Patrocínio da XP a atletas da seleção de vôlei causou tensão entre CBV e COB

Parceira do Banco do Brasil, confederação reclamou de acordo entre corretora e jogadores

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São Paulo

A campanha da seleção masculina de vôlei nos Jogos Olímpicos de Tóquio teve momentos de tensão entre jogadores e a CBV. A Confederação Brasileira de Vôlei e o Banco do Brasil, seu parceiro de longa data, irritaram-se com a aproximação de atletas do time nacional com a corretora de investimentos XP.

O BB é patrocinador da modalidade desde 1991 —o contrato foi recentemente renovado por quatro anos, em um negócio de R$ 248,8 milhões. Mesmo sem direitos sobre os jogadores no acordo, houve um incômodo na cúpula da CBV quando a XP firmou parcerias com Lucarelli e Douglas, destaques da equipe verde-amarela nas Olimpíadas.

Lucarelli e Douglas fecharam acordos com a XP - Carlos Garcia Rawlins - 7.ago.21/Reuters

Um representante da confederação procurou o COB (Comitê Olímpico do Brasil) para se queixar e apontou que o compromisso estava sendo desrespeitado. O vínculo, porém, permite ao banco explorar apenas as propriedades da seleção de forma coletiva. Individualmente, os atletas são livres para fazer seus acertos com patrocinadores.

O próprio COB tem um acordo recente com a XP. Em maio deste ano, uma parceria foi anunciada até os Jogos de Paris-2024. Os valores não foram divulgados, mas a diretora de comunicação e marketing do COB, Manoela Penna, disse que o acordo é o maior já fechado diretamente pela entidade.

Segundo o balanço do comitê, a principal receita publicitária até o ano passado era de R$ 4,9 milhões, proveniente de compromisso com o Grupo Estácio.

A XP montou um time de atletas-embaixadores, composto por Bruno Fratus (natação), Lucarelli (vôlei), Douglas Souza (vôlei), Cristiane Rozeira (futebol), Mayra Aguiar (judô), Sheilla Castro (vôlei) e Fernando Scherer (ex-atleta da natação).

A bronca da CBV é que foi o próprio COB que fez a ligação entre os esportistas e a corretora, apresentando uma lista de atletas que poderiam ser patrocinados.

O COB, questionado pela Folha, afirmou que, em parceria com uma comissão de atletas formada por 25 integrantes, desenvolveu um programa de remuneração para que os competidores possam ser financiados por marcas.

“Sempre que um parceiro do COB deseja expandir sua atuação na direção dos atletas, faz a seleção dos nomes, e o COB oferece essa oportunidade aos atletas e/ou seus agentes. Foi assim com XP, TIM e Riachuelo, por exemplo”, explicou.

Pelo vínculo firmado, a corretora conta com o atleta para campanhas digitais e como divulgador dos seus conteúdos em mídias sociais.

A XP disse que não iria se pronunciar sobre o caso.

Procurado, o Banco do Brasil enfatizou os investimentos que fez na modalidade.

“O interesse de outras empresas no esporte que o BB patrocina há 30 anos traduz a relevância que o voleibol ganhou com essa parceria; investimentos são importantes para que a modalidade continue se desenvolvendo e conquistando títulos para o Brasil”, disse a estatal em nota.

O Banco do Brasil repassou R$ 61,6 milhões à CBV neste ano, além de R$ 1,2 milhão divididos entre os jogadores do vôlei de praia Alison, Bruno Schimidt, Evandro, Álvaro Filho, Ágatha, Duda, Ana Patrícia e Rebecca.

Mulher cai no chão em quadra de areia tentando pegar bola de vôlei
Parceria do Banco do Brasil com a CBV inclui o vôlei de praia - William Lucas/Inovafoto/CBV

Já a CBV afirmou respeitar "os contratos com seus patrocinadores, parceiros e, também, atletas, protegendo tudo o que é estabelecido nos instrumentos contratuais, inclusive a confidencialidade de suas cláusulas".

O episódio recente não é o primeiro com articulação da CBV para proteger seus patrocinadores. Em maio deste ano, a entidade chegou a enviar ofício obrigando os atletas das seleções feminina e masculina a utilizar o tênis da Asics, sua fornecedora de material esportivo.

A Folha teve acesso ao ofício e ao email enviado a 40 destinatários ameaçando cortar 50% de “toda e qualquer remuneração daqueles que não usassem o tênis da patrocinadora” durante os jogos e treinos.

A obrigatoriedade de vestir o material da Asics causou contrariedade nos jogadores, principalmente nos que possuem compromisso com outras marcas. Bruninho, por exemplo, é patrocinado pela Olympikus, e Gabi tem vínculo com a Nike.

Diante da repercussão negativa, a CBV fez uma reunião com a empresa de produtos esportivos e acabou liberando o uso de outras marcas.

Com os tênis de sua escolha, os atletas das seleções masculina e feminina tiveram campanhas longevas em Tóquio, embora o resultado não tenha sido o esperado para o time dos homens, que perdeu nas semifinais e foi superado também na disputa pela medalha de bronze. A equipe das mulheres avançou até a decisão e ficou com a prata.

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