A quatro vezes campeã de torneios do Grand Slam Naomi Osaka, 23, anunciou nesta quarta-feira (26) que não dará entrevistas coletivas em Roland Garros neste ano. Para ela, esses eventos sobrecarregam a saúde mental dos jogadores.
Atletas podem ser multados em até US$ 20 mil (R$ 105 mil) por não comparecer a uma entrevista coletiva em Slams. A japonesa disse que está ciente da multa e espera que os valores desembolsados por ela sejam destinados para uma instituição de caridade voltada a questões de saúde mental.
“Sempre achei que as pessoas não se importam com a saúde mental dos atletas, e isso parece verdadeiro sempre que vejo uma coletiva de imprensa ou participo de uma", escreveu em um comunicado. "Frequentemente, sentamos lá e recebemos perguntas que já foram feitas várias vezes antes ou perguntas que trazem dúvidas em nossas mentes, e eu não vou me sujeitar a pessoas que duvidem de mim."
Osaka ainda comparou a situação de responder a perguntas após derrotas a chutar uma pessoa enquanto ela está caída.
A atual número 2 do mundo afirmou que a decisão não se deve a sentimentos pessoais contra o torneio e acrescentou que tem um relacionamento amigável com muitos dos jornalistas que acompanham o circuito. "No entanto, se as organizações pensam que podem simplesmente continuar dizendo, 'dê a entrevista ou você será multada', e continuar a ignorar a saúde mental dos atletas, então só tenho que rir."
A psicóloga esportiva Daria Abramowicz, que trabalha com a atual vencedora de Roland Garros, Iga Swiatek, e viaja com a equipe da tenista polonesa, disse que aprecia a preocupação de Osaka em enfrentar questões após uma derrota.
"Eu entendo perfeitamente a decisão. O tênis é um esporte tão específico, porque no final do torneio apenas uma pessoa não perde", declarou ela à Reuters nesta quinta-feira. "É emocionalmente difícil lidar com isso, é um dos desafios que o tênis traz. Às vezes, é opressor."
Nesta semana, o site de negócios esportivos Sportico relatou que Osaka ganhou US$ 55,2 milhões nos últimos 12 meses (entre premiações e contratos), um recorde para uma atleta de qualquer esporte. No ano passado, ela também se notabilizou ao usar seu alcance esportivo para destacar questões sobre violência policial e desigualdade racial.
O Grand Slam no saibro, que vai de 30 de maio a 13 de junho, nunca foi um torneio favorável para a japonesa, que abriu mão de jogar em Paris em 2020 logo após vencer o US Open. Ela não passou da terceira rodada em suas quatro participações.
A Federação Internacional de Tênis e a WTA (Associação do Tênis Feminino) não responderam aos pedidos de comentários. A Federação Francesa de Tênis, que organiza Roland Garros, disse à Reuters que não faria "nenhum comentário por enquanto".
"Como patrocinador, respeitamos os sentimentos e a vontade dos atletas", afirmou a empresa Nissin, um dos principais patrocinadores de Osaka, em um comunicado enviado à Reuters. "No entanto, não estamos em posição de comentar sobre suas opiniões e ações individuais, portanto, nos absteremos de fazê-lo."
Uma porta-voz da fabricante japonesa de automóveis Nissan disse que não tinha comentários, enquanto um porta-voz da All Nippon Airways se recusou a comentar. Os outros patrocinadores de Osaka não responderam aos pedidos de comentários.
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