Sem lugar para continuar o Paulista, federação cogita ir à Justiça

Entidade se reuniu com clubes na tarde desta terça após Minas também vetar jogos

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São Paulo

Os clubes da Série A1, a elite do futebol de São Paulo, estão decididos a continuar com o Campeonato Paulista, apesar da proibição do governo do estado e do Ministério Público. Mas ainda não acharam um local.

Em reunião na tarde desta terça (16), presidentes das 16 equipes do torneio, o mandatário da FPF (Federação Paulista de Futebol) Reinaldo Carneiro Bastos, diretores da entidade e sindicalistas divulgaram documento em que afirmam procurar outros estados para realizarem os jogos.

Também deixaram em aberto a possibilidade de "judicializar o caso", "a partir da falta de argumentos científicos e médicos que sustentem a paralisação das referidas rodadas neste momento".

"Os clubes estão preparados para qualquer sacrifício, qualquer contingência mais forte de logística que possa ser provocada em relação a essa rodada do final de semana", afirma Sidney Riquetto, presidente do Santo Andre.

Por determinação do governo do estado, o futebol em São Paulo foi paralisado a partir de segunda (15) até o final de março, pelo menos. O pedido foi feito pelo procurador-geral de Justiça, Mário Sarrubbo, por causa do aumento do número de mortes pela pandemia da Covid-19.

A FPF tentou fazer o governador João Doria (PSDB) mudar de ideia, mas ele se recusou a ir contra o pedido do Ministério Público, a não ser que o procurador recuasse. O que não aconteceu.

"Nós banalizamos a vida, como se fosse normal morrer cerca de 2 mil pessoas por dia", escreveu o procurador-geral no Twitter. Ele teve uma reunião virtual com dirigentes da Federação na segunda à noite, mas se manteve irredutível e disse considerar o assunto encerrado.

Para os clubes e a FPF, há a dificuldade de achar outro local para jogar. O Rio de Janeiro foi sondado no início mais como ferramenta de pressão contra Doria. O governador Claudio Castro (PSC) primeiro afirmou que o seu estado estava de "braços abertos", mas depois recuou.

O confronto entre Palmeiras e São Bento, levado para Belo Horizonte e que seria realizado nesta quarta (17), foi suspenso porque o governo de Minas Gerais anunciou novas restrições por causa do recrudescimento da pandemia, com a proibição de eventos públicos e privados. O Campeonato Mineiro será suspenso a partir de segunda-feira (22).

Até terça, a FPF estava confiante na realização do Estadual na capital mineira e contava com o apoio do prefeito da cidade, Alexandre Kalil (PSD). Ex-presidente do Atlético-MG, ele conversava com Reinaldo Carneiro Bastos desde o começo da semana passada, quando surgiu a possibilidade de o governador João Doria (PSDB) acatar a recomendação do Ministério Público para suspender atividades esportivas e religiosas.

A FPF considera entrar com ação judicial, inclusive, porque a transferência de jogos para outros estados, além de esbarrar nas restrições das autoridades locais, não agradam dirigentes de Palmeiras, São Paulo e Santos. Os três times dividirão suas semanas entre o estadual e a Copa Libertadores.

A Folha apurou que o departamento de futebol do Palmeiras ficou incomodado com a possibilidade de ter que viajar para Belo Horizonte nesta terça. O jogo atrasado pela terceira rodada deveria ocorrer, na tabela original, em Sorocaba (a cem quilômetros da capital paulista).

A CBF confirmou que o confronto entre Marília e Criciúma, também nesta quarta, pela Copa do Brasil, que seria em Varginha, foi transferido para Cariacica, no Espírito Santo. Este estado passou a ser visto como opção viável. Mas ao mesmo tempo em que acontecia a reunião do futebol paulista, o governador capixaba, Renato Casagrande (PSB), anunciava medidas mais rígidas de quarentena e a proibição de jogos de futebol a partir de sexta-feira (19).

Diante do impasse, os cartolas paulistas começaram a considerar sediar as partidas em Mato Grosso, mas há a questão de quem vai custear as viagens e hospedagens.

Questionado, o governo mato-grossense, por meio de sua assessoria, afirmou não haver restrição para que as partidas aconteçam desde que sem público e dentro do horário permitido, entre 5h e 19h.

O governo do Paraná diz não ter nenhum decreto que proíba a realização de partidas de futebol até o momento. Mas integrantes da administração pública entendem ser difícil aprovar a transferência dos jogos, já que o estado vive seu pior momento na pandemia. Algumas cidades, inclusive a capital Curitiba, já proibiram as partidas por meio de decisões municipais.

A paralisação do Campeonato Paulista também remete aos problemas financeiros do ano passado – quando a competição foi encerrada em março e só voltou em julho. Na ocasião, a Globo, que detém o direito de transmissão do Paulista, deixou para repassar a última parcela do contrato apenas com a retomada do torneio.

A insistência da Federação e dos clubes é por considerarem que o protocolo sanitário utilizado no futebol é seguro. O documento foi redigido sob as bênçãos do governo paulista e assinado pelo Ministério Público.

"[O protocolo] garante um controle ainda maior na organização da competição em São Paulo. Assim como os demais segmentos econômicos que permanecem em atividade com restrições, o futebol deve seguir as mesmas condições, com funcionamento sem público e com este protocolo inédito entre todos os setores da sociedade", diz a nota divulgada pelos dirigentes.

Na próxima rodada, a quinta do estadual, está previsto o clássico entre Palmeiras e São Paulo.

Procurado pela reportagem, Mauro Sarrubbo disse que não ia se pronunciar sobre a possibilidade de ação judicial divulgada pela FPF.

Erramos: o texto foi alterado

Renato Casagrande (PSB) é governador capixaba, não potiguar. O texto foi corrigido.
 

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