Reunião com presidente da CBF insufla revolta da seleção com Copa América

Inabilidade de Caboclo, ao tratar jogadores como subordinados, é estopim

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São Paulo

Quando o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Rogério Caboclo, se reuniu com os jogadores da seleção brasileira, foi avisado antes do encontro sobre a indignação do elenco, mas imaginou que conseguiria contornar. Tornou-a pior.

A conversa aconteceu às vésperas do embarque da delegação para Porto Alegre, na última quarta-feira (2).

Tite com os jogadores da seleção antes de partida contra Equador, pelas eliminatórias
Tite com os jogadores da seleção antes de partida contra Equador, pelas eliminatórias - Lucas Figueiredo-3.jun.21/CBF

A Folha ouviu que a maneira de conversar de Caboclo, que tratou os atletas como se fossem subordinados da instituição, causou irritação ainda maior. A queixa se tornou uma disputa de proporções históricas na seleção.

Os jogadores não se queixam apenas da realização da Copa América no Brasil durante a pandemia.

Reclamam que não houve diálogo com o elenco sobre a mudança de país. Aproveitaram para se queixar também de terem de disputar do torneio um ano antes da Copa do Mundo, após uma temporada exaustiva e colada a partidas das Eliminatórias. Jogos que eles consideram muito mais importantes do que a Copa América.

Nesta sexta (4), o Brasil recebe o Equador, em Porto Alegre. Na próxima terça (8), vai a Assunção para enfrentar o Paraguai. A Copa América está programada para iniciar no próximo dia 13, quando a seleção joga contra a Venezuela, em Brasília.

Da lista apresentada por Tite para esses dois jogos das Eliminatórias, 21 nomes atuam no futebol europeu.

Caboclo explicou que a mudança de país aconteceu em caráter de urgência e não houve tempo para avisar quase ninguém. O cartola se irritou também por Tite e Juninho Paulista, coordenador da seleção, não terem conseguido desmantelar a revolta. Tite nem tentou. Pediu apenas que todos se concentrassem nas partidas das Eliminatórias.

As informações de que atletas e técnicos de outras seleções, como Ricardo Gareca (treinador do Peru), Sergio Aguero (atacante argentino) e Luis Suárez (atacante uruguaio) são contra a viagem ao Brasil apenas reforçaram o pensamento dos brasileiros.

Ainda há um rumor de que Lionel Messi teria dito ao presidente da AFA (Associação de Futebol Argentino), Claudio Tapia, que jogar a Copa América seria inconveniente.

A questão logo se tornou um problema político, com jogadores da seleção entrando em contato com convocados de outros países em busca de uma declaração conjunta. Houve também uma aproximação dos atletas com o FifPro, o sindicato internacional de jogadores de futebol. A entidade havia reclamado da realização da Copa América e recebido uma resposta do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez.

Em carta enviada ao FifPro, o cartola lembrou que a América do Sul foi o primeiro continente a paralisar o futebol por causa da pandemia da Covid-19 e apresentou protocolos a serem utilizados na Copa América. Mas estes se referiam às competições de clubes da entidade, como a Copa Libertadores.

A opinião do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que está 100% empenhado na realização da Copa América, não foi levada em conta pelos atletas, mas também é um componente político.

Quando o Brasil foi campeão do torneio em 2019, no Maracanã, o político entrou em campo para receber a taça e foi chamado de "mito" por alguns jogadores. Dos 24 integrantes da seleção para enfrentar o Equador, 13 estavam na competição há dois anos: Ederson, Alisson, Alex Sandro, Eder Militão, Marquinhos, Thiago Silva, Casemiro, Lucas Paquetá, Everton, Neymar, Firmino, Gabriel Jesus, Richarlison.

Nos bastidores, dirigentes de associações nacionais e da Conmebol se preparam para realizar a Copa América mesmo com boicote. Outros jogadores poderiam ser convocados, algo que seria sem precedentes na história do evento, iniciado em 1916.

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