Descrição de chapéu Tóquio 2020

Martine Grael e Kahena Kunze velejam até o ouro e são bicampeãs das Olimpíadas

Dupla da vela repete Rio-2016 na ilha japonesa de Enoshima para se igualar a Adhemar Ferreira da Silva

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Enoshima

Cinco anos depois da Baía de Guanabara, foi a vez de a ilha de Enoshima, no Japão, ser o palco da medalha de ouro das velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze.

A dupla brasileira conquistou o bi olímpico em Tóquio, nesta terça (3), na regata final da categoria 49er FX, após a prova ter sido adiada em um dia por questões meteorológicas. As velejadoras terminaram a regata decisiva em terceiro, o suficiente para o título após 12 etapas na semana. As alemãs Tina Lutz e Susann Beucke (prata) e as holandesas Annemiek Bekkering e Annette Duetz (bronze) completaram o pódio.

No Rio, as brasileiras saíram carregadas no barco pela torcida. Agora, sem espectadores devido à Covid, deixaram a água de Enoshima, uma ilha a 50 km de Tóquio, sob gritos e aplausos da equipe brasileira da vela, incluindo Torben Grael, pai de Martine, cinco vezes medalhista olímpico e chefe do time nos Jogos.

"Aqui [Enoshima], proporcionalmente, foi muito bom, todos os nossos amigos estavam ali", disse Martine logo após conquistar o segundo ouro. "Ter as pessoas que a gente admira tanto, que estão nessa batalha por ser atleta olímpico na vela... É muito difícil trilhar esse rumo."

A vitória em dois Jogos consecutivos confirma o favoritismo e reafirma o status da dupla: as brasileiras, parceiras desde 2013, tornaram-se nos últimos anos um fenômeno da vela, esporte no qual o Brasil acumula 19 medalhas olímpicas. Com exceção das modalidades coletivas, antes do bicampeonato de Martine e Kahena apenas Adhemar Ferreira da Silva havia conquistado dois ouros na sequência. A façanha do atleta no salto triplo foi alcançada em Helsinque-1952 e Melbourne-1956.

Desde então, nem mesmo Robert Scheidt e Torben Grael, cada um com cinco medalhas olímpicas na vela, duas das quais de ouro, conseguiram cumprir esse difícil roteiro. "É uma honra estar ao lado dos que fizeram nome no esporte. Ainda não caiu a ficha", disse Kahena após a conquista.

Martine Grael e Kahena Kunze durante regata na Baía de Enoshima
Martine Grael e Kahena Kunze durante regata na baía de Enoshima - Carlos Barria/Reuters

As velejadoras, ambas com 30 anos, têm dado sequência a uma tradição familiar. Pai de Martine, Torben Grael é recordista de medalhas olímpicas entre brasileiros —ao lado de Scheidt. Para ele, a vitória da filha vale muito mais do que as medalhas que conquistou. “Você, quando está competindo, está entretido. Não tem muito espaço para emoção. Não tem nada para fazer [de fora], só torcer. E é muito mais emocionante ver uma medalha dela do que ganhar uma, porque ver meus filhos bem-sucedidos é muito bom."

Nesta terça, na regata da medalha, as velejadoras foram ousadas na estratégia, ao partirem na direção oposta à das demais. Assim, conseguiram tirar a pequena vantagem obtida pelas holandesas Annemiek Bekkering e Annette Duetz ao fim das 12 regatas que precederam a disputa decisiva.

"Dei uma olhada no píer, onde estavam torcendo, antes de a gente descer com o barco, e vi uma diferença de corrente bem grande. Sou do Rio, de Niterói, conheço bem a baía de Guanabara, e sabemos que a diferença de corrente favorece um lado ou outro”, explicou Martine, sobre a estratégia de última hora.

"Conseguimos ir bem livre na direita, e acho que ter ido rápido e livre foi a chave, porque estava com pouco vento. Se você fica no bolo, acaba não tendo muito o que fazer", acrescentou a medalhista.

De acordo com as regras olímpicas, as velejadoras disputam um número determinado de regatas antes da prova decisiva. No caso da categoria 49er FX, foram 12. A dupla vencedora de cada uma das corridas ganha um ponto, a segunda colocada leva dois, e assim por diante. Se um barco não terminar uma regata ou for desclassificado, recebe pontuação equivalente ao total de competidores, além de um ponto adicional.

Assim, se 20 barcos estão na competição, quem é penalizado leva 21 pontos. A pior pontuação nas regatas é descartada, e a “medal race” conta em dobro. Ganha quem tem menos pontos ao fim da disputa.

Martine e Kahena chegaram à prova final dependendo só delas. Durante as regatas da semana, as brasileiras terminaram em primeiro lugar em duas oportunidades e ainda conseguiram uma segunda colocação. Na corrida final, chegaram em terceiro lugar. Além das duas medalhas, elas acumulam o ouro no Mundial de 2014 e quatro pratas na mesma competição, em 2013, 2015, 2017 e 2019. Ainda colecionam um ouro (2019) e uma prata (2014) em Pan-Americanos.

Há cinco anos, a primeira vitória olímpica veio em casa, no Rio, na presença de familiares e amigos, e elas foram carregadas nas areias da Baía de Guanabara. Nos Jogos de Tóquio, viveram outra realidade, com isolamento na chegada ao Japão e falta de público devido à pandemia de Covid-19.

Em comum, no entanto, além do calor e da beleza das duas praias, a medalha de ouro, reafirmando a dupla brasileira como uma das mais talentosas da vela mundial.

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