Descrição de chapéu Tóquio 2020 Natação

Titmus, 'a exterminadora', ofusca brilho de Katie Ledecky na natação das Olimpíadas

Australiana gosta de mostrar frieza e domina provas nas quais americana era favorita

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Tóquio

Ariarne Titmus afirma que uma de suas virtudes é não mostrar emoção. Considera a frieza fundamental na natação. A capacidade de se controlar nos melhores ou nos piores momentos, na calma ou na pressão.

Assim, os jornalistas que a acompanham de perto ficaram surpresos com as lágrimas da nadadora no pódio dos 200 m livre na noite de terça-feira (27). “Sempre fui muito boa em controlar as emoções, mas não resisti”, deu de ombros após conquistar sua segunda medalha de ouro nas Olimpíadas de Tóquio.

A australiana de 20 anos se tornou um dos principais nomes dos Jogos não só devido a essas vitórias. Ela também colocou no “bolso do maiô” a maior nadadora da atualidade, a americana Katie Ledecky, 24.

As atletas saíram abraçadas da piscina quando Ariarne surpreendeu na final dos 400 m livre, no domingo (25). Ledecky ficou com a prata. Nos 200 m livre, nem isso. A americana terminou na quinta posição.

Horas depois, Katie obteve seu primeiro ouro no Japão, nos 1.500 m. Mas ela chegou a tal ponto na carreira que deixar o país asiático apenas com essa conquista será pouco. Ledecky desembarcou em Tóquio com status de quase imbatível e dona de cinco medalhas de ouro, espalhadas entre Londres-2012 e Rio-2016. Jamais havia sequer perdido uma final olímpica individual, que dirá ficar fora do pódio.

Agora, já foi superada duas vezes. Ambas pela nadadora nascida na Tasmânia, estado insular da Austrália, mais conhecido no Brasil pelo mamífero diabo-da-tasmânia, que virou personagem dos Looney Tunes.

Na adolescência, a família se mudou para Queensland em busca de melhores condições de treino para a garota, então com 14 anos. “O que ela já fez foi extraordinário. Compensou a mudança que decidimos fazer quando ela era uma adolescente. Não era o caso de esperar meses e decidir. Não havia tempo. Resolvemos tudo de uma hora para a outra e fomos”, disse o pai, Steve Titmus, ao podcast Tokyo Daily.

A australiana Ariarne Titmus chora após receber a medalha de ouro dos 200 m livre
A australiana Ariarne Titmus chora após receber a medalha de ouro dos 200 m livre - Xinhua/Xia Yifang

No visual, Ariarne não se distingue muito das demais nadadoras da equipe australiana. Loira, forte no torso e sempre a caminhar de maneira apressada, fala baixo e dá risada quando está ao lado de alguma colega ou de funcionários do comitê olímpico do país. Ela não chamou a atenção nem de Ledecky, que não a citou com uma de suas principais rivais.

Mas após as primeiras provas, a americana logo percebeu o surgimento de uma possível rivalidade. No início, graciosa ao ser batida, disse “não ser nada do outro mundo” ficar com a prata. O quinto lugar doeu. Citou que, eventualmente, a australiana também vai cometer erros, como todas as outras.

Ledecky esperava consolidar em Tóquio seu domínio nas provas individuais da natação feminina. Corre o risco de ver essas Olimpíadas entrarem para a história como os Jogos de Ariarne Titmus. Nos próximos dias, a rivalidade pode ficar ainda mais acirrada, para diversão de quem assiste e regozijo de patrocinadores, os que sempre ganham muito mais dinheiro com duas protagonistas do que com uma só.

As duas devem se encontrar pela terceira vez na final dos 800 m livre. As primeiras eliminatórias acontecerão na manhã desta quinta (29). Ariarne nada às 7h22. Ledecky cai na piscina em seguida.

Elas podem até estar nas raias da final do revezamento 4 x 200 m, que acontece na madrugada desta quinta, à 0h31, mas nenhuma delas nadou a semifinal por suas equipes. Ledecky fez parte do time que ficou com a prata na Rio-2016 nessa prova. Até aparecer Ariarne, era sua única medalha não dourada.

As Olimpíadas de Tóquio têm a chance, ainda, de despertar em provas individuais a mesma rivalidade existente entre Austrália e EUA nos revezamentos. Uma espécie de Brasil e Argentina da natação, em que os dois países lutam pela soberania desde o nascimento da categoria. Antes das disputas do evento deste ano, elas haviam se enfrentado apenas uma vez. Ledecky venceu nos 800 m do Mundial de 2019.

“Eu sou uma corredora”, definiu-se Ariarne já durante os Jogos no Japão. Para a imprensa australiana, ela tem outro apelido: exterminadora. A experiência olímpica tem sido tão especial para ela que até seu técnico protagonizou um dos momentos icônicos das Olimpíadas. A comemoração ensandecida de Dean Boxall após a pupila ganhar o ouro na final dos 400 m foi mostrada ao redor do mundo, com a voluntária japonesa querendo pedir para ele recolocar a máscara, mas sem coragem para fazê-lo.

Titmus diz ter chorado no pódio dos 200 m porque sabia que não haveria outra prova no dia seguinte para nadar. Isso a fez relaxar. Disse aquilo como se sentisse a necessidade de justificar a própria emoção.

Talvez tenha sido a maneira como aconteceu. A australiana ficou atrás o tempo inteiro e só nos segundos finais passou à frente e bateu antes de Bernadette Haughey, de Hong Kong. Uma virada como a protagonizada no passado por Michael Phelps, dono de 28 medalhas olímpicas. Do alto do Centro Aquático de Tóquio, na posição de comentarista da NBC, ele viu as lágrimas da australiana no pódio.

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