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Tóquio 2020

Incertezas assombrarão todos os cem dias até a Olimpíada de Tóquio

Realização dos Jogos na pandemia faz com quem ninguém saiba ao certo o que encontrará no Japão

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São Paulo

Há mais de um ano, quando a pandemia de Covid-19 virou ameaça à realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio em sua programação original, o evento passou a ser indissociável da palavra “incerteza”.

É assim até hoje, a cem dias da remarcada data para sua cerimônia de abertura. E assim será até que a chama olímpica entre no Estádio Nacional da capital japonesa, em 23 de julho, para inaugurar os Jogos da 32ª Olimpíada.

Mas isso realmente acontecerá? É o que o mundo do esporte se pergunta durante todo esse tempo. Ainda que o COI (Comitê Olímpico Internacional) e o comitê organizador banquem que sim, muitos só acreditarão quando de fato se concretizar.

A desconfiança não é sem motivo. Nem a Olimpíada reconhecidamente mais bem-planejada de todos os tempos pôde prever a devastação causada pelo coronavírus.

Apesar de grandes competições esportivas terem sido realizadas desde o segundo semestre de 2020 —com maior ou menor sucesso no controle do vírus—, nenhuma pode ser comparada a uma edição dos Jogos em grandeza e complexidade.

Serão cerca de 11 mil atletas (sem contar a Paraolimpíada) de aproximadamente 200 países, além de treinadores, demais membros das delegações, jornalistas, viajando por um mundo em que a tendência é o fechamento de fronteiras, não a livre circulação.

Torcedores e voluntários que vivem fora do Japão já foram barrados, e a presença de público nas arenas permanece como dúvida.

O país de 126 milhões de habitantes registrou 508 mil casos de Covid e 9.393 mortes em decorrência da doença até esta terça-feira (13).

Anteriormente, havia a expectativa de que, em determinado momento deste ano, a batida de um martelo cravasse definitivamente a realização do megaevento, eliminando as dúvidas e permitindo que todos se planejassem para os Jogos em seu novo cenário, qualquer que fosse.

Isso não aconteceu, nem deve acontecer. O discurso do COI e do comitê organizador sustenta que a realização da Olimpíada está garantida desde a sua remarcação e que a discussão sempre foi sobre como fazê-la, não se seria feita.

O início do revezamento da tocha pelas 47 províncias japonesas, em 25 de março, foi o maior “agora vai” até o momento, mas, logo na sequência, o adiamento de competições-teste e o cancelamento da passagem da chama pelas ruas de Osaka —teve que circular por um parque fechado, justo na marca dos cem dias— soou como deboche: “vai mesmo?”.

À frente do monumento, uma pessoa passa chama da sua tocha para outra
Em Osaka, revezamento da tocha olímpica ocorreu dentro de um parque, sem acesso do público - Tokyo 2020 - 13.abr.21/Xinhua

Milhares de atletas pelo mundo querem se apresentar no principal palco do esporte, ainda que isso signifique riscos à saúde e que, para muitos, o rotineiro ato de treinar tenha se transformado em suplício desde o início de 2020.

Mas o desejo dos protagonistas do espetáculo não é o fator preponderante. O clamor real vem dos bilhões de dólares relacionados aos direitos de TV, principal fonte de receita do COI, e dos patrocinadores.

No Japão, onde pesquisas apontam que cerca de 70% da população rejeita a realização dos Jogos em 2021, houve divergências na decisão de levá-los adiante, com declarações contraditórias entre membros do governo.

Prevaleceu, porém, a decisão de manter o contrato com o comitê internacional e garantir sua fatia do bolo, após gastos de cerca de US$ 15,4 bilhões na organização —US$ 2,8 bilhões são extras, em decorrência do adiamento.

Se foi o melhor caminho, não será possível responder antes do fim da Paraolimpíada, em 5 de setembro.

Até lá, não haverá dias sem que as tais incertezas assombrem os Jogos em todos os seus níveis. Apesar de os primeiros guias de regras sanitárias para os participantes terem sido lançados em fevereiro, por enquanto o exercício de imaginar como será o dia a dia no Japão durante o evento é missão quase impossível entre atletas, técnicos, dirigentes e jornalistas. Cada um trabalha com as informações que possui e segue em frente, tateando no escuro.

Alguns assuntos mencionados pelas autoridades olímpicas nas últimos meses carecem de informações concretas. Por exemplo, a intenção de receber vacinas da China, anunciada pelo COI em março com o objetivo de proteger atletas e sobre a qual pouco se soube desde então.

As informações oficiais indicam que não será obrigatório estar vacinado para competir, devido ao ritmo discrepante da imunização entre os países. O próprio Japão só aplicou doses em profissionais de saúde até o momento.

Há ainda infindáveis questões na esfera esportiva a serem respondidas: como um teste positivo de coronavírus impactará os esportes coletivos ou membros de uma delegação que treinaram com a pessoa infectada? As grandes estrelas olímpicas receberão o mesmo tratamento disciplinar em caso de descumprimento de protocolos? Países mais afetados pela Covid-19, como o Brasil, sofrerão restrições mais duras na chegada ao Japão?

Muitas outras dúvidas povoam a cabeça dos milhares de envolvidos nos Jogos. Mas elas não serão eliminadas tão cedo. Pelo contrário, dominarão o noticiário olímpico até o evento e ao longo dele, tanto quanto as medalhas e as grandes histórias de costume.

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