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Fim do contrato de Kobe Bryant com a Nike levanta complexas dúvidas comerciais

Calçados do astro são muito usados por atletas e têm grande procura do público desde sua morte

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Kevin Draper
The New York Times

O modelo de tênis mais popular nas quadras da NBA nas últimas temporadas não era assinado por um dos grandes jogadores ainda em atividade na liga, como LeBron James (Nike) ou Damian Lillard (Adidas). E tampouco fazia parte da linha do atleta que praticamente inventou o mercado moderno de calçados esportivos, Michael Jordan.

Em lugar disso, o modelo mais usado era a linha Kobe Bryant da Nike, escolhida por 103 atletas em atividade na temporada passada –cerca de 20% dos jogadores da NBA, de acordo com o Baller Shoes DB, um site que acompanha as tendências de calçados esportivos. Muitas jogadoras da WBNA, como Jewell Loyd, do Seattle Storm, também usam tênis com a grife de Bryant.

Mas esses jogadores em breve terão de procurar outros modelos, pelo menos se quiserem jogar usando calçados novos. A Nike confirmou na segunda-feira (19) que seu contrato com o espólio de Bryant expirou na semana passada. O atleta morreu em um acidente de helicóptero em 2020.

“Kobe Bryant era parte importante da profunda conexão entre a Nike e os consumidores”, afirmou em comunicado o porta-voz da Nike, Josh Benedek. “Ele sempre nos levou a melhorar e fazia com que todos que o cercavam dessem seu melhor. Ainda que nosso relacionamento contratual tenha acabado, ele continua a ser um membro muito amado da família Nike."

Na incerteza quanto à manutenção do contrato de Bryant para endossar calçados e roupas esportivos, diversas questões colidem: aquilo que os jogadores de basquete profissional usam em quadra, a demanda dos consumidores por mercadorias associadas a Bryant e a forma pela qual o nome e imagem de uma pessoa continuam a ser usados mesmo depois de sua morte.

A Nike tem uma janela curta para continuar vendendo calçados e roupas com a marca de Bryant que já produziu, mas em breve esses produtos serão retirados do site da empresa e das lojas.

Mudar de parceiro de material esportivo não é incomum entre os grandes jogadores de basquete, cujos contratos de endosso a determinados tênis podem valer dezenas de milhões de dólares ao ano e até mesmo superar seus salários na NBA. Bryant tinha um contrato com a Adidas antes de começar na NBA, em 1996, e em 2003 assinou com a Nike quando seu compromisso com a companhia alemã expirou.

Kobe pula para enterrar a bola na cesta
Tênis da linha Kobe Bryant ainda são ícones na NBA - Lucy Nicholson - 16.dez.08/Reuters

Mesmo depois que outros grandes patrocinadores romperam seus vínculos com Bryant quando ele foi acusado de agressão sexual, a Nike, que havia assinado com ele pouco antes de sua detenção por essa acusação, não se afastou do atleta.

A situação atual com o espólio de Bryant não tem paralelo na história do basquete ou dos calçados esportivos. Os tênis endossados por grandes jogadores só começaram a ganhar importância no final da década de 1980, e mortes de superastros da NBA, daquela época ou posteriores, são raras, ainda mais de figuras jovens como Bryant, que morreu aos 41 anos.

A Nike acreditava claramente que os atrativos de Bryant perdurariam depois de sua aposentaria, e assinou um novo contrato de cinco anos com ele no dia em que o jogador deixou as quadras, 13 de abril de 2016. Bryant jogou sua última temporada usando o modelo Kobe 11, a 11ª edição de sua linha de tênis. Depois que ele se aposentou, a Nike lançou uma nova linha chamada Kobe A.D., ou anno Domini, expressão latina que significa “ano de Nosso Senhor”.

A marca Jordan da Nike, que continua a lançar modelos Air Jordan, ainda é muito popular, mas mais como calçado de moda para uso cotidiano. Os jogadores da NBA raramente usam Air Jordans em quadra hoje em dia. Bryant tentou contrariar essa tendência ao se aposentar, e a Nike lançou modelos que definiu como “protro”: aparência retrô da linha Bryant mas com os mais modernos recursos dos calçados para profissionais.

Embora fossem populares junto aos jogadores de basquete, os modelos da linha Bryant não eram os mais populares para uso fora das quadras, com jeans ou calças de moletom.

Antes da morte de Bryant, o mercado para sua linha de tênis era um nicho, disse Chad Jones, fundador do Another Lane, um mercado para colecionadores de tênis. “Em termos de desempenho, muitos atletas de alta performance amavam os modelos Kobe, mas é a moda que vai determinar o sucesso de vendas de um modelo para as massas”, disse Jones.

A Nike não assinou um contrato para todos os efeitos vitalício com Bryant, como fez com Jordan e James, o que desperta questões sobre o valor continuado que a empresa via em sua grife. Os tênis Kobe usados por atletas da NBA costumam ser produtos de edição limitada ou em cores especiais, que um consumidor comum não poderia comprar, o que explica por que sua popularidade em quadra não se traduz necessariamente em popularidade nas ruas.

Desde a morte de Bryant, a Nike lançou novos produtos com sua marca, mas em geral em edições limitadas, vendidas pelo app SNKRS. Os estoques desses modelos se esgotaram quase instantaneamente, e eles não demoraram a ser oferecidos em revenda por valores muito mais altos, nos sites de comércio especializado, gerando acusações de que a companha estava permitindo que os revendedores faturassem com a morte de Bryant.

“Quando as pessoas não conseguem comprar o produto no varejo mas só em uma plataforma de revenda, por preços duas ou cinco vezes mais altos, elas se irritam”, disse Jones.

Em comunicado divulgado no Instagram na noite de segunda-feira, Vanessa Bryant, viúva de Kobe, escreveu que sua esperança era “criar uma parceria duradoura com a Nike que reflita o legado de meu marido”, e deu a entender que encontraria maneiras de continuar a vender os produtos com a marca Bryant, talvez em quantidades maiores.

“Minha esperança será sempre a de permitir que os fãs de Kobe comprem e usem seus produtos”, ela escreveu. “Os estoques dos produtos Kobe se esgotam em segundos. Isso diz tudo."

Bryant nem sempre foi um jogador de alta popularidade, e os modelos iniciais de calçados com sua marca não foram sucesso de vendas. Por meio de repetidas viagens à China e de seu sucesso nas Olimpíadas, ele ganhou fama fora dos Estados Unidos e passou a ser reverenciado pela geração de jogadores de NBA que surgiu depois dele.

Se o ano transcorrido desde a morte de Bryant mostrou alguma coisa, foi que mesmo depois de sua aposentadoria a popularidade do atleta continuava a crescer. Ele vinha fazendo novas conexões em Hollywood, abriu uma academia de esportes e se tornou um defensor proeminente e de alta visibilidade do basquete feminino.

Tradução de Paulo Migliacci

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