Descrição de chapéu Tóquio 2020 skate

Prata em Tóquio-2020, Pedro Barros tem pista no quintal e Florianópolis na prancha do skate

Seis vezes campeão mundial, medalhista se inspirou no pai para começar a andar de skate, aos 3 anos

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Júlia Belas Gustavo Fioratti
São Paulo

Pedro Barros, 26, tem o mapa de Florianópolis desenhado na prancha de seu skate. Uma espécie de Califórnia brasileira para a cultura skatista brasileira, tantas são as pistas públicas e privadas por ali, a cidade formou uma geração olímpica —de lá vêm também duas representantes da modalidade park nos Jogos de Tóquio, Yndiara Asp, 23, e Isadora Pacheco, 16.

Barros, aliás, construiu uma pista no quintal de casa. Agora voltará de Tóquio com uma prata, a terceira conquistada por brasileiros no esporte que neste ano deslizou pela primeira vez nas Olimpíadas.

Ele nasceu e cresceu em Rio Tavares, bairro ao sul da ilha que ganhou a primeira pista nos anos 1990. Multiplicaram-se de lá pra cá.

As estruturas estão espalhadas pela cidade e em estados variados de conservação. Ainda assim, os skatistas que se inspirarem em Barros terão mais espaços dedicados à prática. A Prefeitura já prevê a construção de seis novos equipamentos públicos.

Seis vezes campeão mundial de bowl (pista que lembra uma cumbuca), o medalhista se inspirou no pai para começar a andar de skate na região. Tinha três anos.

Aos 14, tornou-se referência na modalidade, após terminar o X-Games de Los Angeles na terceira posição. Com a conquista, veio a visibilidade para a vizinhança, já conhecida como pico do skate no país.

Rio Tavares ficou em festa com a medalha de Pedro. Rafael Bandarra, fundador da pousada Hi Adventure, construiu a primeira pista estilo bowl da região. Foi ali que nomes como Pedro Barros e suas companheiras de seleção, Yndiara e Isadora, iniciaram suas trajetórias no estilo.

“Ainda estou me recuperando”, brincou ao comentar a vitória do conterrâneo nas Olimpíadas. André, pai de Pedro, havia construído uma mini-rampa em casa, onde ele começou a praticar. Mas foi no bowl da Hi Adventure que o adolescente e futuro medalhista olímpico se destacou.

Pedro Barros comemora a conquista da medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020
Pedro Barros comemora a conquista da medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 - Mike Blake/Reuters

André Barros celebrou o filho em outra ponta da América Latina, onde agora vive. Para ver Pedro competir na final, abriu o portão de sua casa, em Miramar (Nicarágua), colocou a televisão em uma área externa e, à beira da praia, fez um churrasco.

Quem passasse estava convidado a entrar para ver o desempenho que levou o catarinense a se consagrar vice-campeão. “Foi muito legal. Moro em um vilarejo muito pequeno, uma comunidade carente, abri minha casa para o pessoal poder ficar assistindo o campeonato. Pessoas que nunca tiveram acesso a nada relacionado ao skate vieram à casa do pai de um medalhista”, diz André. “Foi muita festa, muita choradeira.”

Afirmou ainda que ele e o filho sempre tiveram, como missão, “transmitir paz, amor, expandir para o mundo esse sentimento”. Para ele, a distância geográfica com o filho, neste momento, “foi dolorida”. “Mas senti muito a companhia dele, e ele sentiu minha presença também.”

Em entrevista à Folha antes da decisão, André havia expressado a angústia de não poder estar ao lado do filho em Tóquio, por causa das medidas preventivas contra a pandemia da Covid-19, como as restrições a acompanhantes dos atletas da delegação. Desta vez, porém, o sentimento era de alívio.

“Missão cumprida. Ele estava em êxtase, saiu um caminhão das costas dele, ele sentia esse peso”, disse o pai sobre a conversa que teve com o filho por telefone logo após o skatista ter recebido os 86.14 pontos que o colocariam no pódio, atrás apenas do australiano Keegan Palmer, que registrou 95.83 pontos.

“Agora ele está livre, pode se aposentar do esporte, já conquistou tudo o que podia”, prosseguiu.

Pai e filho fazem questão de devolver o que Florianópolis lhes deu. A cerca de 2,5 km da pousada, Pedro e André construíram a própria pista no quintal de casa, a RTMF Bowl —e três vezes por semana a abrem para quem quiser praticar. Também ergueram uma rampa vertical e uma estrutura para street. Pedro já competiu nas três categorias.

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