É falso que Italo Ferreira tenha pedido prisão de Lula nas Olimpíadas

Post viral no Facebook tem foto do surfista com frase que ele não disse, como confirmou assessoria do atleta

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São Paulo

É falso que o surfista Italo Ferreira, campeão nas Olimpíadas de Tóquio, tenha pedido a prisão do ex-presidente Lula (PT) em uma entrevista ao jornal The New York Times.

Uma postagem no Facebook, verificada pelo Projeto Comprova, atribui ao atleta uma declaração falsa, que menciona a corrupção no Brasil e o petista, dizendo que a prisão de Lula seria um “prêmio” maior do que a conquista olímpica.

A reportagem procurou a assessoria de Italo, que disse que a frase não foi dita por ele e que nenhuma publicação do tipo foi feita pelo jornal norte-americano.

Italo aparece do ombro para cima; ele veste camiseta branca e está com o braço direito erguido, em sinal de vitória. Atrás dele aparece sua prancha, escura e com uma bandeira do Brasil
O surfista Italo Ferreira comemora medalha de ouro conquistada nas Olimpíadas - Lisi Niesner - 27.jul.2021/Reuters

O The New York Times mencionou a vitória do surfista em duas reportagens publicadas no site, mas nenhuma delas trata de qualquer posicionamento político dele.

Na comemoração da vitória, o surfista fez um símbolo com uma das mãos, que foi entendido por alguns usuários do Twitter como um L, em homenagem ao ex-presidente petista. A assessoria de Italo, porém, disse que se tratava do número um.

Nós entramos em contato com o autor da postagem falsa, mas não tivemos resposta até a publicação desta checagem.

Como verificamos?

Primeiramente, entramos em contato com a IF15 Sports, descrita na conta oficial do atleta no Twitter como “o canal oficial do campeão Italo Ferreira”. Tivemos resposta por email.

Buscamos, no Google, pelas palavras-chave “New York Times” e “Italo Ferreira”, e encontramos, além de outras verificações sobre o tema, duas reportagens do jornal americano que mencionam o campeão brasileiro. Procuramos também por entrevistas concedidas por Italo a outros veículos, após a conquista da medalha de ouro.

Por fim, buscamos, no Twitter e outras redes sociais, postagens que relacionam o medalhista olímpico ao ex-presidente Lula, ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ou a qualquer outra declaração de cunho político-partidário.

A reportagem ainda entrou em contato com o responsável pela postagem no Facebook, mas não recebeu resposta.

Verificação

Declarações

A assessoria de Italo negou que ele tenha feito qualquer declaração sobre corrupção ou o ex-presidente Lula em entrevista ao The New York Times. “Trata-se de fake news. O atleta não deu essa declaração e nem o NYT fez a publicação”, afirmou

Nas reportagens e vídeos de veículos brasileiros, publicados após a conquista do ouro olímpico, há menção a uma entrevista coletiva e a outras conversas que o atleta teve com jornalistas, mas nenhuma delas menciona qualquer declaração política feita pelo surfista.

Deu no NYT

Desde o início das Olimpíadas, há duas matérias do jornal americano The New York Times que citam Italo, ambas publicadas no dia 27 de julho, data da vitória do potiguar no surfe.

A primeira é assinada pelo jornalista John Branch, que reporta as medalhas de ouro de Italo e da americana Carissa Moore. Nela, só há uma fala do surfista brasileiro: “For me, that was a long day. But it was a dream come true” (“Para mim, foi um dia longo. Mas um sonho virando realidade”, em tradução livre). A publicação americana deu muito mais destaque ao japonês nascido nos Estados Unidos, Kanoa Igarashi, que levou a prata.

A outra reportagem em que Italo é citado consiste apenas em um resumo do que aconteceu de mais importante naquele dia nas Olimpíadas. Não há falas do atleta, apenas a notícia de seu ouro. Nenhuma das duas publicações faz referência a posicionamentos políticos do surfista.

Símbolo

No dia da conquista da medalha de ouro, Italo saiu da água, após a prova final, e fez um sinal com a mão, que foi interpretado por várias pessoas na internet como um L. A assessoria do atleta, porém, disse à reportagem que não foi isso. “Ele não fez um L. E sim um sinal de número um, de comemoração”, afirma.

O símbolo do L, também é usado por torcedores do Vasco da Gama, em homenagem ao atacante Germán Cano. O jogador costuma comemorar os gols dessa forma, em homenagem ao filho, Lorenzo. O Vasco, inclusive, parabenizou Italo pela conquista da medalha, no Twitter, mencionando a forma de comemoração.

No Twitter de Italo não há qualquer postagem que mencione o ex-presidente Lula ou o presidente Bolsonaro, mas há um tuíte, de janeiro, que relaciona a corrupção nos estados brasileiros à pandemia —em discurso parecido com o adotado pelo atual chefe do executivo: “Corrupção nos estados, (sic) mata mais que qualquer vírus. Triste realidade”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições e pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.

É o caso deste conteúdo, que alega que um atleta campeão olímpico teria se posicionado contra o pré-candidato Lula em meio à realização dos Jogos Olímpicos, que recebem a atenção dos brasileiros no momento. O Comprova já checou outras publicações nesse mesmo sentido, como uma postagem falsa que afirmava que a trilha sonora usada por Rebeca Andrade, ginasta medalhista de prata, era uma homenagem a Bolsonaro; e o tuíte enganoso que dizia que o presidente vai acabar com o programa Bolsa Atleta.

A postagem soma quase 10 mil curtidas e 2,7 mil compartilhamentos até 30 de julho apenas no Facebook. Também verificaram o conteúdo as publicações Aos Fatos, Lupa, Boatos.org e E-Farsas.

Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações disponíveis no dia 29 de julho de 2021.

A investigação desse conteúdo foi feita por BandNews e Estadão e publicada na sexta-feira (30) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 33 veículos na checagem de conteúdos sobre ​coronavírus, políticas públicas e eleições. Foi verificada por Folha, UOL, Piauí, A Gazeta, Correio de Carajás e Correio.

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