Descrição de chapéu Tóquio 2020 COB

Pódio da seleção com Nike em vez de Peak expõe má relação entre CBF e COB

Jogadores do Brasil receberam a medalha de ouro sem usar uniforme de patrocinador olímpico

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Tóquio

A escolha feita pelo futebol masculino de subir no pódio utilizando as camisas de jogo da Nike e sem o agasalho da delegação brasileira na cerimônia de entrega de medalhas nas Olimpíadas deixou a Peak, patrocinadora do COB (Comitê Olímpico do Brasil), furiosa e expôs a má relação entre a entidade olímpica e a CBF. ​

Segundo relatos colhidos pela Folha, executivos da empresa chinesa fizeram diversas ligações para reclamar do caso e pedir explicações. Envolveram até o governo chinês no rolo.

Os jogadores da seleção masculina de futebol do Brasil celebram a medalha de ouro conquistada nos Jogos de Tóquio
Os jogadores da seleção masculina de futebol do Brasil celebram a medalha de ouro conquistada nos Jogos de Tóquio - Thomas Peter - 7.ago.21/Reuters

A mais nova crise entre o COB e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) envolveu supostos problemas no tamanho dos agasalhos, uma força-tarefa da entidade olímpica para entregar o material e atrito entre dirigentes.

O departamento jurídico do comitê está analisando a situação para tomar as medidas que considerar cabíveis. De acordo com informações repassadas à Folha, alguns caminhos são considerados, como a desfiliação da CBF e um pedido de indenização por dano de imagem.

O COB tem contrato com a Peak válido de 2017 até 2024 para fornecimento de material esportivo aos atletas. O trato não tem dinheiro envolvido, mas evita despesas de valores consideráveis. No acordo com a empresa está estabelecido que o agasalho deverá ser utilizado nos momentos de premiação, sob pena de multa ou rescisão contratual.

O combinado foi rigorosamente cumprido em todas as 20 outras cerimônias de entregas de medalhas para brasileiros. Apenas o futebol masculino se recusou a receber o ouro olímpico com os agasalhos da empresa chinesa.

Ao vencer a Espanha e conquistar o ouro, os jogadores da seleção brasileira ocuparam o lugar mais alto do pódio com a blusa da Peak amarrada na cintura, deixando à mostra a camiseta de jogo da Nike, patrocinadora da equipe.

A confusão entre as duas entidades do esporte brasileiro teve início na manhã do dia da decisão contra os europeus. Logo cedo, a CBF chegou a confirmar para o COB que usaria a blusa da delegação durante a premiação. Em seguida, funcionários da entidade que controla o futebol do país ligaram para o comitê para relatar um problema com o tamanho dos agasalhos dos atletas.

O COB, então, providenciou a troca do material esportivo logo em seguida. No entanto, mais uma ligação foi feita pela CBF. Desta vez para apontar um erro de tamanho em três peças.

De última hora, a entidade olímpica conseguiu levar os uniformes que estavam faltando até o estádio de Yokohama, palco da final e onde a equipe de futebol já se encontrava.

Quando o imbróglio parecia resolvido, durante a prorrogação do jogo contra a Espanha o COI (Comitê Olímpico Internacional) procurou pelo COB para questionar o motivo de o futebol ter mudado de ideia sobre utilizar o agasalho da Peak na cerimônia de premiação, algo que àquela altura ninguém do comitê tinha ciência.

Nesse momento, segundo relatos, diversas ligações foram feitas para a CBF, mas sem retorno. Assim que a partida terminou, o chefe de missão do COB, Marco La Porta, foi próximo ao limite entre a arquibancada e o campo e chamou o tetracampeão Branco, coordenador das categorias de base da CBF, para conversar.

La Porta questionou o dirigente sobre os uniformes da Peak. Branco, então, utilizou a justificativa do problema de tamanho de algumas peças.

Não satisfeito com a resposta, o chefe do Time Brasil insistiu, alegando que o comitê havia cuidado de todas as demandas da CBF sobre tamanho. Foi aí que Branco respondeu ter sido uma decisão dos jogadores e deixou o chefe da missão brasileira falando sozinho, segundo pessoas que presenciaram a conversa.

Jogadores do time masculino de futebol desembarcaram nesta segunda (9) no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, e evitaram falar sobre a polêmica.

“Esses são problemas que nós atletas não podemos resolver. São as pessoas que estão acima da gente que têm como responder. Nós estamos ali para servir”, disse Daniel Alves, capitão do time bicampeão olímpico. Ele não respondeu se houve orientação da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para não usar o agasalho.

Gabriel Menino, do Palmeiras, e Claudinho, meia do Red Bull Bragantino, limitaram-se a dizer que esse é “um assunto da CBF”.

Da delegação campeã olímpica, 11 atletas desembarcaram em São Paulo.

A relação entre o COB e a CBF não é amistosa há tempos. O futebol faz parte da estrutura olímpica, mas pouco se relaciona com ela.

A entidade que comanda o futebol é a única das 35 confederações esportivas ligadas ao COB que não depende de recursos das loterias federais repassados pelo comitê. Com isso, a confederação não precisa prestar contas ao COB.

Em outubro do ano passado, o então presidente Rogério Caboclo afastado sob denúncias de ter cometido assédio moral e sexual– negou apoio para candidatura de Paulo Wanderley em sua reeleição à presidência do COB.

Na ocasião, Caboclo escolheu a chapa de oposição, encabeçada por Rafael Westrupp (presidente da Confederação Brasileira de Tênis) e Emanuel Rego (vôlei de praia) e colocou à disposição o prédio da CBF na Barra da Tijuca, próxima ao prédio do COB, para instalar um gabinete de campanha.

“Houve uma tentativa de intromissão de ex-ministro e de pessoas ligadas ao futebol, da CBF, tentando cooptar confederações. Conseguiram o voto de algumas, teve quem caiu no conto de fadas”, disse Paulo Wanderley à Folha, em outubro de 2020.

O ex-ministro é Leandro Cruz, que comandou a pasta do Esporte no governo Michel Temer. Na época do pleito, ele ocupava o cargo de secretário de Educação do Distrito Federal. Cruz articulou a candidatura de Westrupp, presidente da Confederação Brasileira de Tênis, entidade patrocinada pelo BRB (Banco de Brasília, que tem como maior acionista o governo do DF).

Procurada pela Folha, a CBF diz que não vai se pronunciar.

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