Descrição de chapéu Tóquio 2020

Apesar de restrições, bares vendem bebidas alcoólicas em Tóquio

Em ruas de movimentado bairro da capital, regras do estado de emergência são ignoradas

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Tóquio

Em ruas tão estreitas que carros não passam, centenas de jovens caminham sem máscara. Eles bebem e conversam com animação. Nas vias repletas de bares próximos à avenida Meijo-dore, no bairro de Shinjuku, em Tóquio, restaurantes servem álcool e ficam abertos além do horário, apesar das proibições.

Em um deles, um funcionário ofereceu cerveja à reportagem da Folha e, com inglês arrastado, disse que não haveria problema algum, enquanto fazia o convite com o braço para entrar. Shinjuku é uma das áreas preferidas da juventude da capital e a de vida noturna mais ativa. A estação de trem local, antes da pandemia de Covid-19, era a mais movimentada do mundo, com dois milhões de passageiros por dia.

Mulheres em frente a restaurante em Tóquio
Mulheres em frente a restaurante em Tóquio - Charly Triballeau - 20.jul.21/AFP

Outros comerciantes, mais discretos, oferecem álcool apenas no interior dos bares. Mas há os que colocam as mesas na rua, sem receio de qualquer fiscalização —houve casos de jornalistas flagrados bebendo enquanto usavam a credencial para a cobertura dos Jogos, mesmo com as restrições impostas.

Ao chegar ao Japão, os profissionais de mídia precisam cumprir quarentena de quatro dias, durante os quais é permitida apenas uma saída diária de 15 minutos para comprar comida. Do quinto ao 14º dia, o deslocamento externo é autorizado, mas só para locais previamente aprovados. Bares não estão na lista.

O desrespeito às normas do estado de emergência deu gás aos críticos da bolha olímpica planejada pelo governo japonês para evitar o aumento do número de casos de Covid-19. “São tentativas que não vão dar certo, porque o governo quer que as pessoas aceitem mais uma restrição enquanto milhares de pessoas entram no país para a Olimpíada”, afirma Kenji Utsunomiya, responsável pela iniciativa Cancelem a Olimpíada de Tóquio para Proteger Nossas Vidas, que já reuniu 457 mil assinaturas.

No dia 12 entrou em vigor o quarto estado de emergência na cidade desde o início da pandemia, medida que deve durar até 22 de agosto. A regra determina, entre outros pontos, o fechamento do comércio às 20h e o veto à venda de álcool, algo que um passeio por Shinjuku mostra que não está acontecendo.

Sob condição de anonimato, por temerem represálias da fiscalização, dois comerciantes ligados à comunidade brasileira criticam a renovação das restrições e as consideram “desnecessárias e ineficazes”.

Uma das reclamações é que nas vezes anteriores em que o estado de emergência foi imposto, o governo pediu a compreensão e o apoio dos donos de estabelecimentos comerciais da capital japonesa sob o argumento de que as medidas não voltariam a se repetir. Não foi o que aconteceu. Um deles disse à Folha que preferia ter fechado seu comércio a vender álcool clandestinamente, como outros têm feito.

Mesmo assim, o empresário considera ser um erro do governo proibir o consumo. Até porque supermercados continuam a vender bebidas livremente, já que, em teoria, seriam consumidas apenas em residências. Também não é o que ocorre, e jovens andam à noite com garrafas de cerveja nas ruas.

Os comerciantes também se queixam da falta de ajuda financeira prometida pelo governo durante as restrições. O outro empresário confessou seguir comercializando bebidas alcoólicas no horário anterior às regras, até as 22h, por ser a única maneira, diz ele, de manter o negócio em funcionamento. Ele alega que a maioria dos colegas pensa da mesma forma e que a população está cansada das restrições.

Segundo estimativa produzida pelo Fórum Econômico Mundial, 90,5 mil pessoas participarão do evento esportivo, entre japoneses e estrangeiros, dos quais 11 mil são atletas.

De acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, foram registrados nesta segunda (19) 2.368 novos casos de Covid-19 no Japão. A média móvel dos últimos sete dias é de 3.113 infectados em 24 horas.

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