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Rovilson de Freitas

Banco de dados dos atletas olímpicos brasileiros revela desafios e curiosidades

Alguns fatores dificultam o processo, o que resulta num trabalho contínuo de conferências

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Rovilson de Freitas

Mestrando em Banco de Dados no ICMC/USP, integra o Grupo de Estudos Olímpicos da EEFE-USP

Organizar, selecionar e interpretar informações não é tarefa fácil. Desenvolvemos estratégias e metodologia para que um número seja mais do que uma representação gráfica e signifique algo. Até que surgiu a tecnologia para facilitar a nossa vida.

Banco de dados é uma coleção de dados relacionados. Esses dados, organizados num sistema computacional, representam algum aspecto do mundo real.

Pensar num banco de dados para os atletas olímpicos brasileiros parece ser uma tarefa simples. Mas nesse caso, vai muito além de estabelecer tabelas, campos ou relacionamentos. Na teoria, os dados das competições olímpicas têm muitas fontes de acesso para conferência. Na prática, não é bem assim.

Alguns fatores impactam nesse trabalho que parece ser simples. Até mesmo estabelecer quem de fato é “olímpico” pode ser um problema. Além de alguns erros em fontes consideradas seguras (principalmente nas edições mais antigas, em que a documentação poderia apresentar inconsistências), que podem direcionar para um armazenamento incorreto na base de dados.

Nos relatórios oficiais dos Jogos Olímpicos, aparecem os atletas que efetivamente competiram ou estavam disponíveis como reservas. Em determinadas modalidades, reservas que não compareceram ao local de competição, mas estavam hospedados na Vila Olímpica, podem não estar nesses registros. Ainda temos aqueles que por uma série de razões (como lesões na véspera da competição, por exemplo) acabam não podendo tomar parte dos Jogos.

Temos o exemplo de uma corredora brasileira nos Jogos da Cidade do México, em 1968. Acusada de agressão a uma colega da equipe, foi cortada da delegação. Ou de uma ginasta nos Jogos de 1996, em Atlanta. Se lesionou a poucos dias da competição, já em solo americano. Seriam elas também consideradas olímpicas?

Temos ainda os casos dos atletas dos esportes de exibição e demonstração, muito comuns entre as décadas de 1960 e 1990. Tenistas, judocas, e até uma seleção masculina de hóquei sobre patins representaram o Brasil em edições olímpicas em esportes não incluídos nos programas oficiais. Temos, inclusive, uma atleta terceira colocada no tênis nos Jogos de 1968. Seriam eles também considerados olímpicos?

Ainda sobre registros oficiais olímpicos e suas particularidades: um fato curioso sobre as atletas brasileiras medalhistas de prata do futebol nos Jogos de Atenas, em 2004. Uma das atletas, lesionada durante a competição, é substituída por outra que não estava na relação de 18 inscritas inicialmente.

Embora só tenha participado da primeira fase da competição, a atleta lesionada acabou entrando na lista das medalhistas no documento oficial da edição e na página em português da Wikipedia relacionada ao futebol feminino dos Jogos de 2004.

Porém, não aparece na lista de olímpicos do Comitê Olímpico Internacional. Já a substituta, apenas relacionada nas partidas finais sem entrar em campo, subiu ao pódio. Está no site do COI, mas não aparece na página do Wikipedia em português, apenas na página em inglês. Foram, portanto, 19 atletas no futebol feminino naquela edição, ao invés das 18 formalmente inscritas.

Administrar o banco de dados dos atletas olímpicos brasileiros representa um grande desafio. Alguns fatores dificultam o processo de manutenção desses dados, que resulta num trabalho contínuo de conferências sucessivas. Torna-se, portanto, um trabalho de buscas incessante, para que todos aqueles que tenham participado da maior competição poliesportiva do mundo possam ter o seu merecido reconhecimento.

Acompanhe o Grupo de Estudos Olímpicos nas redes sociais: facebook.com/estudosolimpicos e twitter.com/geofeusp

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