Copa América tem abertura fria em contraste com ebulição pré-torneio

Em Brasília, seleção derrota com facilidade venezuelanos, desfalcados de 11 atletas por Covid

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São Paulo e Brasília

A Copa América começou na noite deste domingo (13), em Brasília, sem a pompa da abertura de um grande evento esportivo. Seu maior incentivador do ponto de vista político, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), não foi ao jogo entre Brasil e Venezuela no estádio Mané Garrincha, de arquibancadas vazias.

Em campo, a seleção do técnico Tite não precisou de uma grande atuação e mesmo assim venceu com facilidade, por 3 a 0, um adversário desfalcado de 11 atletas que contraíram a Covid-19. Mesma doença que mata, em média, cerca de 2.000 pessoas por dia no país-sede do torneio.

O zagueiro Marquinhos abriu o placar, ainda no primeiro tempo de uma partida não muito movimentada. Neymar, na segunda etapa, marcou de pênalti seu 67º gol pela seleção, se tornando o segundo maior artilheiro da história da camisa verde e amarela empatado com Ronaldo —na contagem da CBF— e atrás apenas de Pelé. Gabriel Barbosa, o Gabigol, deu números finais ao jogo.

Apesar das expectativas de que compareceria à abertura, Bolsonaro se limitou a postar uma foto em suas redes sociais ao lado de uma televisão e com a camisa do Brusque, de Santa Catarina —time patrocinado pela Havan, do aliado Luciano Hang. Bolsonaro também apontava, na imagem, para o logo do SBT, emissora que tem os direitos de transmissão do evento na TV aberta.

A emissora de Silvio Santos é alinhada a Bolsonaro. Fábio Faria, ministro das Comunicações, é genro do empresário. Bolsonaristas também manifestam apoio à emissora, em contraponto à TV Globo, que consideram uma adversária do governo.

Desde que assumiu o poder, o presidente tem sido um frequentador assíduo de jogos de futebol, em Brasília e em outras cidades. Foi à tribuna do Mané Garrincha em um jogo do Flamengo, por exemplo, que ele levou seu então ministro da Justiça, Sergio Moro, quando o auxiliar começava a sofrer desgaste com o vazamento de mensagens de suas conversas com integrantes da Operação Lava Jato, em 2019.

Bolsonaro também foi à final da Copa América de 2019, no Maracanã, entrou em campo e posou para foto ao lado dos jogadores brasileiros, com a taça de campeão do torneio.

Horas antes do pontapé inicial deste domingo, houve aglomeração de um grupo de dezenas de torcedores em frente ao hotel em que a seleção se hospedou, nas imediações do Mané Garrincha. Pequenos grupos de torcedores também se aglomeraram em alguns pontos ao redor do estádio.

Também houve pequenos protestos contra a realização da Copa América, na capital federal e em São Paulo.

A competição viu uma debandada de seus patrocinadores nas últimas semanas. Ambev e Mastercard, por exemplo, deixaram de apoiá-la. No Mané Garrincha puderam ser vistas propagandas da Sinovac, a farmacêutica chinesa produtora da vacina Coronavac, que já foi criticada por Bolsonaro e é uma das bandeiras do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Por meio de um acordo que a colocava como parceira do evento, a empresa disponibilizou 50 mil doses do seu imunizante para a Conmebol.

No início da tarde deste domingo, a confederação sul-americana soltou uma nota para tentar se defender das críticas pela realização do torneio, críticas essas que partiram, inclusive, dos jogadores da seleção brasileira e da comissão técnica.

A confederação diz não ter realizado o torneio "às pressas", nem por "capricho" ou com "improviso", apesar de a escolha do Brasil ter sido feita a menos de duas semanas da estreia, em acordo com o governo de Jair Bolsonaro.

A vinda do torneio para o Brasil foi a faísca da crise entre os jogadores da seleção brasileira e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

O anúncio de que a Copa América seria sediada no país também causou verdadeiro alvoroço político. Ao mesmo tempo em que é alvo de fortes críticas e de uma CPI por erros e omissões cometidas no combate à Covid-19, Bolsonaro se tornou o principal avalista político da competição após a recusa de Colômbia e de Argentina de receberem o evento.

Brasileiros comemoram gol contra a Venezuela
Brasileiros comemoram gol contra a Venezuela - Henry Romero/Reuters

Em parceria com o presidente da CBF, Rogério Caboclo (afastado por 30 dias), Bolsonaro bancou a competição em meio à pandemia, o que resultou, inclusive, em uma ameaça de boicote por parte dos jogadores e da comissão técnica da seleção brasileira.

Os jogadores não gostaram de não terem sido avisados da movimentação. Deixaram de falar com a imprensa e, internamente, se articularam, com endosso de Tite. Caboclo especulou trocar a comissão técnica.

Durante toda a crise, Tite foi alvo de redes bolsonaristas, que pediam sua troca por Renato Gaúcho. Um dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), chegou a chamar o treinador de "puxa-saco" de Lula.

No último dia 4, a crise teve seu estopim, com a revelação de uma denúncia de assédio sexual contra Rogério Caboclo feita por uma funcionária. No último domingo (6), ele foi afastado pelo Comitê de Ética da CBF.

Assim, a ira dos jogadores arrefeceu. O boicote, que dependia também de apoio de outras delegações, foi descartado. Os atletas publicaram um manifesto crítico à Copa América, mas que nem sequer citou as denúncias e colocou panos quentes na crise.

Os temores sanitários sobre a realização da Copa América, no entanto, aumentaram enquanto o torneio se aproximava. Já foram registrados 17 casos de Covid-19 em delegações estrangeiras: 13 na Venezuela e 4 na Bolívia.

A próxima partida da seleção brasileira acontece na quinta-feira (17), às 21h, contra o Peru, no estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro.

No outro jogo deste domingo do Grupo B, o mesmo do Brasil, a Colômbia venceu o Equador por 1 a 0.

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