Descrição de chapéu Tóquio 2020

Palco dos Beatles e local de adeus do ABBA, Budokan se reencontra com o judô

Casa espiritual das artes marciais no Japão, ginásio foi construído para os Jogos de 1964

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Tóquio

Ao lado do tatame ainda por ser finalizado, a voluntária acompanha o cronômetro ir regressivamente do 30 ao zero. Em seguida, aperta um botão, e a contagem recomeça. Ao redor dela, funcionários dos Jogos de Tóquio fixam placas, sinalizações e simulam um sistema de iluminação com diferentes cores.

Entre os 41 locais de competições das Olimpíadas, nenhum outro representa tanto para o seu esporte quanto o Nippon Budokan, a casa espiritual do judô. No evento na capital japonesa, o “hall das artes marciais” também será a sede das disputas do caratê. “Competir no Budokan é muito especial. É como se o judô estivesse voltando para casa”, afirma Eduardo Katsuhiro, brasileiro que vai lutar na categoria 73 kg.

Em corredores do Budokan, há referências a momentos históricos do ginásio com capacidade para cerca de 15 mil pessoas. Estão expostas também, em placas de madeira, a filosofia do “budô”, palavra que engloba diferentes artes marciais. A expressão tem origem em “bushidô”, o caminho do guerreiro.

Construído para a primeira vez que Tóquio sediou as Olimpíadas, em 1964, quando o judô estreou nos Jogos, o complexo esportivo fica a poucos metros do jardim do Palácio Imperial, parte do que era o castelo Edo, casa do imperador Meiji até a mudança dele para um novo castelo, no final do século 19.

A área verde está em volta do Budokan, construção encravada no parque Kitanomaru, no distrito de Chiyoda, o menos populoso da capital —lá vivem cerca de 55 mil pessoas. Em Tóquio, moram 14 milhões.

Nas Olimpíadas deste ano, o judô será disputado de 24 a 31 de julho. Já as competições do caratê acontecerão entre 5 e 7 de agosto. “Este é outro atrativo da modalidade agora. Além de buscar a medalha mais importante de todas, o atleta estará disputando no Budokan, o templo do esporte”, afirma Rogério Sampaio, diretor-geral do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e ouro nos Jogos de Barcelona, em 1992.

Budokan preparado para as disputas do judô na Olimpíada de Tóquio
Budokan preparado para as disputas do judô nas Olimpíadas de Tóquio - Sergio Perez/Reuters

E, da mesma forma que motiva, o ginásio, em caso de derrota, pode representar um golpe considerável na vida de um atleta de ponta das artes marciais. Nenhum brasileiro conseguiu se classificar no caratê, modalidade que entra pela primeira vez no programa olímpico, mas não estará em Paris, daqui a três anos.

Um dos atrativos do ginásio é a sua estrutura, que, no exterior, tem jeito de templo japonês, com colunas e linhas simétricas. Dentro, as portas escuras e com maçanetas grandes, que necessitam de força para serem abertas, simulam um teatro. As cadeiras na fileira mais alta estão a 42 metros de altura.

A estrutura para receber quase 15 mil pessoas, com visão limpa para o que acontece no tatame —independentemente da posição do assento—, fez com que o Budokan também se tornasse um atrativo para eventos musicais, algo que nem sempre foi bem visto pelos mais tradicionalistas.

Entre 29 de junho e 2 de julho de 1966, os Beatles fizeram, ali, quatro apresentações que entraram para a história. Os shows foram alvo de protestos, já que parte da população japonesa considerava a execução de canções de rock no Budokan uma blasfêmia. Pouco adiantou. Depois dos britânicos, muitas bandas, cantores e cantoras de renome internacional tocaram na arena.

Os Beatles se apresentam no Budokan, na cidade de Tóquio, em show realizado em 1966
Os Beatles se apresentam no Budokan, na cidade de Tóquio, em show realizado em 1966 - 29.jun.1966/Jiji Press/AFP

A última apresentação dos suecos do ABBA, por exemplo, aconteceu no templo do judô, em 1980.

Quando não há bandas, há lutas. Anualmente, os campeonatos nacionais das nove artes marciais que formam o budô são realizados no Budokan, em eventos que já tiveram a presença do imperador do Japão.

Por vezes, é também um espaço para eventos de wrestling de entretenimento, que no Brasil ficou conhecido como telecatch. O Budokan ainda pode ser considerado um precursor do MMA, já que foi palco da luta de exibição entre o boxeador Muhammad Ali e o wrestler Antonio Inoki, que acabou empatada.

Ali, depois do combate, um dos esportistas mais famosos de todos os tempos reclamou da estratégia de Inoki, que ficava caído no chão e tentava chutá-lo. Ao menos o atleta da casa não perdeu, e era justamente essa a ideia que ocupava a cabeça dos idealizadores do Budokan ao construí-lo para as Olimpíadas de 1964.

Quase deu certo. Das quatro medalhas de ouro em disputa naquela edição dos Jogos, o Japão ganhou três. Na categoria aberta, que não existe mais, o holandês Anton Geesink foi o vencedor.

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