Daniel Dias e Gabriéis mostram força de gerações nas Paralimpíadas

Astro brasileiro da natação conquista sua 25ª medalha no dia da estreia de revelações do país

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São Paulo

O primeiro dia da natação nos Jogos Paralímpicos de Tóquio-2020 simbolizou bem o que se espera da participação brasileira no Japão, com duas medalhas de novatos e duas de veteranos.

Gabriel Bandeira, 21, e Gabriel Geraldo Araújo, 19, estrearam em Paralimpíadas e levaram as duas primeiras conquistas do Brasil.

Bandeira, que possui deficiência intelectual, conquistou o ouro nos 100 m borboleta classe S14, e Araújo foi prata nos 100 m costas classe S2 —o número varia de 1 a 10 para deficiências físicas; quanto menor, maior o comprometimento motor do atleta.

A alegria dos jovens xarás foi complementada pela dos experientes Phelipe Rodrigues, 31, (bronze nos 50 m livre classe S10) e Daniel Dias, 33, (bronze nos 200 m livre classe S5).

Daniel Dias sorri na piscina após completar a prova
Daniel Dias na final dos 200 m livre classe S5 (atletas com limitações físico-motoras) das Paralimpíadas de Tóquio - Alê Cabral/ CPB

Para quem possui 14 ouros e agora 25 medalhas paralímpicas no total, um bronze poderia ser apenas mais uma conquista na conta de Daniel Dias, mas o paulista de Campinas comemorou muito quando bateu na terceira colocação, atrás do italiano Francesco Bocciardo e do espanhol Antoni Ponci Bertran.

Os dois primeiros colocados pertenciam anteriormente à classe S6, destinada a competidores com menor comprometimento motor em comparação aos da S5. Um processo de reclassificação funcional conduzido pelo IPC (Comitê Paralímpico Internacional) nos últimos anos, porém, fez com que alguns rivais passassem para a classe de Daniel Dias e tirassem dele o domínio que possuía em várias provas.

“Por isso que eu vibrei muito com a medalha, de fato isso aqui valeu muito para mim. As outras provas vão estar mais difíceis ainda. Então é vibrar, curtir cada momento sabendo que esse processo [de reclassificação] aconteceu. Falarei mais dele depois de ter nadado todas as provas”, afirmou o maior medalhista do país nos Jogos ao SporTV.

“A gente sabia que precisaria ter uma mudança, mas não da maneira que foi. Isso acabou prejudicando muita gente, inclusive muitos atletas com quem eu tenho conversado estão parando de nadar por causa dessa reclassificação”, completou.

Daniel Dias vai se aposentar da carreira de atleta após encerrar sua participação em Tóquio, conforme já adiantou. Seu último ato, nos 50 m livre, está programado para as 7h29 do dia 1º de setembro. Antes, terá mais quatro provas e já voltará a nadar nesta noite, nas eliminatórias dos 100 m livre e do revezamento 4 x 50 m. As finais serão na manhã desta quinta (26).

O espaço que ele e Phelipe Rodrigues, também em sua quarta participação paralímpica e agora com oito medalhas, conquistaram poderá futuramente ser ocupado por jovens. Revelações estas que começaram a trilhar sua trajetória nesta terça.

Gabriel Bandeira bateu na frente nos 100 m borboleta com direito a recorde paralímpico da classe S14: 54s76. O britânico Reece Dunn, recordista mundial da prova, ficou 36 centésimos atrás.

O jovem brasileiro é um fenômeno recente do esporte paralímpico. O paulista de Indaiatuba, que competia na natação convencional desde os 11 anos e participou de grandes competições nacionais, teve uma deficiência intelectual constatada em exames e migrou para o paradesporto no começo de 2020.

Ele, que defende o Praia Clube (de Uberlândia), estreou em competições paralímpicas em fevereiro do ano passado, num evento em Brasília. Conquistou seis medalhas de ouro, com quatro quebras de recordes brasileiros.

Na pausa de competições provocada pela pandemia, o atleta se desenvolveu ainda mais. Em junho de 2021, disputou o Campeonato Europeu, em Portugal, sua primeira competição internacional, e venceu seis provas com recordes continentais. Agora, ele terá outras cinco chances de medalha em Tóquio. A próxima, na sexta (27), nos 200 m livre.

"Minha vida na natação está só começando", Bandeira afirmou ao SporTV, agradecendo ao apoio de sua família, principalmente da avó, Carmen.

Nadador com agasalho amarelo, máscara e a medalha pendurada no peito
Gabriel Geraldo Araújo com sua medalha de prata nas Paralimpíadas de Tóquio - Molly Darlington/Reuters

Pouco antes, o xará havia adotado discurso semelhante, anunciando que “a história de Gabriel Araújo está só começando”.

"Ficou um gostinho de quero mais, mas me entreguei totalmente naquela piscina e é só o começo. Tenho mais duas provas pela frente e vou buscar a tão sonhada medalha de ouro”, projetou também ao SporTV o autor de uma descontraída dancinha no pódio.

O mineiro de Santa Luzia que treina no clube Bom Pastor, de Juiz de Fora, conheceu a natação por meio de um professor de educação física da escola onde estudava, nos Jogos Escolares de Minas Gerais. Até então, suas maiores conquistas haviam sido as cinco medalhas dos Jogos Parapan-Americanos de 2019.

Entre os 234 atletas com deficiência que disputarão os Jogos Paralímpicos de Tóquio pelo Brasil, 68 são das chamadas "classes baixas", com deficiência mais severas. Gabriel tem focomelia, doença congênita que afeta a formação de braços e pernas.

O mineiro não possui os braços, por isso larga com assistência de uma pessoa posicionada fora da piscina e conta com sua grande capacidade de ondulação na água.

"Eu tenho um corpo muito forte, então nado ondulando, usando tudo o que eu tenho. Não tenho os braços, mas em compensação uso tudo: perna, core, peitoral, cabeça", disse em entrevista ao CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) antes dos Jogos. Na ocasião, já tinha avisado: "Não vou para brincar não. Vou para ganhar medalha e dançar".

Tentará fazer tudo isso novamente no domingo (29), quando disputará os 200 m livre.

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