Descrição de chapéu Tóquio 2020

Artigo critica medidas dos Jogos Olímpicos contra Covid e pede revisão urgente

Autores afirmam que Tóquio-2020 não se guia pelas melhores evidências científicas

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São Paulo

Um artigo publicado nesta terça-feira (25) na revista científica The New England Journal of Medicine afirma que o cancelamento dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Tóquio-2020 seria a opção mais segura no atual momento da pandemia de Covid-19, mas também indica caminhos para que o evento ao menos seja realizado com maiores níveis de segurança do que os apontados pelos seus organizadores até agora.

Annie Sparrow, especialista em saúde pública que já atuou como conselheira de Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), escreveu o artigo com mais três coautores: Lisa Brosseau, Robert Harrison e Michael Osterholm.

Eles apontam que, mesmo com perspectiva de que a maioria dos atletas e demais participantes dos Jogos esteja vacinada, alguns não estarão, assim como grande parte da população japonesa. Além disso, terminadas as competições, milhares de pessoas retornarão para cerca de 200 países, colocando outras tantas em risco.

Na avaliação dos autores do artigo, os playbooks (manuais de regras sanitárias) divulgados até agora pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) e pelos organizadores locais não seguem as melhores evidências científicas e falham "tanto em distinguir os vários níveis de risco enfrentados pelos atletas quanto em reconhecer as limitações de medidas como exames de temperatura e coberturas faciais".

Falta, de acordo com eles, discutir a segurança da Olimpíada sob o ponto de vista da inalação de partículas infecciosas e possibilidades de ventilação. "Ao planejar qualquer evento, a primeira tarefa deve ser identificar as pessoas com maior risco de exposição e as funções, atividades e locais para os quais a exposição será maior. [...] Por longos períodos, o distanciamento físico desempenha um papel menos relevante em espaços fechados, à medida que as partículas se distribuem por todo o espaço", escrevem.

Para os autores, os manuais deveriam classificar os eventos como de risco baixo, moderado ou alto, dependendo da atividade e do local, e adaptar os protocolos para eles. Por exemplo, eventos ao ar livre com atletas espaçados, como vela, tiro com arco e hipismo, podem ser considerados de baixo risco. Outros esportes ao ar livre, mas com contato, como futebol e rúgbi, de risco moderado. Lutas em ambientes fechados seriam de alto risco.

O convívio em restaurantes, meios de transporte e hotéis ou quartos da Vila Olímpica, com dormitórios compartilhados, também desperta a preocupação dos autores, assim como o rastreamento de contatos e atividades por meio de aplicativos para celular.

Há ainda críticas à falta de detalhes sobre os testes de coronavírus a que os atletas estarão submetidos. Sabe-se que os exames serão diários, mas a princípio com um antígeno de saliva, não com um RT-PCR (padrão ouro) —este só seria usado para confirmação de resultados positivos.

Placa roxa escrita staff only em arquibancada
Aviso de que apenas funcionários são permitidos em área de evento-teste do ciclismo BMX para Olimpíada de Tóquio - Issei Kato - 17.mai.21/Reuters

Uma terceira (e provavelmente última) versão dos playbooks será lançada no próximo mês. Os Jogos Olímpicos têm início marcado para 23 de julho, e os Paraolímpicos, 24 de agosto.

"Recomendamos que a OMS convoque imediatamente um comitê de emergência que inclua especialistas em segurança e saúde ocupacional, engenharia de construção e ventilação e epidemiologia de doenças infecciosas, bem como representantes de atletas, para considerar esses fatores e aconselhar sobre uma abordagem de gerenciamento de risco para o Jogos Olímpicos de Tóquio", afirmam, lembrando que algo parecido foi feito antes dos Jogos do Rio-2016, quando a ameaça era o vírus da zika.

"Cancelar os Jogos pode ser a opção mais segura", reforçam, antes de ponderarem que esse é um dos poucos eventos capazes de "conectar em um momento de desconexão global". "Para que possamos nos conectar com segurança, acreditamos que uma ação urgente é necessária para que esses Jogos Olímpicos continuem", encerram.

Toshiro Muto, presidente-executivo do comitê organizador, não quis comentar o artigo, dizendo ao The New York Times que não o havia lido, mas defendeu o planejamento adotado até agora.

"Estamos acessando diferentes conhecimentos e vamos atualizar os manuais com base na ciência”, afirmou Muto, acrescentando que os eventos-teste forneceram informações para os organizadores olímpicos.

Nesta quarta, a presidente do comitê, Seiko Hashimoto, disse que uma sequência de disputas de diferentes esportes com um total de 7.000 participantes de cerca de 50 países resultou em apenas um caso positivo de Covid-19. "Evidência de que nossas precauções atuais contra o coronavírus são eficazes."

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