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Recuperada de tumor e do medo, Juliana Mello planeja volta ao vôlei

Após ter cirurgia cancelada, atleta de 26 anos descobriu procedimento não invasivo

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São Paulo

Juliana Mello, 26, lembra de ter ficado imóvel, sem reação diante do médico. Ela já havia pesquisado sobre o assunto na internet. O especialista apenas confirmava as expectativas. Sua mãe, Sandra, chorava sem parar. O pai, José Maria, não aguentou escutar e saiu da sala.

A central com passagens pelas equipes de vôlei do Flamengo, Osasco, Sesi e São Caetano tinha um neuroma do acústico, tumor benigno na cabeça que, ao crescer lentamente, pode afetar funções vitais. A saída era fazer uma cirurgia.

"O médico falou tudo sem rodeios. Disse que as sequelas poderiam ser eu ficar com o olho esquerdo caído, não piscar, não mexer o lado esquerdo da boca, perder a audição e não voltar mais a jogar vôlei", afirma Juliana.

Em conversa com a Folha nesta semana pelo aplicativo Zoom, ela estava sorridente e sem cicatrizes no rosto. Escutava, falava normalmente e estava pronta para iniciar atividades físicas que vão permitir seu retorno ao esporte.

"Tinha de operar. Não havia alternativa, era um tumor. Mas eu estava apavorada. Precisaria de seis meses de reabilitação depois só para aprender a andar, porque mexe com o labirinto. Era um tumor de 2,8 cm. Não era pequeno. Além de tudo, eu estava com muito medo de pegar Covid-19 no hospital", conta.

A cirurgia foi marcada para 21 de janeiro. Dois dias antes, acabou cancelada por causa do aumento dos casos de Covid-19. Não havia leitos de UTI disponíveis.

"Eu sou espírita. Acredito que nada é por acaso", declara a atleta.

Juliana Mello se recupera em sua casa, no Jardim Prudência, zona sul da capital
Juliana Mello se recupera em sua casa, no Jardim Prudência, zona sul da capital paulista - Eduardo Knapp/Folhapress

A operação foi remarcada para 8 de março e depois postergada por mais 8 dias. Nesse intervalo de tempo, o neurologista lhe telefonou para contar ter lido sobre uma alternativa médica para se livrar do tumor e sugeriu que Juliana procurasse a neurocirurgiã Alessandra Gorgulho, do hospital Vila Nova Star, em São Paulo. Na primeira consulta, a atleta decidiu que seguiria o novo tratamento.

No último dia 16, a paciente passou por radiocirurgia com o uso de um bisturi robótico chamado CyberKnife. O tumor foi atacado com a emissão de fótons com exatidão submilimétrica, uma escala mais precisa do que o milímetro. O procedimento não invasivo durou 15 minutos. Juliana saiu da sala de cirurgia andando e apenas disse para a mãe, que chorava: "Vamos para casa?".

"É incrível, mas, se não fosse a pandemia, eu teria sido operada [pelo método convencional]", constata ela.

Até sair daquela sala da cirurgia, a vida da central era um turbilhão. Sua avó morrera em abril do ano passado. Uma prima que Juliana considera como irmã sofreu aborto espontâneo. Ela teve de lidar com tudo isso enquanto se preocupava com a própria saúde.

A jogadora começou a perceber que havia algo errado em fevereiro de 2020. Estava sem sensibilidade na boca, mas não deu muita importância. Achou ser reação adversa a um remédio contra gripe que tomava. Em junho, sentiu que perdia audição do lado esquerdo.

Sem plano de saúde, que não era oferecido pela sua equipe, o São Caetano —"Não são todos os times de vôlei que têm plano de saúde, é raro", observa— e sem dinheiro para pagar uma ressonância, ela não fez nada. A inação durou até acordar com um sangramento no ouvido. Foi quando decidiu agir.

Seus pais se esforçaram e fizeram um plano de saúde para a filha. O exame detectou o tumor. A cirurgia e o processo de reabilitação, não cobertos pelo seguro, custariam R$ 85 mil, dinheiro que ela não tinha. Algumas amigas sugeriram tentar uma vaquinha virtual, que foi divulgada também por outros nomes do esporte, como Jaqueline, Nalbert e Bruninho.

"A ideia era conseguir pelo menos a metade do valor. Para o restante eu faria um empréstimo no banco. Em dois dias, arrecadei R$ 110 mil", lembra.

O valor era pela operação e recuperação tradicionais. A intervenção com radiocirurgia foi mais barata (ela não diz quanto), e o dinheiro vai ajudá-la no período em que está parada, sem emprego. O Osasco já entrou em contato lhe oferecendo para treinar a parte física.

"A Superliga nem acabou ainda. Os times vão começar a se movimentar agora em abril, maio, para começar a temporada em julho. Acho que neste ano ainda vou voltar a jogar", projeta.

É uma mudança de mentalidade para quem, com medo das sequelas da cirurgia, já pensava no que fazer fora do esporte. Juliana é micropigmentadora e designer de sobrancelhas. Imaginava abrir uma clínica. Mas agora se diz "desesperada" para voltar às quadras.

"É horrível ver pela TV. Eu lembro quando estreei, tremia feito vara verde. Acho que o nervosismo quando retornar será o mesmo", especula, deixando a carreira na estética para o futuro.

Depois de tudo, Juliana Mello quer aproveitar o vôlei porque vê tudo como uma nova chance. E cita o incidente que a levou definitivamente ao médico e a fez descobrir a doença como prova disso. "O médico não soube explicar o sangramento. Não teve nada a ver com o tumor."

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