Descrição de chapéu Tóquio 2020

Nadadora mais jovem do Brasil na Olimpíada converteu ansiedade em vaga

Stephanie, 16, foi premiada pela mãe com doce 'mais recompensador da sua vida'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

No final de 2019, Stephanie Balduccini nadou os 100 metros livre em 56 segundos exatos. Seu técnico, Wlad Veiga, lhe avisou que era possível se classificar para a Olimpíada de Tóquio. Ela não acreditou. Parecia algo distante demais.

No último dia 4, a atleta ganhou da família um presente pela confirmação da sua vaga na equipe brasileira do revezamento 4 x 100 m nos Jogos: uma Nutella no formato do símbolo olímpico.

“Eu estava no vestiário do Paineiras do Morumby [clube pelo qual compete], me trocando após o treino, quando recebi a mensagem da minha mãe dizendo que eu estava classificada. Saí pulando de alegria. Eu sabia que tinha chances, mas quando você tem certeza, é incrível”, afirma ela.

Aos 16 anos, Stephanie será a nadadora mais jovem da história do Brasil na Olimpíada. Considerados também os homens, apenas Ricardo Prado chegou ao evento com menos idade. Ele disputou os 400 metros medley em 1980, em Moscou, aos 15 anos.

Os 56 segundos de dezembro de 2019 poderiam não ser suficientes para ir a Tóquio. Mas os 55s06 que cravou na seletiva olímpica, realizada em 23 de abril, no Rio de Janeiro, foram. Foi o tempo que lhe garantiu no time do revezamento. Antes disso, ela já havia percebido que a possibilidade existia de verdade.

Stephanie Balduccini antes de treino para a Olimpíada, em seu clube em São Paulo, o Paineiras do morumby
Stephanie Balduccini antes de treino para a Olimpíada, em seu clube em São Paulo, o Paineiras do morumby - Adriano Vizoni/Folhapress

“Quando eu fiz 55s34, vi que a chance era real. Eu poderia ir para Tóquio. Mas não queria criar uma expectativa muito grande para não ficar decepcionada se não me classificasse”, lembra.

Isso fez com que seu nervosismo apenas aumentasse no dia da seletiva. Stephanie só se acalmou ao perceber não estar sozinha no sofrimento. Reparou que todas as suas concorrentes estavam uma pilha de nervos, assim como ela. É irônico, mas isso a tranquilizou.

Era apenas o início da ansiedade que duraria daquele dia até o instante em que recebeu a mensagem da mãe. Aquele 4 de junho foi a data em que se fechou a janela de seletivas ao redor do mundo. Ela sorri ao dizer ter sido a Nutella mais saborosa e recompensadora da sua vida.

“Foi uma espera muito, muito difícil”, reconhece, para lembrar em seguida que terá outras Olimpíadas pela frente depois de Tóquio.

Stephanie Balduccini é uma das maiores revelações da história da natação brasileira. Em 2019, ano que seu técnico viu a chance de classificação, foi a primeira atleta do país a ser campeã da modalidade em provas dos quatro estilos (livre, costas, peito e borboleta). De 10 que disputou no Brasileiro juvenil, venceu 7 e bateu três recordes nacionais.

Ela ficou com o ouro nos 500 e 100 metros livre, 100 e 200 metros costas, 100 metros peito, 100 metros borboleta e 200 metros medley.

Por causa da Olimpíada e do revezamento 4 x 100 m, Stephanie tem focado o treino nos últimos meses no nado livre, que considera sua especialidade atual (antes era o costas). Mas até então, treinava e competia em todas.

Focar ou não apenas um estilo é decisão que vai deixar para depois, assim como a buscar por uma bolsa de estudos para fazer faculdade e treinar nos Estados Unidos. A procura deve ser facilitada pela condição de atleta olímpica.

No caminho para obter a vaga, a pandemia da Covid-19 e o adiamento da Olimpíada por um ano ajudaram bastante. Deram-lhe tempo para amadurecer e melhorar seu tempo o suficiente para entrar na equipe do revezamento.

“No ano em que não aconteceram os Jogos eu cresci, fiquei mais forte”, reconhece.

Forte o suficiente para atingir o sonho que até então ela considerava algo bem distante, ainda mais para uma nadadora tão jovem.

“Ninguém quer perder, claro, mas só de estar lá estarei muito feliz. Eu achava ser algo bem distante, mas de repente aconteceu. Fiquei um pouco chocada comigo mesmo por conseguir. Agora quero aproveitar bastante, conhecer novas pessoas, atletas mais experientes e ver como elas agem. Quero ver tudo do ponto de vista delas. Para mim, vai ser mais experiência do que competição”, admite.

E se a comparação é com Ricardo Prado, ele, aos 19 anos, em 1984, foi medalha de prata nos Jogos de Los Angeles. Antes disso, aos 17, em 1982, bateu o recorde mundial dos 400 metros medley. Tudo na sequência de sua primeira Olimpíada.

Stephanie sabe que se continuar a evolução planejada, seu momento para brigar por medalha poderá ser em 2024, em Paris.

Esse foi um dos assuntos sobre que conversou com Prado quando o conheceu pessoalmente durante a seletiva, em abril. Ele é diretor esportivo do Parque Aquático Maria Lenk, onde aconteceram as provas.

Chegar ao mais importante evento esportivo é muito mais do que a mãe de Stephanie, Natalie, imaginava quando fez a filha entrar numa piscina pela primeira vez, aos seis meses de vida. A ideia era apenas que a menina aprendesse a nadar cedo. Ela fez muito mais do que isso.

“No início era brincadeira, mas logo deixou de ser. Todo mundo que nada, gosta de competir. E eu gosto bastante.”

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.