituíram lockdown e mantiveram o futebol e esporte sem plateia'', disse então José Medina, do Centro de Contingência paulista contra o coronavírus. “Esse tipo de atividade é controlada, até porque a população precisa de algum tipo de diversão, de entretenimento.”

Com a iminência da paralisação, a reportagem procurou Corinthians, Palmeiras Santos e São Paulo para comentarem sobre o assunto. No entanto, apenas o presidente do clube alviverde, Maurício Galliotte, se pronunciou.

"Não mudamos nosso foco: a saúde permanece sendo a prioridade do Palmeiras e a preocupação ainda aumentou. Acataremos prontamente o que os órgãos de saúde e as autoridades públicas recomendarem", afirmou o presidente do Palmeiras".

Na semana passada, o presidente santista Andrés Rueda afirmou em entrevista ser favorável a uma paralisação do futebol.

"Com dor no coração, a situação está nos assustando muito, estamos perdendo a sensibilidade, falamos de vidas que não têm sentido de serem perdidas. Qualquer medida para salvar uma vida vale”, afirmou o mandatário santista, questionado pela Folha sobre defender ou não a manutenção das competições

Atualmente, o estado abriga a disputa do Campeonato Paulista. Também há times de São Paulo na Copa do Brasil, como o Mirassol, que no próximo dia 16 tem compromisso marcado para receber o Red Bull Bragantino, e o Marília, que no dia 18 enfrenta o Criciúma, em casa.

Times como o Corinthians e a Ponte Preta também disputam o torneio nacional, mas têm jogos agendados para fora do estado.

Essa seria a segunda suspensão do futebol em São Paulo. A primeira aconteceu no dia 16 de março de 2020 e durou até o final de julho.

O estado de São Paulo registrou 517 mortes e 16.058 novos casos da Covid-19 em 24 horas nesta terça-feira. No total são 62.101 vidas perdidas e 2.134.020 pessoas já infectadas.

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