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Rogério Sampaio

Finalmente começará a Olimpíada de Tóquio

Ouro em Barcelona-92 e agora dirigente, ex-judoca discorre sobre desafios do último ciclo olímpico, afetado pela pandemia

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Rogério Sampaio

Diretor-geral do Comitê Olímpico do Brasil. Ex-judoca e medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona-1992

Disputar uma Olimpíada é a meta de todos os atletas de alto rendimento, nas mais diversas modalidades, em todos os cantos do planeta.

Nos quatro anos que separam uma Olimpíada da outra, além de garantir sua vaga entre os privilegiados que participarão da maior celebração do esporte mundial, o objetivo é atingir o auge das condições físicas, técnicas e emocionais exatamente no período dos Jogos, nem antes nem depois. Neste ciclo, que durou cinco anos, os desafios se tornaram ainda maiores.

Muito mais do que o seu próprio sonho e todos os esforços das pessoas que batalharam para torná-lo possível, ao vestir o uniforme, o atleta carrega consigo a bandeira do seu país, a história do seu esporte e as expectativas de milhões de torcedores que vibram ansiosos para vê-lo subir ao pódio.

Por trás de cada candidato a herói olímpico existem medos, ansiedades, dores e lágrimas que talvez nunca serão reveladas. Os deuses do Olimpo da atualidade são feitos de carne, ossos e músculos trabalhados à exaustão. O preço da perfeição é alto.

Ex-judoca Rogério Sampaio com a medalha conquistada nos Jogos de Barcelona, em 1992
Ex-judoca Rogério Sampaio com a medalha conquistada nos Jogos de Barcelona, em 1992 - Rogério Sampaio no Facebook

Diante das incertezas provocadas pela pandemia, que fizeram o mundo parar exatamente no ano olímpico, as pressões se avolumaram, e manter o equilíbrio emocional passou a ser um fator ainda mais relevante na lista de exigências para quem quer escrever o nome na seleta lista de medalhistas olímpicos.

O adiamento dos Jogos de Tóquio em um ano exigiu dos atletas e do Comitê Olímpico do Brasil ainda mais dedicação. Foi talvez o maior desafio da história do COB. O planejamento inicial, estruturado para proporcionar aos atletas a melhor adaptação ao clima, ao fuso horário e à alimentação, teve que ser repensado. A preservação da vida e da saúde de cada um dos integrantes do Time Brasil exigiu de nós atenção redobrada, buscando reduzir os riscos de contaminação pelo coronavírus.

A logística do COB para os Jogos de Tóquio vem sendo trabalhada desde 2013, mesmo antes dos Jogos do Rio-2016. Naquela época, foi desenhado um programa de aclimatação para a nossa delegação em nove bases, e isso se manteve.

Seguimos uma preparação intensa, que atendesse às demandas trazidas pela pandemia, tentando oferecer a melhor estrutura, pois entendemos que nunca foi tão difícil se preparar para uma Olimpíada. Falando especificamente em relação à logística, somente em 2021 foram destinados R$ 150 milhões às confederações para projetos de treinamento e competições de preparação.

Ao longo de todo o processo, a prioridade sempre foi a integridade física de todos. Enviamos 20 contêineres com aproximadamente 20 toneladas de material para o Japão. A esse montante foi somado, também, o material de enfrentamento à Covid-19.

Para que nossos atletas tenham uma boa performance, é fundamental que eles estejam protegidos de qualquer risco. Por isso, montamos uma comissão médica com quatro profissionais, entre os quais duas infectologistas, que participam pela primeira vez de uma missão olímpica do COB. Essa comissão médica estabeleceu um rígido protocolo específico para todos os integrantes da delegação brasileira.

Sem a pandemia, a área médica do COB seria composta por oito integrantes em Tóquio. Nesta edição dos Jogos, serão 16 profissionais de medicina no Japão. Procuramos designar médicos do esporte com formação clínica, que também dominem as questões sobre a Covid-19, e não apenas sobre lesões. Teremos médicos em todas as bases.

Ex-judoca Rogério Sampaio (à esq.) ao lado de outras lendas do esporte brasileiro
Ex-judoca Rogério Sampaio (à esq.) ao lado de outras lendas do esporte brasileiro - Divulgação/COB

A poucos dias da abertura dos Jogos, estamos no momento de ajustes finais para a nossa participação no Japão. O Brasil chega aos Jogos Olímpicos de Tóquio com reais condições de conquistar medalhas em várias modalidades.

Estou bastante animado porque sei o quanto o COB e toda a missão se dedicaram para chegarmos até aqui. Acredito que temos condições de conquistar um número maior de medalhas do que o conquistado nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.

Toda medalha olímpica tem o seu valor. Só um atleta conhece todos os caminhos e dificuldades que teve de superar até subir ao pódio. É uma conquista única, é mais do que estar entre os melhores do mundo, é ter seu nome inscrito no seleto grupo dos heróis olímpicos da sua modalidade e do seu país.

Você pode me perguntar: as medalhas conquistadas nos Jogos de Tóquio terão o mesmo valor de todos os outros Jogos Olímpicos? Claro que sim. A grande diferença ficará por conta do desafio extra que ficará para sempre marcado na história: como é ganhar uma medalha olímpica num ciclo inédito de cinco anos durante o processo de enfrentamento de uma pandemia?

Falta muito pouco para começarmos a ouvir as histórias desses heróis.

Enfim, Tóquio.

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