Descrição de chapéu Tóquio 2020

Aos 40, Carol Gattaz vai às Olimpíadas após 'nãos' em Atenas, Pequim, Londres e Rio

Jogadora de vôlei ficou de fora de Jogos passados e cogitou aposentadoria

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Tóquio

Carol Gattaz era uma promissora central de 18 anos quando chegou a ser cotada para a seleção feminina de vôlei nas Olimpíadas de Atenas-2004.

Não foi convocada, ainda que tenha feito parte, sob comando do técnico José Roberto Guimarães, de toda a preparação para aqueles Jogos. Para Pequim-2008, foi preterida mais uma vez.

A paulista mergulhou em um estado de amargura, chegou a cogitar uma possível aposentadoria precoce das quadras e abraçou os encantos da noite do Rio de Janeiro.

Além da queda de rendimento, ela sofreu com uma fascite plantar (inflamação no tecido entre o calcanhar e os dedos) no pé esquerdo. Saldo: ficou de fora das 12 escolhidas do time que se sagrou bicampeão olímpico, em Londres-2012.

A central Carol Gattaz completará 40 anos nesta terça-feira (27)
A central Carol Gattaz completará 40 anos nesta terça-feira (27) - Valentyn Ogirenko - 25.jul.2021/Reuters

Nas edições de Pequim e Londres, sem poder ir à Vila Olímpica, atuou como comentarista das partidas de vôlei no canal SporTV. Uma vaga que, costumeiramente, é preenchida por ex-atletas.

Carol não parou. Seguiu jogando em clubes de ponta do país. No entanto, quando chegou aos Jogos do Rio-2016, ela já havia dado por encerrada sua trajetória na seleção brasileira.

Todo esse roteiro passou pela cabeça da jogadora no último dia 25 de junho, quando o técnico Zé Roberto chamou-a para anunciar: "Carol, você vai para Tóquio". Desta vez, para jogar.

“Das quatro Olimpíadas, a de 2008 foi a que mais me chateou, porque fiz parte de todo o ciclo, estive em todos os campeonatos com a seleção. Achava que deveria estar, pelo menos, entre as 12 convocadas”, diz ela à Folha.

Para os Jogos de Pequim, Zé Roberto optou por Thaisa, Fabiana e Walewska para a sua posição.

“As três centrais que estavam lá eram indiscutivelmente melhores do que eu, mas [poderia ter ficado com] uma quarta vaga de repente. Passou e, hoje, está muito bem esclarecido.”

As primeiras Olimpíadas da veterana Carol são mais uma prova de que os sonhos não envelhecem no esporte. Antes do vice-campeonato na última Liga das Nações, disputada na Itália entre maio e junho deste ano, a central havia vestido a camisa amarela pela última vez em 2013.

“Acho muito legal quando dizem que a Carol, aos 40 anos, vai à Olimpíada. Ninguém fala assim, por exemplo, da Gabizinha, da Rosamaria [ambas têm 27]. Dou risada. É um motivo de orgulho, para mim”, afirma.

Na terça (27), quando o Brasil enfrentar a República Dominicana, Carol completará 40 anos. A central confronta o seu passado com maturidade e hoje conclui que não soube administrar a frustração por ter ficado fora de Pequim.

“Eu tinha pensamentos de parar de jogar. Não cheguei a ter depressão, mas fiquei muito triste. Em 2010, o Rio de Janeiro me contratou e me trouxe a alegria de volta. Fui campeã brasileira”, diz Carol.

“Algo de ruim é que me perdi no Rio de Janeiro. É uma das melhores cidades do mundo, com muita badalação, festas, onde conheci muita gente. Acabou que me deslizei, me deslumbrei com essa vida. Não deixei o voleibol de lado, mas saía mais do que deveria e poderia.”

A redenção começou a partir do momento em que a central foi contratada pelo Minas Tênis Clube para a temporada 2014/2015. Até hoje defendendo a equipe de Belo Horizonte, ela enfileirou premiações individuais e foi decisiva em conquistas de títulos como o da Superliga (duas vezes), da Copa do Brasil e do Sul-Americano.

O Minas convidou-a em outro momento adverso da carreira. Seus dois clubes anteriores, Vôlei Futuro e Vôlei Amil, haviam sido extintos, respectivamente, em 2012 e 2014, e Carol ficou sem time nas duas oportunidades.

Ainda em 2013, ela se transferiu para o Igtisadchi Baku, do Azerbaijão, mas ficou apenas dois meses e voltou, alegando quebra de contrato por parte da agremiação.

“O Minas foi quem me resgatou. Estava sem time e recebi esse convite aos 47 minutos do segundo tempo. Não imaginava que tudo isso aconteceria, encontrei o melhor clube que joguei em toda a minha vida, e o sonho de retornar à seleção renasceu”, diz.

Natural de São José do Rio Preto (a 440 km de São Paulo), Carol cresceu praticando diversos esportes, como o handebol e o futsal. Tinha preferência por jogar basquete em um clube local. Como não havia equipe feminina, ela treinava somente com os garotos e não disputava competições.

Dois técnicos da cidade fizeram o convite para que ela começasse a treinar numa equipe de vôlei. Levou pouco tempo para que deixasse o interior paulista pela primeira vez, aos 15 anos, após receber convite do Osasco.

Longe dos familiares, o começo foi bem complicado. Todos os dias, ela ligava para a sua mãe, Cida Gattaz, aos prantos, manifestando o desejo de voltar para casa. Cida, então, convencia sua filha a suportar só mais uma semana e, na sequência, reavaliariam se Carol queria mesmo desistir do voleibol.

“A nossa passagem pela Terra é pequena, e eu sempre quis deixar algo para alguém. Minha carreira foi vitoriosa nos clubes pelos quais passei, só que agora, mais do que nunca, deixo um legado de superação devido à minha idade. A minha vontade de ganhar uma medalha é óbvia, mas estou feliz de poder ir às Olimpíadas e deixar uma história para alguém.”

A primeira pessoa avisada por Carol sobre a convocação para Tóquio foi justamente sua mãe. As duas choraram pelo telefone.

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