Descrição de chapéu Tóquio 2020 tênis

Bronze de Stefani e Pigossi nas Olimpíadas acorda avó de 90 anos e até cachorros

Dupla paulistana garantiu feito inédito para o tênis do Brasil nos Jogos de Tóquio-2020

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São Paulo

Os últimos serão os primeiros, eis um lema que serve bem à dupla brasileira Luisa Stefani, 23, e Laura Pigossi, 26. Convocadas para as Olimpíadas de última hora, as amigas de infância garantiram no Japão o bronze neste sábado (31), uma conquista inédita para o tênis brasileiro.

As tenistas, que formaram parceria de última hora para atuar nos Jogos de Tóquio, têm algumas coisas em comum em suas trajetórias. Ambas são naturais da cidade de São Paulo e, quando novas, eram boas em esportes bem diferentes do tênis, como ginástica e taekwondo, por exemplo.

Já a modalidade que rendeu a medalha olímpica era praticada apenas por seus familiares nesse período. Alguns deles até tentaram seguir carreira. “Quem começou no tênis fui eu, a mãe”, reivindica Alessandra Stefani, que ainda se diz um pouco paralisada pelo feito da filha.

“Eu ia para a praia com o Arthur e a Lu [Luisa, a filha] e jogava frescobol com eles. Só que a minha bola ia para qualquer lugar, menos para eles. Aí fui aprender a jogar tênis para que no verão seguinte eu conseguisse brincar com eles. Todos [da família] aprenderam, menos eu”, diz, rindo.

Laura conheceu o esporte porque o pai, Herman, jogava com seu irmão, Lucas, dois anos mais velho. Competitiva desde cedo, queria participar. Ela demonstrou talento desde as primeiras raquetadas.

“Ela jogava com um calçado maior que o pé, não tinha o número dela, não tinha roupa de criança [para o esporte]. A saia dela batia no joelho”, conta Naila, a mãe de Laura.

Laura começou a praticar tênis mais cedo do que a futura parceira olímpica. Enquanto uma dava os primeiros passos na modalidade, aos 10 anos, a outra já disputava torneios pelo Play Tennis do Morumbi. Mas, por volta dos 15 anos, ambas decidiram deixar o Brasil para tentar seguir carreira no esporte.

Laura Pigossi jogando tênis aos 10 anos de idade
Laura Pigossi jogando tênis aos 10 anos de idade - Arquivo Pessoal

Laura foi para a Espanha, onde o irmão mais velho tinha tentado a vida no tênis e, depois, entrado na faculdade. Já a família toda de Luisa se mudou para os Estados Unidos.

As duas se conheciam do circuito, mas tinham jogado juntas apenas uma vez, em uma edição da Billie Jean King Cup (antiga Fed Cup) —e elas admitem que o entrosamento ali não foi dos melhores.

A inesperada convocação para as Olimpíadas surpreendeu também as famílias.

“Um comentarista da BandSports comentou que ela e a Lu poderiam ir [estavam na lista de espera]. Uma amiga me ligou para perguntar, eu liguei para a Laura, e ela me falou que eu estava maluca: ‘Eu nem estou inscrita, nem a Lu’. Liguei para minha amiga para desmentir”, conta, rindo, Naila.

Atual 188ª do ranking de duplas da WTA (associação mundial de tenistas) e 326ª de simples, a jogadora não tinha posições que a credenciassem diretamente para os Jogos —dependia da compatriota.

Já Luisa, melhor brasileira da história do ranking (23ª colocada nas duplas), trabalhava para conseguir se classificar diretamente para as Olimpíadas —precisava entrar no top 10 do mundo para garantir a vaga.

Uma cirurgia no apêndice às vésperas de Roland Garros, no entanto, tirou dela essa chance. “Nesse momento foi duro, ficou um silêncio velado a respeito desse assunto, porque a gente sabia que era um objetivo nosso e dela”, lembra a mãe, Alessandra. “Quando ela me ligou e falou [da convocação], não contive as lágrimas. Para mim era um sonho. A Nadia Comaneci [lendária ginasta romena] era minha inspiração de criança, queria que a Luisa pisasse no solo sagrado olímpico”, continua.

O irmão Arthur fez aniversário no mesmo dia, 16 de julho, em que Luisa soube que iria para Tóquio.

“Tiveram alguns estresses antes da partida [da semifinal], porque as redes sociais dela começaram a estourar. Ela queria responder as pessoas e não dava conta. Conversamos, ela pediu para eu tomar conta das coisas", lembra ele.

A queda na semifinal frustrou as duas tenistas, ainda mais por vir em uma partida na qual elas levavam vantagem nos games iniciais. Perderam para as rivais suíças por 2 sets a 0.

Mas nada que se comparasse ao feito no jogo que valeu o bronze, quando as adversárias russas largaram na frente e tiveram quatro match points para fechar o duelo. A virada veio no tie-break.

“A gente sabia que era um jogo duro, mais duro que a semi. Quando começou a pancadaria, elas não estavam respondendo bem. Já pensei ‘bom, chegaram até aqui, vai ser um aprendizado’. Mas aí veio aquela garra”, diz Naila.

A família Pigossi assistiu ao jogo em Santos, onde está isolada desde março de 2020. A avó, de 90 anos, acordou apenas para a partida e foi a única que dormiu desde então.

“Estava com uns 250 batimentos por minutos, o coração saindo pela boca, porque você sabe que a partir do tie-break tem muita sorte [envolvida]”, diz o pai de Laura, Herman.

“Estava na casa da minha sogra em Nova Jersey, eu era o único assistindo. Estava no chão, ajoelhado, pedindo um milagre, para dar certo”, conta o irmão de Luisa.

As brasileiras emendaram seis pontos seguidos, e Arthur não se segurou. “Eu acordei todo mundo, estou falando sério. Foi um berro só, mas forte. Tem cinco cachorros aqui, todos saíram latindo.”

Aniversariantes do mês de agosto, tanto Laura (2) quanto Luisa (9) ganharam de presente o bronze pioneiro no tênis olímpico brasileiro. As últimas foram as terceiras.

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