Descrição de chapéu Tóquio 2020

Contrários aos Jogos, japoneses se aglomeram em famoso cruzamento, casa de apostas e lojas

Desrespeito a protocolos foi visto na popular região de Shibuya, em Tóquio

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Tóquio

Nem o estado de emergência vigente em Tóquio, decretado devido à pandemia de Covid-19, tirou de cena o vaivém de uma multidão no que os japoneses consideram o maior cruzamento do mundo, no bairro de Shibuya, um popular ponto turístico da anfitriã das Olimpíadas.

Um dia após a cerimônia de abertura do evento, tão contestado pela população, o que se vê na região são exemplos de como não se comportar em uma pandemia. A vizinha Shinjuku, aliás, não fica para trás. Pesquisas mostram que a maioria dos japoneses se opõe aos Jogos devido à escalada da Covid no país.

Pessoas caminham no bairro de Shinjuku, em Tóquio
Pessoas caminham no bairro de Shinjuku, em Tóquio - Philip Fong/AFP

A cidade registrou neste sábado (24) 1.128 novos casos da doença, mantendo patamar diário acima de 1.000, o que preocupa as autoridades. Até agora, 857 mil infecções foram contabilizadas oficialmente no Japão, com 15,1 mil mortes. De acordo com dados oficiais, 14 milhões de pessoas moram em Tóquio.

Um dia após a cerimônia que abriu oficialmente o megaevento esportivo, a Folha presenciou grandes aglomerações no famoso cruzamento formado por cinco ruas em Shibuya e flagrou cenas de desrespeito a protocolos em lojas e numa estação de metrô, além do uso inadequado de máscaras.

Numa esquina, um banner alerta para o distanciamento social, recomendando espaço de dois metros entre as pessoas —o aviso, porém, é ignorado. Debaixo do mesmo banner, jovens se enfileiraram numa mureta, com pouca distância entre eles. Ao mesmo tempo, dez pessoas protestam para afirmar que a Covid é uma “mentira”. “Stop! PCR”, diz um cartaz contra o exame de detecção do coronavírus.

Do outro lado da rua, em uma tenda montada pela popular loja de departamentos Shibuya 109, funcionários, alguns sem máscara, anunciam promoções de tratamento facial, convidando clientes a entrarem no estabelecimento sem ventilação. Mais fila e mais aglomeração. Nas vielas atrás do tradicional cruzamento, casas de pachinko —espécie de fliperama com caça-níquel— ficam abarrotadas.

Famoso cruzamento em Shibuya, em Tóquio, considerado o maior do mundo
Famoso cruzamento em Shibuya, em Tóquio, considerado o maior do mundo - Leandro Colon/Folhapress

Na porta de um deles, o Espace Nittaku, há uma série de alertas sobre protocolos, entre os quais o do distanciamento e de medição de temperatura.​ A reportagem da Folha, porém, registrou imagens que mostram clientes lado a lado, em máquinas quase grudadas uma à outra, em um ambiente sem janela.

Não há medição de temperatura na entrada. Apenas um pote de álcool em gel.

A poucos metros dali, havia um ponto de encontro de jovens nos arredores do espaço onde fica a estátua do famoso cãozinho Hachiko, que inspirou o filme “Sempre ao seu Lado” (2009), com Richard Gere.

Nos anos 1920, Hachiko sempre esperava seu dono, o cientista Hidesaburo Ueno, na estação de Shibuya, e o cachorro continuou a visitar o local mesmo após a morte do tutor.

Ao jornal Asahi Shimbun Mitsuru Fukua, professor de gerenciamento de crises da Universidade Nihon, disse que a população local estava menos receptiva às medidas de controle do vírus na véspera de realizar o maior evento esportivo do planeta. "As pessoas estão estressadas, insatisfeitas, passando do limite. Uma vez que isso ocorre, elas ficam distantes de um retorno ao período anterior de restrições.”

Medidas de distanciamento social foram adotadas em Tóquio com a alta dos casos de Covid-19 na capital japonesa
Medidas de distanciamento social foram adotadas em Tóquio com a alta dos casos de Covid-19 na capital japonesa - Siphiwe Sibeko/Reuters

Uma das mais tradicionais e movimentadas de Tóquio, a estação de Shibuya, por onde passam 2,4 milhões de pessoas diariamente, estampa imagens do logotipo dos Jogos de Tóquio.

Quem circula por ali, entretanto, parece ignorar o anúncio. Fora isso, não há nenhuma outra menção às competições que ocorrem em várias regiões da cidade sem a presença de público. A designer Hanae Reagan, 41, diz que precisou visitar a área de Shibuya porque usa seu dia de folga para compras.

Ela defende a decisão de vetar público nas Olimpíadas, mas diz que era contra o cancelamento. “Há eventos esportivos no mundo inteiro, não faz sentido.”

Hanae assistiu pela TV à cerimônia de Tóquio-2020, realizada na sexta (23) no Estádio Olímpico. “O que mais gostei foram os pictogramas [imitando o símbolo de cada modalidade].” A designer diz que a mãe dela sempre conta dos Jogos de 1964, um evento que orgulha os japoneses por ter sido uma espécie de abertura do país ao mundo após a Segunda Guerra. Situação bem diferente das Olimpíadas em 2021.

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