Descrição de chapéu Tóquio 2020 DeltaFolha

Olimpíadas têm hegemonia dos EUA ameaçada pela China e êxito de Japão e Brasil

Americanos só superam chineses em ouros com vitória no vôlei feminino no último dia

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São Paulo

A Guerra Fria 2.0 entre EUA e China, em curso no campo geopolítico, também foi pano de fundo para os Jogos de Tóquio-2020, que acabaram neste domingo (8). Apenas no último dia de disputas os americanos conseguiram passar os chineses no número de ouros, graças ao título conquistado no vôlei feminino sobre a seleção brasileira. No Rio, há cinco anos, a diferença tinha sido de dez medalhas douradas.

Ainda que tenham sido os que mais acumularam pódios, os americanos terminam com ânimo em baixa, com sete ouros a menos no total do que em 2016, mesmo que Tóquio tenha distribuído um recorde de 1.080 medalhas (340 de ouro, 338 de prata e 402 de bronze), aumento de 11% em relação ao Rio.

Os Estados Unidos falharam ainda em esportes-chave, especialmente no atletismo e na natação. No esporte-base das Olimpíadas, os americanos ganharam menos medalhas do que na Rio-2016 (26 a 32) e desabaram em ouros (7 a 13). Nas piscinas, competição tecnicamente mais forte em Tóquio-2020, a queda foi menos drástica, mas ocorreu: menos ouros (11 a 16) e menos pódios (30 a 33).

Estados Unidos recebem a medalha de ouro no vôlei feminino no último dia de Jogos Olímpicos
Estados Unidos recebem a medalha de ouro no vôlei feminino no último dia de Jogos Olímpicos - Ivan Alvarado/Reuters

Assim, o país viu a hegemonia ser ameaçada de perto pelos chineses. Os asiáticos, em vias de deixarem os EUA para trás e se tornarem a maior economia mundial, conseguiram seu melhor resultado em Jogos em que não foi sede. Em casa, nos Jogos de Pequim-2008, o time chinês realizou sua melhor campanha.

Durante a última semana, os principais veículos de imprensa da China exaltaram as marcas atingidas pelos atletas. Esses grupos de mídia são, em diferentes graus, ligados ao Partido Comunista, o que dá verniz oficial às afirmações. Na sexta (6), o Global Times escreveu que, “ao contrário do que a mídia ocidental previa”, os Estados Unidos não tiveram grande liderança em número de ouros.

A publicação atribuiu o desempenho chinês à gestão da pandemia de Covid, o que permitiu aos atletas reduzir os prejuízos na preparação. Ainda que o coronavírus tenha sido detectado primeiro na China, o país conseguiu controlar rapidamente a proliferação do vírus. Nos EUA, foram registradas 614 mil mortes devido à doença, contra 4.848 na China, que tem população quatro vezes maior do que a americana.

O China Daily, outro veículo chinês, destacou que dez ouros foram obtidos por atletas com menos de 21 anos, e a “sólida performance de jovens talentos convenceu os fãs de que o domínio do país é seguro”.

Clima bem diferente estampou na sexta (6) o New York Times, principal jornal americano. Com o título “EUA recuam no quadro de medalhas”, a reportagem abordou problemas em diversos esportes em que o país era favorito. Durante os Jogos, veículos locais chegaram a publicar a classificação geral pelo total de medalhas, em que os americanos sempre estiveram à frente, e não pelo total de ouros, como é usual.

A reportagem cita problemas na preparação provocados pela pandemia. A USATF (Federação de Atletismo dos EUA), por exemplo, decidiu não reunir com antecedência os atletas para treinarem juntos, com medo de um surto de Covid. Numa prova emblemática em que já teve primazia, a equipe masculina do revezamento 4 x 100 m ficou fora da final. Dono de nove ouros, Carl Lewis chamou a atuação de "vergonha total". "É inaceitável para um time dos EUA parecer pior do que crianças em provas escolares", criticou.

O texto do New York Times também destacou que a delegação americana preferiu zelar mais pelo conforto físico e emocional dos atletas, especialmente após o escândalo com o médico Larry Nassar, da equipe de ginástica artística, condenado por ter abusado de atletas, o que causou a queda de diversos dirigentes olímpicos do país, sob a alegação de que priorizavam o desempenho esportivo, sem dar atenção à saúde e à segurança das atletas.

Coincidentemente, a maior ginasta americana, Simone Biles, declinou de provas em que era favorita, afirmando que não estava forte o suficiente psicologicamente. Se no Rio ela levou três ouros e um bronze, em Tóquio teve apenas uma prata por equipes e um bronze na trave.

O Japão, de Takanori Nagase (à dir.), conquistou 9 ouros no retorno do judô ao Nippon Budokan
O Japão, de Takanori Nagase (à dir.), conquistou 9 ouros no retorno do judô ao Nippon Budokan - Xinhua/Lui Siu Wai

Fator casa

O Japão fez valer a escrita de que o país-sede tende a ter um salto de desempenho em relação aos Jogos anteriores. Na Rio-2016, a delegação japonesa conseguiu 41 medalhas, sendo 12 de ouro. Como sede dos Jogos, saltou para 58 e 27, respectivamente.

O judô foi o esporte que mais ajudou a performance dos anfitriões. No Rio e em Tóquio, o número de medalhas conquistadas foi o mesmo: 12. Mas a importância delas cresceu. Há cinco anos, foram três ouros em 14 eventos. Na volta ao Nippon Budokan, que já fora palco do judô em 1964, os japoneses ganharam nove dos 15 ouros em disputa. Neste ano o programa ganhou a competição por equipes.

Outra modalidade em que o fator casa teve relevância foi no wrestling. Nas Olimpíadas disputadas no Brasil, a equipe japonesa já havia feito boa campanha, com quatro ouros e sete medalhas no total. Em Tóquio, os sete pódios foram mantidos, mas o país ganhou cinco ouros, liderando o quadro de medalhas da modalidade —as mulheres foram responsáveis por quatro deles.

O Japão, assim como o Brasil, viu o peso feminino ser decisivo na boa campanha. As mulheres ganharam 14 ouros, e os homens, 12. Houve ainda um título nas duplas mistas do tênis de mesa.

Brasil pós-sede

Ter sido anfitrião também parece ter ajudado o Brasil, que chegou a uma marca incomum: a equipe foi ainda melhor do outro lado do planeta do que quando sediou os Jogos, cinco anos atrás. Em toda a história olímpica, essa façanha havia sido obtida apenas pela Grã-Bretanha, entre Londres e Rio.

Alguns fatores foram bastante relevantes para o bom desempenho do Brasil. Os homens ganharam 12 medalhas (4 ouros, 2 pratas e 6 bronzes). Já as mulheres adquiriram um protagonismo inédito no Time Brasil: foram 9 pódios (3 ouros, 4 pratas e 2 bronzes). Algumas delas, com marcas inéditas para o esporte nacional. Na ginástica artística, Rebeca Andrade se tornou a primeira medalhista (prata no individual geral) e a primeira brasileira campeã olímpica na modalidade (ouro no salto).

Convocadas para as Olimpíadas às vésperas do evento, Laura Pigossi e Luisa Stefani ganharam o bronze nas duplas, primeira medalha do Brasil no tênis em Olimpíadas. No boxe, Bia Ferreira obteve a prata na categoria até 60 kg e se tornou dona do melhor resultado do boxe feminino brasileiro em Olimpíadas.

No judô, Mayra Aguiar subiu pela terceira vez seguida ao pódio olímpico para receber o bronze. Trata-se da judoca brasileira com mais medalhas na modalidade, contando homens e mulheres.

A boa campanha foi beneficiada pela chegada de novos esportes ao programa olímpico. O Brasil conquistou um ouro no surfe e três pratas no skate. Graças às modalidades, o Time Brasil levou para casa 1,94% das medalhas em disputa no Japão. Na Rio-2016, a delegação havia conquistado 1,95% dos pódios.

Apesar de ambas as campanhas terem obtido sete ouros, o desempenho na Rio-2016 foi mais relevante em relação ao total de provas em disputa. Segundo levantamento da Folha, em casa, os brasileiros ganharam 2,28% dos 307 títulos em disputa. No Japão, que distribuiu 33 medalhas douradas a mais, a equipe subiu ao alto do pódio em 2,06% das provas.

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