Descrição de chapéu
Tóquio 2020 COB

Novos esportes e atletas tarimbados garantem melhor desempenho do Brasil nas Olimpíadas

Com menos investimento e sob os efeitos da pandemia, campanha de Tóquio tem saldo positivo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tóquio

Com recorde de medalhas (21), mesmo número de ouros (7) das Olimpíadas de 2016 e a melhor posição da história no quadro geral (12º), a campanha brasileira nos Jogos de Tóquio terminou de forma positiva.

Entender como se chegou a isso com menos investimentos e durante a pandemia da Covid-19, que em tese poderia atrapalhar especialmente o desempenho de um dos países que mais sofreram com a crise sanitária, é importante para que a evolução se perpetue nos próximos ciclos olímpicos.

O Brasil foi o segundo país a aumentar seu número de pódios (19 para 21) na edição seguinte à que sediou. A primeira foi a Grã-Bretanha, também com duas medalhas a mais no Rio do que em Londres.

Tóquio-2020 distribuiu 11% a mais de pódios em comparação a cinco anos atrás. Para o Brasil, a entrada de surfe e skate no programa olímpico se confirmou como elemento fundamental para o resultado histórico. Mas a novidade não se caracterizou como dependência. Sem o ouro de Italo Ferreira e as pratas de Pedro Barros, Rayssa Leal e Kelvin Hoefler, a campanha não seria nem recordista nem um fracasso.

Por outro lado, Isaquias Queiroz não teve a chance de repetir as três medalhas conquistadas no Rio. Em Tóquio, o número de provas na canoa masculina diminuiu para duas. Já em Paris-2024, a distância passará de 1.000 metros para 500 metros, o que tende a favorecer o brasileiro.

A mutabilidade dos Jogos é parte de sua natureza. O COI (Comitê Olímpico Internacional) não opera alienado dos princípios econômicos, diplomáticos e geopolíticos. Assim, horários de disputas são alterados conforme os interesses das TVs; esportes estreiam para buscar novos públicos; provas entram, saem e sofrem mudanças ao gosto dos países-sedes ou dos que exercem influência naquela modalidade.

Se o Brasil vibra com as suas quatro medalhas vindas do skate e do surfe, o Japão pode celebrar 14, com os resultados de caratê e escalada esportiva —os outros estreantes—, além de beisebol e softbol, que retornaram após duas edições ausentes.

Joga-se com as regras do momento. No caso brasileiro, mais importante do que diminuir o peso do recorde devido às modalidades estreantes é discutir como não perder nos próximos anos o protagonismo já existente neles. A concorrência certamente estará maior, e o vôlei de praia deixa a lição. Antes dominado por EUA e Brasil, hoje produz bons atletas em qualquer país.

Falar só de skate e surfe ao analisar o desempenho brasileiro seria ignorar outras 17 conquistas. Nelas está visível o aumento do protagonismo das mulheres, com 9 das 21 medalhas, percentual inédito de 43%.

Em nível mundial, os investimentos demoraram a chegar ou ainda não chegaram da mesma forma para as categorias femininas. Quem faz a lição de casa e se preocupa com a equidade, ainda que de forma pragmática, tem mais espaço para evoluir. O COB tem batido nessa tecla e recentemente criou um departamento voltado ao esporte feminino.

Outro aspecto relevante para o desempenho do Brasil em Tóquio é que o país conseguiu confirmar suas principais apostas de medalhas, muitas das quais com atletas tarimbados. As velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze, o canoísta Isaquias Queiroz, o saltador Thiago Braz e a judoca Mayra Aguiar repetiram conquistas de 2016 —esta última também de 2012.

A ginasta Rebeca Andrade, outra aposta para o ciclo do Rio, brilhou agora, amadurecida e sem ser atrapalhada pelas lesões. Os nadadores Bruno Fratus e Ana Marcela Cunha enfim repetiram nos Jogos o desempenho que sempre os colocou como os melhores de suas modalidades.

Dessa lista saíram quatro ouros, uma prata e três bronzes.

Os atletas estreantes em Jogos tiveram contribuição acima da esperada. Entre os que já apareciam com favoritismo (além de skate e surfe), o barreirista Alison dos Santos e a pugilista Beatriz Ferreira corresponderam às expectativas. Também no boxe, Hebert Conceição foi além delas, e Abner Teixeira ajudou a colocar o esporte na condição de principal responsável pelas medalhas brasileiras.

Outros estreantes, o nadador Fernando Scheffer e o judoca Daniel Cargnin são nomes de reconhecido talento, mas que ainda não haviam estourado. Entregaram o melhor no momento certo. Já a medalha de Luisa Stefani e Laura Pigossi no tênis entra para a categoria dos contos de fadas, a mais inesperada.

Por fim, futebol masculino e vôlei feminino —mais surpreendente, desta vez— cumpriram a cota das medalhas nos esportes coletivos tradicionais para o Brasil.

Atletas favoritos e que ficaram fora do pódio, como o surfista Gabriel Medina e a skatista Pâmela Rosa (que competiu lesionada), não representaram um baque na campanha porque Italo e Rayssa garantiram medalhas nas mesmas provas. Reduziram o prejuízo numérico e aliviaram o sentimento de decepção —nem tanto no caso de Medina.

Outros potenciais candidatos ficaram abaixo das expectativas, o que é normal. Nas Olimpíadas, em qualquer país, trabalha-se para chegar com o maior número possível de chances e confirmar parte delas. O Brasil conseguiu ampliar e diversificar as suas e colheu o resultado.

As maiores decepções ficaram por conta do vôlei masculino e do vôlei de praia. A seleção de quadra entrou como campeã olímpica, vice-campeã mundial e campeã da Liga das Nações. Saiu sem medalha após uma campanha apática. Na areia, pela primeira vez na história o país terminou zerado. Desde 1996, eram no mínimo duas conquistas por edição.

O fim das Olimpíadas sempre convida a lições de casa. Desta vez, elas terão que ser aceleradas, devido ao ciclo mais curto de três anos até Paris-2024. Na campanha do Japão, os rescaldos dos investimentos públicos feitos no ciclo de 2016 ainda estiveram visíveis, mesmo com a redução significativa de verba dos últimos anos, principalmente nos patrocínios das estatais. Sobreviverão até a França?

O esporte olímpico brasileiro hoje é mais profissional e dá boas condições de treinamento para grande parte do topo da pirâmide. Mas ainda está muito longe de ser democrático e atingir seu potencial, como voltamos a repetir a cada quatro anos.

Massificar a prática esportiva, estruturar a formação, ter entidades e governos que trabalhem juntos não só na aplicação de verbas, mas na formulação de uma estratégia para o esporte. Enquanto esses objetivos distantes não virarem realidade, a evolução pode até acontecer, mas a passos curtos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.