Descrição de chapéu Tóquio 2020

Vacinação não elimina preocupações do COB a um mês da Olimpíada

Delegação brasileira já tem dez membros em Tóquio e segue preocupada com contaminação

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São Paulo

A um mês dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, que têm sua cerimônia de abertura marcada para 23 de julho, a delegação brasileira já trabalha no Japão.

Por enquanto são apenas dez profissionais de logística e infraestrutura do COB (Comitê Olímpico do Brasil) preparando o terreno para as centenas que chegarão nas próximas semanas. Os primeiros atletas serão da canoagem slalom, no dia 6 de julho.

Dez pessoas com camisetas amarelas e verdes posam para foto em frente a painel no aeroporto
Profissionais de logística e infraestrutura do COB embarcaram ao Japão na última semana; foram os primeiros da delegação olímpica brasileira a chegarem ao país - Divulgação/COB

A largada oficial para a participação verde-amarela no megaevento, sobre o qual existiram e ainda existem tantas dúvidas, poderia trazer alguma tranquilidade para a entidade, mas não funciona assim. Na definição de Jorge Bichara, diretor de esportes do COB, esse período pré-embarque é o mais delicado, com o clima de ansiedade que já seria normal agravado pelas preocupações com a pandemia da Covid-19.

“É uma série de apreensões. Uma das maiores ainda se coloca na questão da contaminação pela Covid. Nessa reta final, durante a viagem, dentro da própria Vila Olímpica. Entendo que seria um momento de muita frustração para todos a perda de algum membro da delegação num momento tão próximo ou durante a competição. Então chego bastante apreensivo quanto a isso”, afirma o dirigente à Folha.

“O comitê organizador exige dois testes antes da viagem. Estamos fazendo quatro. A delegação é grande, as situações são muito diversas, e não temos 100% de certeza de que não vai acontecer [contaminação], mas estamos trabalhando para isso”, completa.

A maior parte da delegação viajará vacinada. Os números finais, de acordo com o COB, só serão conhecidos perto do início do evento, mas a expectativa é que ao menos 80% dos brasileiros estejam imunizados, como também preveem os organizadores para o total de ocupantes da Vila Olímpica em Tóquio.

Além da inclusão dos participantes no plano de imunização do governo brasileiro, por meio de doses doadas pelas empresas Pfizer e Sinovac via acordo com o COI (Comitê Olímpico Internacional), vários atletas se vacinaram no exterior, por diferentes caminhos.

Alguns aproveitaram a facilidade para se imunizar nos EUA, outros se beneficiaram de acordos costurados com comitês olímpicos nacionais dos países onde vivem, defendem clubes ou ainda participaram de treinamentos e competições.

Para diminuir a resistência da população local em receber dezenas de milhares de pessoas de todos os lugares do mundo, a organização de Tóquio-2020 incentivou os esforços para que os viajantes possam chegar ao Japão vacinados. No país-sede, a imunização alcançou 7% da população com as duas doses até esta segunda-feira (21).

Na última semana foi divulgada a terceira versão do Playbook, guia de regras sanitárias para os Jogos. Nela está a confirmação de que atletas passarão por testes diários de coronavírus —para outros profissionais, a frequência vai variar conforme a função— e que o descumprimento de medidas pode resultar até mesmo em deportação.

Foi anunciado nesta segunda que haverá público local nas arenas, limitado a 10 mil pessoas ou 50% de sua capacidade, o que for menor. Faltam, porém, informações mais específicas sobre protocolos de determinados esportes e também sobre a cerimônia de abertura, evento importante pelas perspectivas simbólica e comercial, mas que preocupa os comitês nacionais por ser sinônimo de aglomeração.

“Convivemos com informações ainda um pouco obscuras, ou carentes de maior esclarecimento de como vai funcionar o dia a dia”, diz Bichara. “Temos a expectativa de receber informações específicas sobre a cerimônia. Seguramente ela vai ser diferente, só não sabemos como. Estamos aguardando esse posicionamento para definir como será nossa participação e a definição de porta-bandeiras.”

Além da Covid-19, existem temas que estariam sendo mais comentados não fosse o temor da doença. O fuso horário de 12 horas, as altas temperaturas esperadas para o verão japonês e a adaptação à alimentação sempre estiveram entre os principais itens do planejamento do comitê e acabaram ofuscados pelo vírus no último ano.

Por fim, chegará a hora de as grandes estrelas do evento entrarem em ação na disputa por medalhas. No caso do Brasil, a maior expectativa será pela superação das 19 conquistadas nos Jogos do Rio-2016 (sete ouros, seis pratas e seis bronzes). Mas, diferentemente de cinco anos atrás, quando o COB não atingiu o objetivo de ficar no top 10 da classificação geral, dessa vez a meta é tratada de forma menos incisiva.

“Não vamos estabelecer um número mágico para ser alcançado. Temos potencial para superar números anteriores? Temos. Mas seria um achismo muito grande chutar um número, e não é do meu feitio isso. Passamos por momentos de muita dificuldade, mas vamos chegar aos Jogos com uma equipe bem preparada”, afirma Bichara.

Desde o início da pandemia, os atletas brasileiros conviveram com variadas restrições de treinos. Houve quem passasse meses improvisando trancado dentro de casa, enquanto outros conseguiram se adaptar após o adiamento e seguir o planejamento com alguma normalidade.

O COB levou vários esportistas para treinar e competir em Portugal e outros países, mas isso não impediu que algumas portas continuassem fechadas. A situação atrapalhou inclusive a estratégia de vacinação, pois houve casos de pessoas que não conseguiriam vir ao Brasil receber as doses e retornar para onde estão baseadas a tempo.

Com tudo isso na balança, Bichara acredita que os quase 300 atletas brasileiros classificados (esse número atualmente é de 272, mas ainda poderá crescer) podem, sim, fazer uma boa campanha em Tóquio. Para isso, ele aposta na diversidade das chances de pódio.

“Nosso objetivo é conquistar medalhas em mais de 10 esportes. No Rio, conquistamos em 12. Para alcançar esse objetivo, temos atletas com potencial de chegar em finais em pelo menos 22 modalidades.”

Ter um desempenho mais expressivo do que o de 2016 passa muito pela entrada do surfe e do skate no programa. Outro estreante, o caratê também carregava boas perspectivas, mas os brasileiros não conseguiram classificação. Assim é uma campanha olímpica. Numa delegação desse porte, sempre haverá vitórias e derrotas, surpresas positivas e negativas.

“Como um país sul-americano, com uma moeda desvalorizada, muitas dificuldades de enfrentamento à pandemia, restrições de circulação pelo mundo, ambiente interno muito conturbado a nível político, econômico, social, com a relação entre as pessoas tão difícil nesse momento, entendo que o esporte é uma das manifestações de que o brasileiro pode se sentir mais orgulhoso”, encerra o diretor.

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