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Jogos de Tóquio reergueram maratonista Daniel Chaves após fase sombria

Atleta pensou em se suicidar depois de perder patrocínios ao deixar de se classificar para Rio-2016

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Tóquio

A única sensação que Daniel Chaves, 32, deseja sentir na noite deste sábado (7) é a de esgotamento físico. A percepção de que entregou tudo e de que pode ir embora do Japão sem arrependimentos.

“Já competi muito na minha vida, vivi todas as emoções possíveis. Só quero estar pronto e, no final, saber que não tinha mais de onde tirar. São quase 15 anos querendo participar das Olimpíadas. Eu era como o ratinho atrás do queijo. Agora consegui pegá-lo”, afirma.

O queijo de Chaves é correr, algo que lhe trouxe as maiores euforias de sua vida e também o fez cogitar o suicídio, assunto que não quer tocar agora. “Estou num momento tão bom na minha vida. Saí de pensar no negativo para acreditar que poderia ter algo melhor no dia seguinte. Agora estou muito confiante.”

Homem corre em maratona
O atleta brasileiro Daniel Chaves - Wagner Carmo/CBAT

Ele já tinha passado perto das Olimpíadas outras vezes. Não deu muita importância a Pequim-2008 porque era muito jovem. Tinha 20 anos. Mas considera que estava pronto para Londres-2012 e que aqueles poderiam ter sido “os Jogos”. Lesionou-se na última prova antes da viagem.

Na Rio-2016, tentou se classificar para os 10.000 m, mas não atingiu o índice necessário. Após a realização do megaevento no Brasil, os contratos de patrocínio terminaram, e Chaves se trancou em casa, não competiu mais e ficou deprimido. Fora de forma e sem perspectivas, pensou em se matar.

“Comecei a usar drogas para limpar e esquecer de tudo, mas isso me deixou ainda mais para baixo. Foi o pior caminho, tentei o suicídio”, disse o atleta em entrevista ao site Olimpíada Todo Dia.

Aos poucos, colocou-se de pé. Em 28 de abril de 2019, surpreendeu a si mesmo ao completar a Maratona de Londres em 2h11m10s. Ele havia conquistado o índice para os Jogos. O rato havia agarrado o queijo.

“Fazia menos de seis meses que tinha voltado a competir. Era um resgate. Naquele dia, voltei a me sentir um atleta. Fazia tempo que não tinha patrocínio. Não tinha nenhuma dignidade”, relembra.

E, agora que chegou, quer mais. Afirma crer que pode estar em Paris-2024 e em Los Angeles-2028. Cita o exemplo de Paulo Roberto de Almeida, classificado aos 42 anos para largar ao lado de Chaves em Sapporo, cidade onde a maratona dos Jogos de Tóquio é realizada.

Para se preparar, fez o mesmo que outros maratonistas na reta final: foi ao Quênia. “É o berço da modalidade. Você treina a 2.300 metros de altitude. A cultura lá é a mesma que o futebol tem aqui. Você sai para correr em grupos de 50 pessoas. A maratona é o esporte individual mais de grupo que eu conheço. Você potencializa a energia e a compartilha com aquelas pessoas que sofrem junto contigo.”

Trata-se de um longo caminho desde que sua mãe, Célia Maria, disse ao filho que ele deveria estudar, trabalhar ou sair de casa. Corrida só dava despesa e havia uma casa para sustentar. Chaves foi embora.

Encontrou abrigo em um grupo de corredores chamado Pé de Vento, que dava casa para quem não residia em Petrópolis. Ele morava na cidade fluminense, mas aporrinhou tanto os responsáveis pelo time que abriram uma exceção. Pouco tempo depois, disputou o mundial júnior, aos 17 anos. Aos 20, foi à China.

Para a volta ao Brasil, ele planeja colocar de pé um projeto para formar novos atletas olímpicos. Já dá consultoria a corredores não profissionais, o que durante um tempo o manteve financeiramente. Agora vai montar algo mais profissional. Apesar de dizer considerar a maratona uma prova “aberta” em Tóquio, o que ele deseja apenas é iniciar e terminar a prova. Fechar um ciclo de tantos altos e baixos.

Talvez, quem sabe, dona Célia Maria o acompanhe pela TV. “Ela fica feliz com a minha carreira. Talvez quando acontecer, ela vibre mais. Minha mãe fica feliz se eu falar que estou bem.”


COMO AJUDAR QUEM PENSA EM SE SUICIDAR

O CVV (Centro de Valorização da Vida) dá apoio emocional e preventivo ao suicídio. Se você está em busca de ajuda, ligue para 188 (ligação gratuita) ou acesse o site.

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