Descrição de chapéu
Marcelo Alberto de Oliveira

Estreia do caratê nos Jogos Olímpicos é um convite a esse rico universo

Estima-se que o número de praticantes pelo mundo esteja na casa dos 50 a 100 milhões

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Marcelo Alberto de Oliveira

mestre em Ciências pela EEFE-USP e técnico de caratê; integra o Grupo de Estudos Olímpicos

Muitas são as teorias que tentam explicar a origem do caratê, uma modalidade que para alguns praticantes é milenar (não raro, associada ao monge Bodhidharma) e para outros possui uma história recente.

O que podemos afirmar com mais segurança é o fato de que essa modalidade que nasceu para a guerra passou por inúmeras rupturas, continuidades e descontinuidades históricas. Além do mais, esteve atrelada a um contexto particular do leste asiático, acabando por atrair, ao longo do século 20 até a contemporaneidade, numerosos adeptos que foram motivados por imigrantes e pelos meios de comunicação.

No Brasil, muito embora seja evidente a contribuição da imigração japonesa (incluímos aqui também os imigrantes de Okinawa), o campo cinematográfico agiu como um poderoso meio para se popularizar o caratê. Quem lembra dos atores e filmes que retratavam as diversas artes marciais durante as décadas de 1980 e 1990? Foram várias obras, o que, somado às clássicas séries Tokusatsu (Jaspion, Jiraiya...), animes e mangás trouxeram um pouquinho do imaginário japonês para o país. Atualmente, o maior exemplo do efeito da midiatização do caratê pode ser observado na série “Cobra Kai”.

A japonesa Rika Usami, medalha de ouro no caratê nos Jogos Asiáticos, em 2010
A japonesa Rika Usami, medalha de ouro no caratê nos Jogos Asiáticos, em 2010 - Mike Clarke/AFP

Estima-se que o número de praticantes pelo mundo esteja na casa dos 50 a 100 milhões. Nessa esteira, para muitos caratecas, o caratê sob quatro linhas de competição não é sequer considerado caratê.

A essência dessa modalidade estaria assentada em aprender a se defender, e não a buscar pontos. Mas o caratê esportivo descaracterizaria o “verdadeiro” caratê? Bom, se quisermos responder essa questão será preciso levar em consideração as disputas de poder evidenciadas dentro do campo do caratê.

Desde que Masatoshi Nakayama (1913-1987) liderou o primeiro campeonato da história da modalidade no Japão, em 1957, o caratê esportivo passou a ser cobiçado e a cobiçar o sonho olímpico. Assim, ocorreram até os dias atuais várias trocas simbólicas entre agentes, o que culminou em acordos, brigas, desligamentos e adesões.

Dito isso, o processo de institucionalização se alargou e contribuiu para que acontecesse a entrada desta modalidade nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Nesse contexto, esperamos atentos os desdobramentos do efeito dessa possibilidade de enxergar o caratê como esporte olímpico. Os atletas e técnicos convocados para esse megaevento terão que não somente demonstrar suas habilidades com vistas a subir ao pódio, mas também representarão toda uma história de luta baseada em interesses.

Esperamos que essa experiência nos Jogos Olímpicos possa ser uma janela e convite a esse universo do caratê, fazendo com que novos alunos apareçam. Uma prática corporal que possui variados rituais e tradições particulares, e que passou por diferentes transformações norteadas pela relação entre indivíduos conservadores e indivíduos progressistas.

Portanto, o caratê não emerge como e nem se limita a um esporte. São vários os significados que o completam sem que o olho humano perceba. O modo pelo qual o caratê será exercitado dependerá muito do que estará em jogo, isso é, se o mestre e seus alunos concordarem em ser praticado de uma determinada forma.

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