Descrição de chapéu Tóquio 2020 skate

Tour por região em que Kelvin Hoefler cresceu mostra pistas de skate em má situação e poucas exceções

Se ainda morasse no Brasil, medalhista de prata teria parcas opções para praticar esporte em bom nível

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Guarujá, Santos, São Vicente, Praia Grande , Mongaguá e Itanhaém

Com um medalhista de prata saído de suas areias, o Guarujá pode se orgulhar. Foi onde Kelvin Hoefler cresceu e deu os primeiros voos em mini ramps, half pipes, corrimãos e obstáculos que caracterizam a categoria street. Por outro lado, se ainda morasse por ali, teria poucas chances para praticar seu skate.

Das atuais cinco pistas do esporte em Guarujá, duas podem ser consideradas regulares (BNH e Guaiúba), duas outras estão bem ruins (Yellow Plaza e estádio ADG) e a quinta não passa de escombros aguardando dias melhores (Skate Park Perequê). Nenhuma delas está em situação boa ou excelente.

A galera reclama. “O que se mantém de pé aqui é porque os skatistas foram atrás”, diz Jhonata Santiago, 22, que, na quinta (29), divertia-se com amigos na Yellow Plaza, no distrito de Vicente de Carvalho.

Segundo ele e os amigos, a prefeitura até já descarregou areia e pedras para reconstruir a pista, mas eles aguardam há meses pela escavadeira e por funcionários de construção civil. Em 2012, quando o local estava melhor, Kelvin apareceu por lá, pulando tambores de óleo, cones e corrimãos móveis, contam eles.

Perto dali, na pista do BNH, que se chama assim por estar ao lado de um enorme conjunto habitacional, a situação é um pouco melhor, mas não tanto. É uma pista de street tão básica e pequenina, e com concreto irregular, que é difícil considerá-la um equipamento esportivo público.

Kelvin cresceu em Guarujá, mas nasceu em Itanhaém, 65 km ao sul. Por isso, na semana passada, a Folha visitou 20 pistas situadas nesses locais e nas cidades entre elas (Santos, São Vicente, Praia Grande e Mongaguá), percorrendo boa parte do litoral sul paulista.

Das seis cidades visitadas, a Praia Grande se destacou pelo número de pistas, sete, e pela situação delas.

Três estão em bom estado, e uma, a da praia Ocian, está excelente. Essa, aliás, é a única pista de park puro encontrada. Trata-se de um bowl (tigela, em inglês) em formato de ameba, em que os skatistas sobem e descem sem parar. Já a categoria street, de Kelvin e Rayssa, é composta de obstáculos.

As melhores pistas da Praia Grande são de granilite, e não de concreto. Augusto Schell, subsecretário de Assuntos da Juventude da Praia Grande, explica que o granilite é excelente para a prática, “mas é um material um pouco delicado". "A cada um ou dois anos, ele abre. A manutenção precisa ser feita sempre.”

Segundo ele, as do Boqueirão, da Ocian, de Samambaia e de Quietude, uma das raras pistas públicas cobertas no estado, foram revitalizadas recentemente. Quanto a outros dois equipamentos da Praia Grande, diz Schell, há planos para o da praia da Aviação. "É a mais antiga da cidade, de concreto, ainda dos anos 1990, acho. Ela não dialoga mais com o esporte hoje, então não estamos mais fazendo manutenção. Vai deixar de existir, e vamos levantar no lugar uma skate plaza, com bancos e árvores.”

Já a rampa da Curva do S não é nem considerada pista de skate pela prefeitura, já que crianças brincam de escorregar ali e não é muito frequentada, de acordo com o subsecretário.

A Folha tentou ouvir alguém na esfera municipal de Guarujá, mas a opção da prefeitura foi enviar uma nota, segundo a qual a gestão está "em busca de captação de recursos extraorçamentários com outras esferas de governo para a construção de novas pistas de skate na cidade".

“O município acrescenta que já tem um projeto com o Governo do Estado para a construção de uma nova pista, nos moldes das disponibilizadas pela Secretaria de Estado de Esporte, Lazer e Juventude. Deverá ser instalada no Jardim Boa Esperança, e o valor investido pelo Estado é de R$ 250 mil.”

Santos tem hoje duas boas pistas em funcionamento, a da praça Palmares, que fica numa rotatória de carros, e a da Lagoa, no alto de um morro e em frente a um belo lago. A mais famosa da cidade, porém, está fechada há mais de um ano. É o Skate Rink Chorão, que fica na região do emissário submarino e foi batizada em homenagem ao skatista e cantor do Charlie Brown Jr., morto em 2013 aos 42 anos.

Segundo o secretário de Esportes de Santos, Gelasio Fernandes, a reforma com recursos privados foi embargada pelo Ministério Público e, agora, a prefeitura busca recursos para finalizar a pista. “Creio que no primeiro semestre do ano que vem entregaremos a obra pronta”, diz.

O projeto prevê as duas modalidades, a park, com 780 m² e a street, com 1.200 m², diz o secretário. “Por enquanto, atendemos crianças na Lagoa Skate Park e na praça Palmares, com professores e aulas, por meio de parcerias com associações locais. O Kelvin, inclusive, anda muito nas nossas pistas de Santos.”

Na vizinha São Vicente, uma pista na orla está em reforma, e outra, perto do antigo Jockey, funciona com a ajuda da Associação Vicentina de Esportes Radicais. Segundo Marconi Machado, da associação, eles mesmos rebocam os buracos a cada quatro meses e recebem cerca de 40 crianças todos os domingos.

“Desde 2006 fazendo do skate uma ferramenta social”, pode-se ler por ali. “Kelvin tem em muitos lugares”, diz Machado, "o que falta é oportunidade”.

Mongaguá tem a única outra pista em condição excelente entre as visitadas. Trata-se de uma enorme pista de street, com vários corrimãos, escadas, obstáculos, rampas, bowl e arquibancadas. Construída em granilite cinza e com detalhes pintados de azul, fica na boca de uma trilha ecológica que leva ao mirante do Morro dos Macacos e está envolvida pelo verde da Mata Atlântica.

Por fim, Itanhaém, onde Kelvin nasceu há 28 anos. Há uma boa pista por ali, e o secretário-adjunto de Educação, Cultura e Esportes tem grandes planos. Ex-treinador da Seleção Brasileira feminina em duas Copas do Mundo, Kleiton Lima quer ajudar a transformar a cidade.

“Morei em Santa Cruz, no norte da Califórnia, e ali é uma capital do skate e do surfe, com todo mundo praticando esportes na orla. É esse espírito que eu gostaria de trazer para Itanhaém”, diz.

Seu maior projeto é a construção de um bowl na beira da praia, mas ainda falta a verba. Por enquanto, entende que a pista atual é bacana, mas necessita de melhorias, como um novo recapeamento de granilite. “Mas fizemos alguns curativos, trocamos o guarda-corpo, aumentamos a iluminação e o patrulhamento. Pretendo trazer um instrutor o quanto. É preciso dizer que as lideranças da comunidade cobram e também ajudam muito. Muitas vezes fazem reparos e pintura por si mesmos.”

Por melhor que sejam as intenções, é por essas que Kelvin ​não está mais no litoral paulista. Hoje, ele mora e treina na Califórnia, nos Estados Unidos.

Erramos: o texto foi alterado

O cantor Chorão morreu aos 42 anos, e não aos 32, como incorretamente afirmava a reportagem. O texto foi corrigido.

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