Descrição de chapéu Tóquio 2020

Olimpíadas superam apreensão pela Covid e celebram repercussão esportiva

Cerimônia de encerramento será realizada neste domingo (8), no Estádio Olímpico de Tóquio

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Tóquio

Muitos duvidaram de sua realização, outros criticaram a insistência em levá-las adiante em meio a uma pandemia. O povo japonês, em sua maioria, não queria recebê-las.

Após 17 dias, as Olimpíadas de Tóquio-2020 terminam com a sensação de que a repercussão esportiva superou o medo de um possível surto (que não ocorreu) de Covid-19 durante a competição.

O Estádio Olímpico de Tóquio apresenta neste domingo (8), às 8h, a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 2020, realizados em 2021.

Estádio Olímpico de Tóquio receberá a cerimônia de encerramento dos Jogos
Estádio Olímpico de Tóquio receberá a cerimônia de encerramento dos Jogos - Yuki Iwamura/AFP

Termina, assim, uma edição histórica, sem a presença de público pagante nas arquibancadas, sob a ameaça de um vírus que matou 4 milhões pelo mundo e com uma bolha olímpica para tentar isolar os japoneses dos estrangeiros.

Os Jogos já chegaram a ser cancelados, como os de 1916, 1940 e 1944, por conta das Grandes Guerras Mundiais. Adiados de um ano para o outro, em meio a uma crise global de saúde, foi a primeira vez.

Para o presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Thomas Bach, vilão para muitos japoneses por insistir no evento, o saldo é positivo. “Confesso que, depois da decisão das autoridades japonesas de vetar público, eu tinha preocupação de que faltaria alma aos Jogos. O que vimos aqui foi totalmente diferente, porque os atletas deram alma ao evento", diz.

A cerimônia de encerramento deve explorar a ideia de que uma pluralidade de mundos foi compartilhada ao longo das competições e apostar que o futuro será melhor após essa tempestade sanitária. No fim, o Japão passará o bastão para a francesa Paris, a anfitriã em 2024.

A ginasta Rebeca Andrade, que conquistou duas medalhas (prata e ouro) e encantou em uma apresentação solo embalada pelo funk “Baile de Favela”, será a porta-bandeira da delegação brasileira. A previsão é manter o gesto da festa de abertura: enviar no máximo cinco pessoas para a despedida.

Houve uma escalada de casos de Covid no Japão durante os Jogos, mas não há dados que apontem vínculo com as Olimpíadas. E os diagnósticos positivos dentro da bolha olímpica foram baixos, se levarmos em conta a proporção de pessoas envolvidas.

Na sexta-feira (6), o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, negou a relação entre o crescimento de casos no país com as Olimpiadas. "Não acho que os Jogos de Tóquio sejam as causas disso", afirmou ele, que foi um dos que insistiu na realização do evento.

Segundo dados oficiais, houve 36 casos entre os 42 mil testes feitos na chegada dos estrangeiros nos aeroportos. Cerca de 570 mil foram realizados dentro do Japão durante as competições. Até sexta-feira (6), foram 387 resultados positivos para o coronavírus —251 de residentes e 136 de fora. Apenas 29 são de atletas.

“Esperávamos um certo número de casos positivos, e tivemos que adotar rápidas ações para responder a isso. Não foi uma grande confusão até agora, e já estamos chegando à cerimônia de encerramento”, celebrou Masa Takaya, porta-voz do comitê de Tóquio-2020.

Na esfera macro-esportiva, três estrelas globais– Simone Biles, Naomi Osaka e Novak Djokovic – frustraram as expectativas de pódio. A deserção de uma atleta de Belarus causou turbulência internacional, e alguns protestos políticos —como o de Raven Saunders, negra e LGBTQI+, no pódio— não foram punidos pelo COI.

Em pouco mais de duas semanas, uma forte onda de calor infernizou a vida dos atletas. O comitê organizador deu sinais de falta de planejamento para enfrentar temperaturas diárias acima de 30ºC. Em eventos nas áreas de competições no skate, na canoagem e no parque Odaiba, onde ocorreu a maratona aquática, as pessoas ficaram expostas.

A ameaça de um tufão foi outro vilão meteorológico. Ventos fortes obrigaram organizadores a antecipar finais do surfe e alterar outras modalidades.

Italo Ferreira durante a final do surfe nas Olimpíadas de Tóquio, prova em que ficou com o ouro
Italo Ferreira durante a final do surfe nas Olimpíadas de Tóquio, prova em que ficou com o ouro - Lisi Niesner - 27.jul.2021/Reuters

A vida seguiu em Tóquio, mesmo em estado de emergência, como se não houvesse o maior evento esportivo do planeta dentro da cidade de 13,9 milhões de habitantes. Muitos japoneses aglomeram e desrespeitam protocolos em trens, metrô, estabelecimentos comerciais, restaurantes e bares noturnos.

Pesquisas mostravam uma população avessa às Olimpíadas, sob discurso de que a chegada de estrangeiros poderia ser uma via de transmissão da Covid-19. Tóquio viveu dois mundos paralelos. Causava estranhamento aos moradores a aparição de alguém com a credencial oficial dos Jogos pendurada no pescoço.

Há três semanas, a cidade registrou 882 casos. Sete dias depois da abertura oficial do evento, foram 3.300. Na última sexta (6), já eram 4.515 novas infecções, mesmo dia em que o Japão atingiu a marca de 1 milhão de diagnósticos desde o início da pandemia.

Segundo o presidente do COI, que passou as últimas semanas pedindo apoio da população local, 9 entre 10 japoneses assistiram a alguma parte dos Jogos pela televisão. Ele atribui a audiência também ao desempenho dos atletas conterrâneos, que até sábado (7) haviam conquistado 52 medalhas –24 de ouro, 12 de prata e 16 de bronze.

“Podemos concluir que o povo japonês apoiou e abraçou os Jogos. Isso não é sentimento, é baseado em evidências”, diz Bach.

A temperatura estava alta na cidade e na política também. Durante as Olimpíadas, a velocista Kristsina Tsimanouskaia, da Belarus, foi obrigada a suspender sua participação depois de ter criticado publicamente a federação de atletismo do seu país.

Belarus é uma ditadura comandada por Alexander Lukachenko. O filho dele, Viktor Lukachenko, dirige o comitê olímpico local. Sua eleição não é reconhecida pelo COI, que lhe negou credencial para Tóquio.

“Não é nossa missão mudar o sistema político de um país. Nossa responsabilidade é proteger os atletas até onde podemos e aplicar sanções a quem está infringindo nossos valores”, diz Thomas Bach em relação ao veto ao filho do ditador. Tsimanouskaia pediu asilo na Polônia. Atendida, seguiu para Varsóvia.

Tóquio-2020 chega ao fim com certa frustração em relação ao protagonismo de suas três grandes apostas globais.

A americana Simone Biles, dona de quatro medalhas olímpicas na Rio-2016, desistiu de disputar as principais finais, levantando o importante debate sobre a saúde mental dos atletas.

Ela abandonou a briga por equipes e só competiu na trave. Ficou com o bronze. Frustrou quem esperava vê-la brilhando na Ariake Arena, mas ganhou elogio de atletas por ter sido porta-voz de um tema pouco explorado no ambiente olímpico.

Ao contrário de Biles, o tenista número um do mundo, o sérvio Djokovic, foi mal dentro da quadra e pior fora dela. Não ficou nem com o bronze no torneio individual, mostrou descontrole emocional ao quebrar uma raquete, e, pior, lhe faltou espírito esportivo ao desistir de disputar o terceiro lugar nas duplas mistas.

Sobretudo japoneses sentiram a queda precoce de Naomi Osaka nos Jogos. A tenista foi a principal estrela da abertura ao acender a pira olímpica.

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