Descrição de chapéu Tóquio 2020 Games games

Abertura das Olimpíadas ignora Nintendo para privilegiar músicas de games de RPG

Escolhas de trilhas de jogos como 'Sonic' despertaram nostalgia dos millennials brasileiros

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São Paulo

Desde a cerimônia de encerramento dos Jogos do Rio, estava claro que o Japão teria videogame como uma bandeira. Há cinco anos, o então premiê Shinzo Abe virou Super Mario para apresentar Tóquio-2020.

A escolha de um personagem da Nintendo deve ter despertado ciúmes entre os desenvolvedores japoneses. A cerimônia no Estádio Olímpico de Tóquio, nesta sexta-feira (23), foi marcada por músicas orquestradas de jogos icônicos desenvolvidos por estúdios como Sega (criadora de “Sonic”), Capcom (“Monster Hunter”) e, principalmente, Square Enix (“Final Fantasy”). E a Nintendo foi uma ausência.

A primeira melodia de videogame foi a do RPG “Dragon Quest”, uma marca tão popular que criou uma lenda urbana: sempre que sai um jogo novo, o governo japonês decreta feriado nacional para permitir aos estudantes e trabalhadores gozar de tempo para jogar. Não é verdade. É fato, porém, que para evitar problemas sociais a Square Enix passou a lançar os jogos aos sábados em vez da tradicional quinta-feira.

A segunda trilha foi de "Final Fantasy VII", uma das músicas mais conhecidas da história dos videogames. Lançado na época da disseminação dos CD-Roms, a maior capacidade de armazenamento da mídia permitiu que os jogos passassem a ter som de qualidade, sem dever nada a filmes ou álbuns.

O compositor Nobuo Uematsu se esbaldou, colocou logo uma trilha orquestrada para pontuar a saga cyberpunk de Cloud, um guerreiro com uma espada gigantesca e cabelo espetado. Ou seja, personagem com visual típico de animes e mangás. A fanfarra executada é a marca da vitória nas batalhas. Lembra a recompensa pelo esforço, a distensão após o perigo, sentimento alinhado ao espírito olímpico.

Clássico de 1997, o jogo da Square Enix foi um dos responsáveis por consolidar o gênero de RPG no Ocidente. Ganhou no ano passado uma versão remake para PlayStation 4. Uematsu, compositor de "Final Fantasy", assim como diversos outros colegas, desfruta do status de artistas de uma linguagem artística própria, consolidada, equiparável aos musicistas de animes.

Performance artística durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas, no Estádio Olímpico de Tóquio
Performance artística durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas, no Estádio Olímpico de Tóquio - Pan Yulong/Xinhua

Outro RPG marcante da Square Enix citado na festa de abertura foi “Chrono Trigger”. O game foi lançado para Super Nintendo quando o console já não era o mais badalado nos países desenvolvidos. Como no Brasil os equipamentos de ponta eram raridade nos anos 1990, cartuchos como o do jogo tiveram sua vida estendida no aluguel das locadoras ou nas bancas dos camelôs.

Também do tempo da infância dos millennials brasileiros foi a música da fase “Star Light Zone”, de “Sonic The Hedgehog”, o primeiro game com a mascote da Sega, a reação a Mario. Nessa época, a empresa de games era representada no Brasil pela Tectoy, com direito a programa nas tardes de domingo do SBT e ampla cobertura em revistas especializadas.

Se nos anos 1990 Sonic e Mario eram inimigos ferrenhos, a partir da década seguinte a dupla passou a dividir os holofotes em esportes olímpicos. É a franquia “Mario & Sonic at the Olympic Games”, cujo último lançamento aconteceu no final de 2019, meses antes da pandemia, e fazia referência a Tóquio-2020.

A playlist da cerimônia em Tóquio não teve pudores em escolher jogos famosos no Oriente, mas nem tanto no Ocidente, como os das séries “Tales of”, “Monster Hunter” e “Nier”. Parece um aceno ao futuro. Na segunda metade da década passada, séries como as mencionadas cresceram em todo o planeta, colocando em xeque a ideia de “jogo só para o público japonês”.

Se a Nintendo dominou a cerimônia de encerramento em 2016, a abertura dos Jogos de Tóquio resolveu ignorar as trilhas sonoras da dona das marcas “Mario”, “The Legend of Zelda” e “Metroid”. Nada de “Pokémon” também, cuja propriedade é em parte da Nintendo. E quem conhece a estilosa série “Persona”, da Atlus, tem todo o direito de questionar os critérios do Comitê Olímpico.

O espírito competitivo de “Street Fighter II” cairia bem, a trilha do personagem Guile encaixa com tudo, já diz um meme. A festa de encerramento ainda tem a chance de mudar isso. Os jogadores estão ansiosos.

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