Série B começa com o maior número de campeões brasileiros da história

Competição tem Botafogo, Coritiba, Cruzeiro, Guarani e Vasco na briga pelo acesso

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São Paulo

O segundo grande clube brasileiro a cair para a segunda divisão nacional foi o Fluminense, em 1996, mas foi o primeiro grande trauma. O rebaixamento foi um escândalo. Além da busca por culpados, iniciou-se um movimento para evitar que o time disputasse a Série B, o que, para dirigentes e torcedores, seria humilhante.

O ex-jogador Gerson, ídolo tricolor e então comentarista da Band, disse ao vivo que o Fluminense não tinha de virar a mesa e sim, quebrá-la.

Disputa de bola no  jogo entre Botafogo e Sport, que rebaixou o clube carioca no Brasileiro de 2020
Disputa de bola no jogo entre Botafogo e Sport, que rebaixou o clube carioca no Brasileiro de 2020 - Vitor Silva-5.fev.21/Botafogo

O clube não disputou a Série B em 1997 por causa da descoberta de um esquema de arbitragem que ficou conhecido como “caso Ivens Mendes”. Mas a cena do presidente da agremiação, Álvaro Barcellos, abrindo uma garrafa de champanhe para comemorar a permanência na elite daquela forma entrou para a história. Dois anos mais tarde, a equipe disputou a Série C.

Antes dele, o Grêmio havia sido rebaixado em 1991.

A queda de um grande continua traumática para a sua torcida, mas deixou de ser algo tão surpreendente. Nesta sexta (28), a Série B de 2021 terá início às 16 horas, quando o Londrina recebe o Brasil de Pelotas. Pela primeira vez na história, o torneio terá cinco times que já foram campeões nacionais da Série A (Botafogo, Coritiba, Cruzeiro, Guarani e Vasco).

Metade dos considerados grandes do Rio de Janeiro disputará a divisão de acesso. Mesmo a visão de que o grande rebaixado sobe no ano seguinte foi por terra. O Cruzeiro em 2020 esteve mais perto de ir para a Série C do que voltar à elite.

“Esta será a Série B com mais atrativos dos últimos anos. E não creio que ninguém ganhará com a camisa, como pode ter acontecido no passado. Será a mais difícil, com muito perde-ganha e distribuição de pontos”, acredita Marcelo Cabo, que será técnico pelo sétimo ano na competição. Ele agora comanda o Vasco.

Na era dos pontos corridos, iniciada em 2003, o ano que mais se aproxima de 2021 na quantidade de campeões nacionais é 2005, quando Guarani, Grêmio, Sport e Bahia estavam na B. Mas naquela temporada, a divisão de acesso tinha 22 equipes, não 20 como é hoje em dia. Neste ano, a Série A terá 12 que já levantaram a taça: Athletico, Atlético-MG, Bahia, Corinthians, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, Sport e São Paulo.

“A visão que existe ainda é que se você termina em 16º na Série A está no paraíso, mas se ficar em 17º está no inferno. A Série B precisa deixar de ser vista como um inferno e isso pode acontecer se a distribuição de dinheiro for mais igualitária. O time é rebaixado porque passa por problemas. Se você achata a vida financeira dele, só vai piorar”, analisa Marcelo Segurado, que foi executivo de futebol quando o Goiás foi campeão da segunda divisão em 2012. Ele também trabalhou no Ceará.

A queda de receita, principalmente nos direitos de TV, é significativa. O Cruzeiro passou de R$ 100 milhões em 2019 para R$ 40 milhões em 2020 e mesmo assim foi quem mais recebeu entre os clubes da Série B na temporada passada.

O futebol brasileiro fora da elite ganhou estabilidade a partir do sistema em pontos corridos. Apesar da versão atual do Nacional ter sido criada em 1971, apenas na década de 1980 passou a ser disputada com regularidade. O embrião foi a Taça de Prata, competição que não era vista como segunda divisão, apesar de dar acesso à elite, então chamada de Taça de Ouro.

Antes de 2003, o sistema de disputa do Brasileiro mudou tanto, assim como a quantidade de equipes participantes, que o São Caetano, por exemplo, saiu da segunda divisão para jogar a final da primeira na mesma temporada –na Copa João Havelange, em 2000.

Durante anos, dirigentes lutaram contra a queda de grandes clubes. Um dos maiores defensores de um sistema de castas no futebol nacional foi Eurico Miranda (1944-2019). Ele argumentava que o futebol nada tinha a ganhar com o rebaixamento de times tradicionais e de numerosa torcida.

“Eu não tenho dúvidas de que será a Série B mais disputada da história. Quando o calendário foi fixado com 20 equipes na Série A e mais 20 na B, gerou uma competitividade enorme. O Brasil tem muitos times grandes, muitos campeões. Nem todos podem caber na elite. Então, quem não tiver planejamento e organização, vai cair mesmo. Ou se estiver na segunda divisão, não sobe”, afirma o ex-volante Daniel Paulista, agora técnico do Guarani, que enfrenta o Vitória também nesta sexta.

Uma consequência disso pode ser a punição em campo às agremiações que buscam soluções imediatistas. Aquelas que apenas adiam problemas estruturais e financeiros.

“As gestões dos anos 1980 e 1990 eram amadoras, passionais. Algumas continuaram assim. Olhe o que aconteceu com o Vasco, Botafogo, Cruzeiro, o endividamento… Essa coisa do imediatismo do futebol brasileiro faz com que os clubes busquem soluções fáceis e acabem ficando cada vez mais reféns dos direitos de TV. Quando o rebaixamento acontece e esse recurso diminui, é catastrófico”, enfatiza Marcelo Segurado.

“Mas a gente pode também ver de outra forma. É bom para o país ter uma segunda divisão forte. Todos têm a ganhar”, completa Marcelo Cabo.

Ele prepara o Vasco para estrear no torneio contra o Operário, neste sábado (29).

Times da Série B de 2001 que já foram campeões brasileiros

Botafogo
Campeão brasileiro em 1968, conseguiu repetir a dose em 1995, quando tinha Túlio como artilheiro

Coritiba
Em jogo único e fora de casa, derrotou o Bangu nos pênaltis e foi campeã em 1985

Cruzeiro
Um dos clubes mais tradicionais do país, venceu em 1966, 2003, 2014 e 2015

Guarani
Com um time que tinha o atacante Careca em começo de carreira, derrotou o Palmeiras na decisão do Brasileiro 1978

Vasco
Último título veio com Romário, na Copa João Havelange, em 2000. Antes, ganhou o Nacional em 1974, 1989 e 1997

Erramos: o texto foi alterado

O Grêmio foi o primeiro grande clube brasileiro a ser rebaixado para a segunda divisão, em 1991. O texto foi corrigido

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