Entenda por que o Corinthians ainda não rompeu com Danilo Avelar após caso de racismo

Clube tem dívida com empresário do atleta, que está em recuperação de uma lesão

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São Paulo

Uma semana após anunciar que vai rescindir o contrato de Danilo Avelar, 32, o Corinthians não definiu de que forma encerrará o vínculo com o jogador após ele fazer um comentário racista durante uma partida de um jogo online.

A diretoria tem negociado com os representantes do atleta para chegar a um acordo por um rompimento amigável. Ele é agenciado pela Elenko Sports, empresa de Fernando Garcia, irmão de Paulo Garcia, que é conselheiro vitalício do clube. A reportagem procurou o agente, mas ele não atendeu aos contatos.

O jogador e o seu estafe não abrem mão de receber pelo menos uma parte da multa rescisória, de cerca de R$ 7 milhões. Danilo Avelar tem contrato com o Corinthians até dezembro de 2022.

Lateral Danilo Avelar durante treinamento do Corinthians no CT do Parque Ecológico
Lateral Danilo Avelar durante treinamento do Corinthians no CT do Parque Ecológico - Rodrigo Coca - 18.ago.20/Ag. Corinthians

Além disso, o lateral segue em recuperação de uma cirurgia no joelho direito, após ter sofrido uma lesão em outubro de 2020. Em nota, o Sindicato dos Atletas de São Paulo disse que isso inviabilizaria uma rescisão de forma unilateral pelo clube. "A legislação impõe que o empregador devolva o trabalhador nas mesmas condições de trabalho do momento da contratação", diz a entidade.

"Para deixar claro, não estamos passando a mão na cabeça dele [Danilo Avelar]. A gente é contra qualquer ato de intolerância", disse à Folha Rinaldo Martorelli, presidente do sindicato. "A nossa análise é dentro da questão jurídica."

Advogados, especialistas em direito trabalhista e esportivo, ouvidos pela reportagem, porém, afirmam que o clube poderia demiti-lo por justa causa. Eles se baseiam no artigo 482 da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho), que trata das condições para o rompimento do contrato pelo empregador de forma unilateral.

"A repercussão de um comentário racista feito durante uma partida de jogo online fatalmente pode abalar não só a imagem do atleta, mas também a imagem, a honra e a boa fama do clube e seus patrocinadores. Por esse motivo, acho, sim, possível interpretar que o ocorrido se enquadre nas hipóteses de justa causa, dispostas nos incisos 'h' e 'k' do artigo 482 da CLT", diz o advogado trabalhista Leonardo Ruivo.

O inciso "h" fala sobre "ato de indisciplina ou de insubordinação" por parte do funcionário. Já o inciso "k" cita "ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa".

Segundo o advogado Marcus Lourenço Gomes, o fato de o comentário ter sido feito fora do ambiente e do horário de trabalho não inviabilizaria a justa causa. "Independentemente de ter sido fora, o atleta tem que preservar a imagem dele e do clube", diz o especialista em direito trabalhista e esportivo.

A Folha procurou os cinco patrocinadores do Corinthians. Todos manifestaram apoio à decisão do clube com relação a Avelar. Em nota, Nike, Hypera Pharma, Midea, Banco BMG e Guaraná Poty repudiaram a fala racista do jogador e disseram que acompanhariam o caso de perto.

Na quarta-feira (23), dia seguinte ao fato, o jogador admitiu o erro. "Errei, falhei e me envergonho muito disso. Na nossa sociedade temos que abolir qualquer forma de racismo", disse em comunicado. "Gostaria de me desculpar com todos, sem exceção, mas sobretudo com a comunidade afrodescendente."

Na ocasião, o clube também divulgou nota na qual afirmava a intenção de romper o contrato do lateral. "O Corinthians informa que está em contato com Danilo Avelar e seus representantes a fim de discutir e formalizar as medidas cabíveis para o encerramento do vínculo."

Procurado novamente pela reportagem, o clube manteve o mesmo posicionamento. ​

"O Corinthians reafirma que repudia toda e qualquer manifestação de conotação racista, coerentemente com sua história de defesa da igualdade e da democracia", encerra a nota, diante da repercussão do caso, sobretudo nas redes sociais.

Foi na internet que começou a circular a reprodução da ofensa feita por Avelar durante uma partida de Counter-Strike: Global Offensive, um jogo de tiro. O jogador postou um comentário em que dizia a outro usuário: "Fih [filho] de rapariga preta".

Após o ocorrido, a permanência dele no Parque São Jorge se tornou insustentável. O lateral Fábio Santos, um dos líderes do elenco, afirmou que o colega entende a gravidade do erro e concordou com a decisão da diretoria corintiana.

"O clube achou a maneira certa de punir, ele [Danilo Avelar] entendeu, não quer dizer que seja racista, teve um episódio errado, sim", afirmou o lateral. "Um ponto positivo é que ele assumiu, não jogou a culpa para um amigo ou familiar. Foi muito homem de assumir seu erro", acrescentou.

Estêvão Silva, presidente da Associação Nacional da Advocacia Negra e da ONG clã da Negritude, aponta como um fato importante o arrependimento de Avelar, embora também defenda a sua demissão.

"Julgo ser bastante importante o arrependimento dele. Embora me pareça que ele demorou para aceitar", disse o advogado.

Para ele, o Corinthians não poderia deixar de dar uma resposta firme nesse caso. "Não que a demissão em si seja o suficiente, mas é uma boa resposta ao racismo. É uma resposta de que não toleramos o racismo em qualquer lugar, principalmente dentro do Corinthians, que representa muito o povo."

Procurada pela reportagem, a assessoria do jogador disse que ele não irá se manifestar neste momento.

Danilo Avelar foi contratado pelo Corinthians em 2018, por empréstimo. Após ser campeão paulista como titular em 2019, ele teve seus direitos econômicos comprados pelo clube junto ao Torino (ITA). Ao todo, fez 110 partidas pelo time alvinegro e marcou 12 gols.

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