Descrição de chapéu Tóquio 2020 Legado Rio-2016

Foi um ato de heroísmo entregar Olimpíada do Rio, diz Paes

Prefeito defende legado dos Jogos, apesar de degradação de algumas obras 5 anos depois

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Rio de Janeiro

Cinco anos após comandar a cidade-sede da Olimpíada, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), comemora estar do outro lado do mundo durante o evento, que se realizará em Tóquio.

“Se tivesse naquela posição anterior, faria. Mas se for para fazer uma nova, nem por um decreto. A Olimpíada está em Tóquio, e eu estou no lugar mais distante dela”, afirmou ele, em entrevista à Folha.

Paes descreve como um “ato de heroísmo” ter realizado os Jogos em meio às crises política e econômica pelas quais passou o país às vésperas da Rio-16.

Ele defende o legado que considera ter sido deixado pelas obras feitas para o evento. Apesar da degradação do sistema de corredores de ônibus (os chamados BRTs) e dificuldades na revitalização da zona portuária, principais símbolos das obras urbanas, o prefeito considera positivo o saldo dos Jogos para a cidade.

“Tem um superlegado. Falta ao Brasil e à cidade voltar a crescer [economicamente] para ter esse legado usado na plenitude”, disse ele.

Parte da degradação ele atribui ao antecessor, Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), que o sucedeu no cargo após os Jogos e a quem derrotou na eleição do ano passado. Em seu terceiro mandato na cidade, ele afirma que pretende voltar a administrar todas as arenas do Parque Olímpico, atualmente sob gestão do governo federal.

“Está há quatro anos com o governo federal e não fizeram nada. Acho que aquilo tem um potencial muito maior”, afirmou ele.

Valeu a pena? Valeu muito a pena para a cidade. Tem um legado concreto, incrível, que uma parte não foi usado em sua plenitude.

Pode-se dizer que o BRT foi abandonado, mas não pode culpar o legado pelo abandono. O Porto Maravilha deu uma segurada. É claro, o Brasil parou. Mas tem um superlegado ali. Falta ao Brasil e à cidade voltar a crescer para ter esse legado usado na plenitude.

Tem o legado esportivo, que executamos com muito recurso privado, sem elefante branco.

O legado intangível, de imagem, o Brasil e o Rio perderam uma grande oportunidade. Na hora em que o Rio estava no auge de atenção foi talvez um dos piores momentos da história brasileira. Crise política, econômica e ética.

Em 2016, à Folha, o senhor disse que a imagem dos Jogos melhoraria com o tempo. Melhorou? Não melhorou porque o Brasil não saiu da sua crise. Pelo contrário, ela perdura. As pessoas com o tempo vão reconhecendo, separando o joio do trigo.

O senhor ainda acha que a experiência da Rio-16 se assemelha à de Barcelona-92? Totalmente. Tirando o legado intangível. A Espanha estava num momento de ascensão durante a Olimpíada e consolidou isso. O Brasil quando ganha está com o Cristo Redentor subindo, mas termina com ele caindo na lama.

Não se assemelha mais ao de Atenas-04? Não, porque o Rio não tem nenhum elefante branco do ponto de vista esportivo e tem um legado urbano efetivo. Todas as contas foram pagas. Não tem dívida criada pela Olimpíada.

O governo do estado tem uma dívida para quitar pela linha 4 do metrô. Mas é um legado urbano.

Foi um compromisso para a Olimpíada na área mais rica da cidade. Foi uma entrega maior do que se prometeu. Olimpíada foi o argumento para trazer o metrô. Se roubaram ali, não sei.

Depois da Rio-16, a disputa entre cidades para sediar a Olimpíada quase não existe mais. A experiência do Rio traumatizou? Acho que não. A experiência de Atenas e outras poderiam ter feito isso. Acho que o custo desses eventos acaba sendo impeditivo. É um evento que sempre foi contestado. Mas tem Olimpíada até 2028 definida.

Essa coisa de gastos nós conseguimos acertar aqui. Eu fui convidado pelo COI em 2017 para construir um departamento de legado urbano, dado o exemplo do Rio. O Rio era um ‘case’. Mas tem todos esses escândalos, pancada de tudo que é lado, nem eu achei conveniente, nem o COI provavelmente achou bom eu estar tocando isso.

O Parque Olímpico até hoje não conseguiu um parceiro privado para gestão. Qual o futuro para gerir aquele espaço? Acertei ao passar [a gestão das arenas do Parque Olímpico] para o governo federal no fim do meu mandato. Se o Crivella não cuidou de nada, imagina o que ele faria ali. Não foi possível naquele momento construir uma nova PPP.

Vou tirar a cessão e vou tocar pela prefeitura. Está há quatro anos com o governo federal e não fizeram nada. Eles até deram uso, mas divulgaram pouco. Acho que aquilo tem um potencial muito maior.

Para a Arena 3 quero seguir o projeto de fazer a escola municipal. A Arena 2 continua como um espaço esportivo público, como está hoje. E gostaria de conceder a Arena 1, a maior.

Em breve a gente publica a licitação para desmontagem das duas arenas [de handebol e parque aquático], a construção das escolas [com a estrutura da Arena de Handebol]. Antes da Olimpíada de Tóquio.

Se for comparar o Parque Olímpico do Rio com o de Londres, nós estamos encontrando soluções num espaço mais curto do que eles encontraram lá.

O senhor disse que não havia elefante branco. O Parque Olímpico não é uma dor de cabeça? É uma dor de cabeça, mas comparado com os estádios olímpicos pelo mundo, fizemos coisas simples, baratas e muito dinheiro privado.

Gostaria que o privado tivesse recuperado o dinheiro que investiu. Não sou feliz pela economia ter se degringolado e o privado tomado prejuízo. Mas livrei a prefeitura do risco. O fato de ter feito muita coisa privada acabou ajudando muito. Seria muito mais caro manter tudo isso.

A concessionária está na Justiça apontado ter uma dívida milionária a receber para essa manutenção. Não é uma dívida que pode vir no futuro? É uma dívida que ela diz ter. A prefeitura vai argumentar. Tenho certeza que não devemos nada a eles.

A cidade precisou agora rever os termos do contrato da revitalização do porto. Vai haver uma redução nas obras e serviços da região? Fizemos uma reestruturação urbana em que conseguiu, no ambiente olímpico, fazer tudo o que foi feito. Aquilo [revisão de contrato] tem a ver com um país e uma economia que parou. Ninguém fez no mundo uma reformulação urbana como a que fizemos no porto.

É um espaço pronto para crescer. Tivemos lançamentos [de empreendimentos imobiliários] recentemente. A coisa começa a renascer. O Brasil precisa crescer.

Em outra entrevista à Folha, o senhor disse que a Olimpíada era uma oportunidade de mostrar que o Brasil não era só roubalheira, só Lava Jato. Hoje o senhor responde uma ação penal por conta de obra olímpica e teve relatos de corrupção do seu ex-secretário de Obras. Infelizmente tem o caso do meu secretário de Obras. Confesso que não sabia. Em relação a Deodoro, tenho absoluta tranquilidade. Mais denúncia que vem do nada, uma ação penal absurda. Reduzimos um custo que era de R$ 2 bilhões para R$ 600 milhões. Era para o governo federal fazer, depois o estado, e ninguém fazia. Conseguimos fazer em tempo recorde uma coisa simples.

Vários dos integrantes do governo federal: [ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo] Ramos, [ministro da Defesa] Braga Netto, general Fernando [Azevedo e Silva, ex-ministro da Defesa] acompanhando de perto, vendo nosso esforço. A empresa que fez o parque tomou prejuízo.

Infelizmente, ações a gente acaba respondendo a várias. Não é agradável. Mas tenho muita tranquilidade. Ali não há qualquer questão envolvendo o meu nome.

Faria de novo a Olimpíada? Se tivesse naquela posição anterior, faria. Mas se for para fazer uma nova, nem por um decreto. A Olimpíada está em Tóquio, e eu estou no lugar mais distante dela. Aquela valeu a pena, tenho muito orgulho de ter feito.

Fizemos aquela Olimpíada praticamente sozinhos. Com um governo federal complexo, que não entregou o que tinha se comprometido. Um governo estadual que não entregou nada. Um impeachment [da ex-presidente Dilma Rousseff], crise política sem precedentes. Entregamos aquilo com muita honra e fizemos um belo evento com um belo legado.

Foi um ato de heroísmo entregar aquela Olimpíada, naquele momento do Brasil.

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