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Luisa Stefani quer aproveitar alcance inédito para inspirar futuras tenistas

Brasileira emenda medalha olímpica com sucesso de nova parceria e maior título da carreira

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São Paulo

Horas após ter saído de quadra com o principal troféu de sua carreira, a tenista brasileira Luisa Stefani, 24, voou do Canadá para os EUA e teve que recorrer a uma loja de conveniência num posto de gasolina para conseguir enganar o estômago, na madrugada desta segunda-feira (16).

Ela e sua nova parceira nas duplas, a canadense Gabriela Dabrowski, mal tiveram tempo de comemorar a vitória na decisão do WTA 1.000 de Montreal, neste domingo (15), quanto mais desfrutar de um jantar. Foram direto ao aeroporto e pegaram um avião rumo a Cincinnati (no estado americano de Ohio), onde nesta semana terão outro torneio do mesmo nível —só abaixo dos Grand Slams— na preparação para o US Open. O último Slam do ano começa no dia 30 de agosto, em Nova York.

Os perrengues vividos no dia a dia do circuito mundial não mudaram agora que Stefani é medalhista olímpica e top 20 de duplas —ocupa a 19ª posição do ranking, a melhor de uma brasileira desde a implementação da lista, em 1975. A diferença está na repercussão dos seus feitos esportivos.

Quando ela desembarcou no Japão para disputar as Olimpíadas pela primeira vez na carreira, há menos de um mês, seu Instagram tinha cerca de 14 mil seguidores. Hoje, são quase 70 mil.

Na última semana, a campanha em Montreal pôde ser acompanhada com visibilidade inédita para as duplas femininas no país, pelas transmissões do canal ESPN. Stefani, que sempre sonhou em ser uma referência para o esporte feminino brasileiro, viu seu alcance ser potencializado rapidamente, após um mês mágico dentro de quadra.

“É legal atingir mais gente, poder fazer a diferença. Ainda estou descobrindo que mensagem quero passar, digerindo como vou lidar. Obviamente, vou continuar sendo eu mesma, mas vou tentar aproveitar ao máximo a oportunidade. Por enquanto, continuo fazendo o que sempre fiz”, diz em entrevista à Folha.

Além dos números, a brasileira percebe que extrapolou o nicho habitual do esporte pelas perguntas que recebe nas redes sociais. Novos fãs querem entender a contagem de pontos e saber por que os tenistas pegam várias bolinhas antes de sacar e trocam de raquete sistematicamente ao longo do jogo.

Ela se diverte nas interações com os curiosos, mas sem perder de vista o objetivo principal, de inspirar quem poderá estar nas principais quadras futuramente. “O mais importante são as próximas gerações, fazer crescer o tênis feminino. É uma meta, um sonho que eu sempre tive”, afirma.

Para isso, a duplista cultiva uma parceria com a Liga Tênis 10, projeto voltado a crianças de 5 a 10 anos que tem o objetivo de massificar o esporte no país, e busca estar próxima de atletas da categoria juvenil.

Stefani sabe como tudo pode mudar rapidamente na carreira. Desde 2018, quando trancou a universidade nos EUA para se dedicar ao circuito profissional, ela teve uma trajetória ascendente. No ano passado, fez quartas de final no US Open com a ex-parceira Hayley Carter e entrou no top 30 de duplas.

Neste ano, a paulista almejava chegar ao top 10 para garantir a vaga olímpica e alcançar campanhas ainda melhores nos Slams. Mas as coisas não vinham correndo conforme o planejado no primeiro semestre e pioraram quando ela perdeu Roland Garros, em junho, por causa de uma apendicite. Adeus, Olimpíadas, era o que imaginava.

Uma série de desistências entre as parcerias classificadas para os Jogos, porém, deu a ela o direito de entrar na chave na data limite das inscrições. Juntou-se de última hora com Laura Pigossi, e o caminho das brasileiras até a medalha de bronze virou um dos mais inesperados da história do país nas Olimpíadas.

“Os últimos dois meses antes de Tóquio foram difíceis, fisicamente e emocionalmente. Percebi que estava muito focada só na busca por resultados. Eles não vinham, e eu estava me autodestruindo por dentro”, afirma.

A notícia inesperada de que participaria dos Jogos mudou tudo, a começar pela forma de encarar os objetivos. No caminho para o Japão, escreveu num caderno a frase que queria transformar em realidade: “joga pelo amor, não pelo resultado”.

“A minha principal missão foi aproveitar cada momento, não importava como eu jogaria, se ganharia ou perderia. Toda a energia daquela semana foi impressionante. É isso o que estou trazendo para agora: não se preocupar tanto com resultado, com o que vai acontecer”, diz. “Estou tentando segurar esse sentimento e toda essa confiança, essa alegria que estou tendo na quadra, o máximo possível.”

Stefani celebra com os braços para cima, observada por Dabrowski, que sorri
Em quadra e fora dela, Stefani e Dabrowski têm mostrado ótimo entrosamento neste início de parceria - Minas Panagiotakis - 15.ago.21/AFP

Na sequência da campanha olímpica, ela iniciou a parceria com Dabrowski. Em duas semanas, foram vice-campeãs no WTA 500 de San Jose e ficaram com o título em Montreal. As duas já haviam jogado um torneio juntas e sido vice-campeãs no ano passado.

A parceria de agora foi motivada por uma lesão de Carter, que a princípio tiraria a americana de ação até o fim da temporada. A brasileira, então, convidou a canadense, que estava sem time fixo. As duas se conhecem de longa data por treinarem na mesma academia na Flórida.

Mais experiente, Dabrowski, 29, já foi número 7 do ranking e finalista de Wimbledon. Na avaliação de Stefani, o estilo de jogo agressivo de ambas casou muito bem, assim como o relacionamento fora de quadra, como mostram os vídeos descontraídos que elas têm publicado nas redes sociais.

“Eu sempre falei: os brasileiros vão te amar, vai ser demais. Ensino algumas palavras e frases em português para ela, e ela está curtindo. Estamos com a energia boa, e é bom passar essa 'vibe', porque realmente é o que está acontecendo”, relata.

Num momento de muita discussão sobre saúde mental no esporte, a brasileira destaca a importância de ser verdadeira na comunicação, sem florear a realidade. “Tem horas que não é fácil. Quando a gente está no perrengue, é importante passar essa mensagem também, de que nós, atletas, somos humanos e temos fases boas, fases ruins. Mas nas boas temos que tirar o máximo de proveito.”

É com esse espírito que elas entram na chave de Cincinnati nesta semana. Também esperam levá-lo para o US Open. Estar na condição de uma das principais duplas a serem batidas no último Slam do ano talvez não fizesse parte dos planos iniciais da parceria, mas, como os últimos meses ensinaram, nada como viver o momento.

“É bom ter certo favoritismo. Quando põem expectativa ou falam que você tem a chance de ganhar, é porque confiam que seu jogo é suficiente para aquilo. Então, dá para usar como confiança, motivação para continuar trabalhando, e não se reprimir por causa de pressão. Às vezes é mais fácil falar do que fazer, mas tem funcionado”, encerra Stefani.

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