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Breno Altman

Réplica: Quando o bom senso vai a nocaute

Boxe não constitui anomalia nem mesmo quando indicadores são a respeito de contusões

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Breno Altman

Jornalista e fundador do site Opera Mundi

O jornalista Roberto Dias, em artigo publicado no dia 31 de julho, propôs que o boxe fosse eliminado dos Jogos Olímpicos, reclamando que não pode ser tratada “como absolutamente normal a distribuição de medalhas olímpicas para pessoas agredirem outras pessoas”.

Além de resumir um dos mais tradicionais esportes de luta à “agressão entre humanos”, Dias recrutou uma declaração da Associação Médica Mundial, embora sem identificar a fonte com maior rigor, afirmando que “o boxe é qualitativamente diferente de outros esportes por causa das lesões que provoca e deveria ser banido”.

A boxeadora finlandesa Mira Potkonen durante disputa pelas quartas de final do torneio olímpico com a turca Esra Yildiz, em Tóquio
A boxeadora finlandesa Mira Potkonen durante disputa pelas quartas de final do torneio olímpico com a turca Esra Yildiz, em Tóquio - Ou Dongqu - 3.ago.21/Xinhua

Parece que o escriba, infelizmente, não se deu ao trabalho de pesquisar quais as práticas esportivas mais perigosas. Se o tivesse feito, veria que o pugilismo não constitui uma anomalia nem mesmo quando os indicadores são a respeito de contusões.

Em levantamento feito pelo Comitê Olímpico Internacional, nos jogos do Rio de Janeiro, em 2016, foi uma modalidade de ciclismo, a BMX, que teve o maior índice de lesões, afetando 38% dos inscritos. O boxe registrou um patamar de 30%, acompanhado por mountain bike e taekwondo, ambas com 24%.

Muitos são os estudos que apontam o rúgbi, o futebol americano e o hipismo, para não falar nas corridas de automóvel, como atividades tão ou mais perigosas que o boxe. Há um histórico preconceito, porém.

A crítica mais ácida tradicionalmente recai sobre um esporte majoritariamente praticado por pobres e negros, se comparado com seus rivais em periculosidade, preferidos por brancos de classe média, normalmente reunidos em clubes de elite.

Ninguém sério nega os riscos do pugilismo, é evidente. Muitas têm sido as mudanças protetivas ao longo do tempo, incluindo luvas maiores, equipamentos de proteção e regras de arbitragem. Outras alterações seriam bem-vindas e têm sido analisadas.

O que não faz sentido é banir um esporte tão enraizado na história e na cultura dos povos, ainda mais quando são poupadas desse rancor modalidades de elite que nada ficam a dever em violência e perigo.

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